Bebês e crianças muito pequenas, apesar do pouco –ou nenhum- domínio do idioma falado, são excelentes ouvintes de histórias e livros. A palavra falada é extremamente atraente para essa faixa etária, mesmo se e quando os menores não compreendem racionalmente seu sentido.
Para muito além dos livros-brinquedo, cartonados, de banho, pop-ups, os bebês se interessam pela sonoridade das palavras, pela musicalidade delas e, claro, pelas imagens e pela voz dos adultos que farão a leitura.
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("Conte uma história, Estela" / Texto e ilustrações Marie-Louise Gay)[/caption]
Além disso, ler para crianças desde cedo facilita a fala, amplia o vocabulário e a consequente expressão das emoções, predispõe a um amadurecimento emocional mais saudável e ainda aproxima pais e filhos. “Não dá para ler para alguém e, ao mesmo tempo, manipular tablets e celulares. É um momento em que as crianças têm os pais totalmente presentes”, lembra Denise Guilherme, fundadora de
A Taba, uma comunidade virtual de leitura de literatura para crianças e clube de assinaturas de livros.
Se os tradicionais livros-brinquedos não são a única opção, de que tipo de literatura infantil os bebês e crianças bem pequenas gostam? E como selecionar boas opções dentre tantas à disposição? Selecionamos cinco dicas que podem ajudar pais e adultos nessa (deliciosa) experiência de escolher e ler literatura para bebês e crianças pequenas:
1- Escolha pelas qualidades literárias, não pela faixa etária: livros com qualidades estéticas funcionam bem para qualquer idade e, além disso, duram. Ou seja, são tão instigantes em termos do uso da palavra, das imagens e dos temas e conteúdos que, a cada nova leitura e a depender da idade do leitor, suscitam novas interpretações; revelam outras camadas. Mesmo que um bebê não compreenda racionalmente contextos e palavras, ele com certeza aproveitará o contato com os pais, o uso literário da linguagem oral, a sonoridade do idioma e será instigado por um estética mais complexa que a oferecida pelos livros “para bebês”.
Sobre qualidade estética e literária de livros para crianças, não deixe de ler nossas 5 dicas de... Como montar a primeira biblioteca.
2- Ofereça poesia, rimas, sonoridades: Poesia, parlendas, cantigas, textos que exploram a repetição e o jogo de palavras (como a tradicional música da velha a fiar) são experiências literárias na medida para bebês e crianças bem pequenas pela sonoridade e pela brincadeira com o idioma. “O bebê tem sede de ritmos. Ele gosta daquilo que acontece regularmente: a presença e a ausência da mãe, o ritmo das refeições, a alternância do dia e da noite... Ele adora os refrões, as cantigas de ninar, parlendas e brincadeiras de linguagem”. O trecho foi extraído do livro “A pequena história dos bebês e dos livros”, dos pesquisadores Evélio Cabrejo-Parra e Marie Bonnafé, da francesa
Actions Culturelles Contre les Exclusions et les Ségrégations, publicado no Brasil em 2013 por ocasião do
“Conversas ao Pé da Página III”, um evento realizado pela revista
“Emilia”, de teoria sobre literatura infantil, e pelo SESC.
3- Escolha livros com os quais os bebês possam se identificar: Personagens clássicos, eternos, são aqueles com os quais as crianças se identificam. “Nos livros, a criança encontra aliados”, pontua o texto do “A pequena história dos bebês e dos livros”. Por intermédio dessa relação, a criança brinca com a realidade, com seus desejos, com os limites, com o que é “de verdade” e “de mentira”, como faz ou fará nas brincadeiras simbólicas, de faz de conta. É importante oferecer um acervo rico e múltiplo nesses personagens que, de algum modo, favorecem a criação dessa identificação.
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("O jornal" / Texto e ilustrações: Patricia Auerbach)[/caption]
4- Deixe que andem se movimentem: A mesma obra citada na dica anterior dá conta de que os bebês “leem com o corpo”, ou seja, não ficam necessariamente parados ouvindo. Têm uma atenção muito focada, mas mais difusa e mais corporal. O que não quer dizer que, ao sair andando por aí enquanto o adulto lê, não estejam gostando ou prestando atenção. Portanto, siga a leitura, procure encontrar o ritmo que mais agrada ao pequeno ouvinte e deixe que ele manifeste o prazer da leitura movimentando-se, com o corpo.
5-Deixe pegar e “ver com as mãos”: O que nos leva à outra dica fundamental. Crianças pequenas “veem”, sim, com as mãos. Isso quer dizer que elas precisam sentir, pelo tato, os objetos pelos quais têm interesse, pois sua compreensão não acontece apenas no plano racional. Além disso, é preciso deixar os livros à mão dos pequenos para que possam familiarizar-se com o livro e aprender, inclusive, a cuidar dele. Livros mais raros, mais sensíveis ou mais caros podem ficar disponíveis apenas para a leitura mediada pelo adulto, por exemplo. Mas é importante que a maioria do acervo esteja à mão do bebê, tomando-se o cuidado de verificar se não oferecem algum risco (como partes que possam se soltar). “Pode ser que algum livro se estrague, mas é o preço a pagar para formar um leitor e ensiná-lo a cuidar do objeto”, diz Denise, de
A Taba.