"Bruxa, bruxa, venha à minha festa": o medo pode ser divertido

12/12/2017
[caption id="attachment_2723" align="aligncenter" width="415"] ("Bruxa, bruxa, venha à minha festa" / Texto: Arden Druce; Ilustrações: Pat Ludlow; Tradução: Gilda de Aquino).[/caption] Um adulto que olhe para as ilustrações grandes, "estouradas" em páginas duplas, figurativas, reproduzindo detalhes nada bonitos -e muitas vezes francamente assustadores- de personagens que metem medo talvez se assuste com Bruxa, Bruxa, venha à minha festa. As crianças, ao contrário, sentem-se fascinadas pela história e pelas ilustras, absolutamente indispensáveis à narrativa do começo ao fim desse que é um dos livros de mais sucesso entre os pequenos leitores. Lidar com personagens e situações assustadoras na fantasia, no aconchego do colo e do afeto dos adultos,  é um modo de as crianças "viverem" simbolicamente aquilo que as assusta e, assim, elaborarem emoções complexas e desestabilizadoras. Por isso as histórias de terror e perigo e os seres encantados são unanimidades entre elas, quase irresistíveis. Nesse Bruxa, Bruxa, o que não falta são criaturas horripilantes: da bruxa ao fantasma, passando por pirata, lobo, tubarão, coruja. Até o unicórnio, aqui, não fica nada fofo. Repetição e circularidade Além do tema, o recurso narrativo também fascina os menores. A repetição atrai pela possibilidade de identificar padrões e antecipar a história. Em Bruxa, Bruxa, todas a frases começam da mesma forma, o que se altera é apenas a personagem convidada. A narrativa se desenrola por um diálogo em que há sempre um convite igual e uma resposta que também não muda. A circularidade -a história termina no ponto que começa- é outro recurso estilístico lúdico, dessa que é uma obra repleta de um brincar sagaz e envolvente. Elaborando papéis Ambos os recursos de estilo, mas principalmente a repetição, permitem que adulto e criança brinquem de interpretar papéis, pois há, em toda página, um diálogo envolvendo duas personagens, que podem ganhar voz ora pela criança ora pelo adulto.

"Bruxa, bruxa, por favor, venha à minha festa.

Obrigada, irei sim. Se você convidar o gato.

Gato, gato, por favor, venha à minha festa.

Obrigado, irei sim Se você convidar o espantalho".

  Esse é um recurso sugerido no livro, inclusive, e que funciona muito bem tanto em casa, na mediação com os pais, quanto na escola. Ilustração revelação Complementares à narrativa, as ilustrações são o veículo principal do medo no livro, pois evidenciam as características assustadoras das criaturas convidadas. A bruxa ganha contornos horríveis, o gato torna-se assustadoramente cruel e selvagem, o unicórnio é tudo menos fofinho. Sem as imagens, o efeito narrativo certamente não seria tão potente nem dialogaria tão bem com os medos infantis. Além disso, é da ilustra que, na última página, surge a surpresa redentora do livro, a imagem que tranquiliza e garante às crianças que era "só brincadeirinha". Assim, os pequenos colocam seus medos no devido lugar: um faz-de-conta divertido e inofensivo. Outras vozes Bruxa, Bruxa, especialmente por seu caráter tão fascinante com as crianças, ganhou diversas resenhas. O Blog da Brinque selecionou duas delas e recomenda a leitura de ambas: Essa aqui destaca um pouco o percurso da autora, Arden Druce, que foi bibliotecária e professora. E também trata das características mais cativantes da narrativa. Sua autora, Denise Guilherme, é especialista no tema e consultora de diversas escolas. Fundou  A Taba, uma comunidade de leitores em rede com clube de assinaturas especializado em livros infantis. E essa outra, de Daisy Carias, mãe de dois meninos, jornalista, apaixonada por literatura, que escreve sobre suas experiências leitoras com os seus pequenos no blogue (e canal do YouTube) A cigarra e a formiga, traz a experiência leitora do filho de um modo sensível e que pode inspirar mais famílias. Brinque-Book conta histórias Bruxa, bruxa, venha à minha festa é uma das mais de 50 histórias narradas por Marina Bastos no canal do YouTube do Grupo Brinque-Book. O Blog da Brinque trouxe essa contação, que pode ser vista aqui embaixo ou direto no canal. [embed]https://youtu.be/Eh1h6azqmIw[/embed]
Bruxa, bruxa, venha à minha festa Arden Druce (Texto); Pat Ludlow (ilustrações). Gilda de Aquino (tradução). Editora Brinque-Book Indicação etária: a partir de 2 anos
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