Que tipo de livros ler para bebês e crianças bem pequenas é uma dúvida comum. Isso porque pode parecer que eles não entendem o que lemos, o que costuma nos levar a simplificar demais as opções, ignorar critérios estéticos para texto e ilustrações e concluir que os muito pequenos só vão se interessar se o livro for do tipo que pisca, faz barulho ou pode ser mordido, apertado, tensionado, molhado.
[caption id="attachment_3615" align="aligncenter" width="415"] "Eu" / Janaina Tokitaka (texto e ilustrações)[/caption]Nas prateleiras de livrarias, inclusive, a seleção de obras destinada a bebês geralmente é composta por muitos livros que se encaixam nesses padrões. Nenhum problema em oferecer alguns desses brinquedos para os pequenos. Mas a leitura para essa faixa etária não precisa se restringir a essas opções. Pelo contrário.
No post de estreia do 5 dicas de..., do Blog da Brinque, Denise Guilherme, fundadora de A Taba, Daisy Carias, do site A Cigarra e a Formiga e Cássia Bittens, que foi jurada do Prêmio Jabuti e criou o projeto Literatura de Berço, explicaram que bebês interessam-se pelo som e pela musicalidade das palavras, pela repetição, por jogos de acumulação (como a música da velha a fiar), por textos divertidos, que o adulto consiga ler com prazer e por aquilo que podem antever, compreendendo padrões. Além disso, são muito mais capazes esteticamente do que supomos e conseguem fruir boas obras, mesmo se não compreenderem completamente o sentido racional. Ou seja, não precisamos oferecer a eles apenas livros com conteúdo superficial e cores pastéis.
Fizemos aqui, então, uma seleção de obras indicadas para os bem pequenos que fogem do senso comum e podem proporcionar experiências ricas, interessantes e duradouras, daquelas obras que a crianças vão querer reler muitas vezes, mesmo crescendo, pois oferecem sentidos múltiplos e muitas camadas.
1) Eu, de Janaina Tokitaka (texto e ilustrações): o que acontece se eu colocar os óculos do meu avô? e se eu usar a bicicleta do irmão? Ou se eu ler os livros do meu pai? Com rimas e um ritmo gostoso de ler em voz alta, esse livro narra as brincadeiras de uma criança com os objetos prosaicos que a cercam, igualzinho a gente fazia ao vestir as roupas da mãe ou sentar na poltrona preferida daquele tio sisudo. É daqueles que arrancam sorrisos dos mais velhos -pela lembrança- e dos mais novos -que se reconhecem no exercício delicioso de ser muitos "eus". A repetição na forma de narrar as cenas também agrada os menores. As ilustrações em aquarela da talentosa Tokitaka complementam a obra.
-MAIS:
Janaina acaba de brincar com a gente no Brinque-Book Brinca, aquela entrevista divertida em que fazemos perguntas engraçadinhas -sempre as mesmas- a autores, ilustradores e artistas da literatura infantil. Espie aqui, ó.
2-) O nascimento da lua, de Coby Hol (texto e ilustrações): fábula moderna, narra a história de animais que, com medo da noite, pediram ao sol que brilhasse sem parar. Ele, então, lhes deu a lua para iluminar. Todas as ilustras da obra da artista holandesa são feitas com colagem, e os adultos leitores podem explorar muito o tema, que oferece uma explicação poética para fenômenos naturais, sempre interessantes para os pequenos. Premiado com o Selo Acervo Básico, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ).
3) Gildo, de Silvana Rando (texto e ilustrações): o conhecido elefante é tão famoso que quase não precisa ser apresentado. Corajoso -como todas as crianças pequenas gostam de sentir-se-, Gildo enfrenta montanha-russa, filmes de terror, apresentações em público e até a fralda suja da irmã. Mas -também como todas as crianças- Gildo tem um medo -medo, não, pavor!. De quê? De balões de festa. Engraçado, o livro dialoga na medida com um sentimento velho conhecido de bebês e crianças. As ilustras irreverentes de Rando completam a narrativa e o humor da obra.
4) Macaco Danado, de Julia Donaldson (texto) e Axel Scheffler (ilustrações): a dupla premiada é conhecida por outros sucessos, como O Grúfalo e Carona na vassoura (que, de tão bacana, virou um curta indicado ao Oscar de 2014). Nesse livro, mantém as qualidades pelas quais ambos autores são conhecidos: humor, repetições bem combinadas com surpresas engraçadas e as ilustras incríveis do Scheffler. O gancho da obra é um macaquinho que se perde da mãe e encontra numa borboleta oferta de ajuda. Mas cada vez que ele descreve uma característica da mãe, a borboleta imagina um animal completamente diferente e o leva a um bicho que está longe de ser uma macaca. Assim, vão fazendo um passeio pela floresta.
5) O cachorro perdido, de Guido van Genechten (texto e ilustrações): o belga é bem conhecido por aqui, principalmente por sua obra justamente para bebês e crianças pequenas. Autor do sucesso O que tem dentro da sua fralda?, assina também livros como Apertado, O que é o que é e a série Qual é diferente?, todos editados pela Brinque-Book. Neste O cachorro perdido, Guido combina seu inconfundível traço com uma história de repetição (na forma) e acumulação, bem ao gosto dos pequenos. Além disso, o desfecho é surpreendente e engraçado, e a personagem -um cachorro- desloca a perspectiva narrativa: tudo que o leitor vê, na maior parte do livro, são pernas e pés e, a partir disso, tem de juntar as pistas.
-MAIS AINDA?
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