Como ensinar sustentabilidade às crianças?

15/03/2018

 

“Sociedade sustentável: aquela que satisfaz suas necessidades sem colocar em perigo as perspectivas das gerações futuras.” A definição, cunhada por Lester Brown, pensador ambiental da década de 80, é utilizada ainda hoje quando pensamos no tema, que chega a todas as esferas do nosso cotidiano. Não é diferente na educação: como transmitir esses valores às crianças é o que muitos educadores têm refletido Brasil afora.

 

Ilustração Marcelo Tolentino

 

Faz coro com esse pensamento a educadora Mariana Breim, diretora do Instituto Toca, espaço educativo localizado em uma fazenda de produção de alimentos em sistemas agroecológicos. Ali, tudo é realizado de modo a pensar o sustentável: as plantações imitam a floresta, com a regeneração do solo. A iniciativa traz essa abordagem às crianças na Escola Municipal Professora Dulce de Faria Martins Migliori, no projeto Escola Dulce. A abordagem do tema é feita por três eixos principais: a valorização da cultura da infância, o desenvolvimento do ser integral e a alfabetização ecológica, esta última desenvolvida por Fritjof Capra e David Orr também nos idos dos 80.

 

 

De acordo com a educadora, a alfabetização ecológica está relacionada a “planejar uma comunidade de tal maneira que suas atividades (modos de vida, negócios, economia, estruturas físicas e tecnologias) não interfiram na capacidade inerente da natureza para sustentar a vida”. Qualquer excesso colocaria em risco a sobrevivência das gerações futuras. Para que essa prática obtenha sucesso, entretanto, é preciso conhecer de perto o funcionamento da natureza, seus ecossistemas, a teia da vida.

Não há uma fórmula definida para colocar tudo isso em prática. O que sabemos é que, para garantir a vida, não basta mais a ideia de “sustentar no tempo”, criada na década de 80. Temos de recuperar a biodiversidade que já foi perdida, gerar impacto positivo. Como sugestão, Mariana defende que as escolas devem parar de tratar temas como lixo, água e energia como tópicos separados. A sustentabilidade deve ser pensada de forma sistêmica, com relações e conexões entre si. “Considerando que não menos do que nossas vidas é o que está em jogo a longo prazo, o que poderia, em ordem de prioridade, ocupar maior lugar de interesse entre educadores do que a alfabetização ecológica de seus alunos?”, questiona.

Pensar e viver dessa forma não impacta positivamente apenas o meio ambiente – é também benéfico para a criança envolvida. Em uma sociedade em que muitas realidades são de infâncias em confinamento, apartadas dos espaços verdes e áreas abertas, há a possibilidade de reencontro com a sua natureza interior. Segundo a diretora do Instituto Toca, a criança “estreita seu vínculo afetivo com os sistemas naturais, reconecta-se espiritualmente e equilibra suas emoções, aprende ciência, desenvolve habilidades motoras, entende a importância do alimento como rito, como reconexão, como nutrição do corpo e da alma, só para citar algumas das conexões possíveis”, o que os educadores chamam de desenvolvimento integral.

Uma educação sustentável ainda vai além: contrapõe uma cultura materialista, em que predomina o consumo, o imediatismo, o descarte dos objetos. Diria Capra: “A questão não é ser eficiente, mas ser sustentável. O que conta é a qualidade, não a quantidade.” A necessidade é de criar uma nova lógica que contrarie a ideia de que retorno financeiro equivale ao sucesso.

E como isso deveria ser aplicado nas escolas? Não há uma solução, há caminhos: a inspiração em sistemas naturais leva muitos projetos, inclusive o próprio Toca, a transformar a escola em uma comunidade sustentável. O instituto inspirou-se nas pesquisas do Centro de Alfabetização Ecológica em Berkeley, na Califórnia, e em princípios como a permacultura, a antroposofia, a abordagem pedagógica de Reggio Emilia, a cultura popular. Pretende servir de inspiração para muitos outros. A grande referência, entretanto, é muito mais grandiosa: “para além dessas referências teóricas, nossa maior mestra é mesmo a Natureza, sendo sua observação sistemática e cuidadosa nossa grande e principal fonte de inspiração”, finaliza Breim.

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