Livros que celebram todas as formas de ser e de amar

21/06/2018

 

Por Antonio Castro

Ari tem quinze anos e não sabe muito bem o que quer da vida, mas acabou se apaixonando por seu melhor amigo. Dylan nunca foi bom em falar com garotas, até conhecer uma diferente de todas que já conheceu — inclusive porque ela é uma menina transgênera. Natasha tem um canal no Youtube com a melhor amiga e está animada para conhecer o garoto de quem está a fim, mas não sabe como contar a ele que é assexual. Chuvisco está preocupado com os rumos que o país está tomando, e tem medo tanto por ele quanto por seus amigos.

Os personagens dessas histórias são completamente diferentes entre si. Se fossem reais, talvez nem fossem amigos. Mas todos têm algo em comum: protagonizam histórias que muitas vezes acabam ficando à margem por não seguirem determinados padrões. Para adolescentes que, como eles, estão em busca de entender a própria identidade ou, simplesmente, procuram livros que os acolham e representem, esses personagens têm um valor sem tamanho.

Durante o mês de junho, comemora-se o orgulho LGBT — o momento (tão raro) que pessoas lésbicas, gays, trans e muitos outros encontram de se reafirmar em frente à sociedade. Imagino o que se passa na cabeça de um adolescente que ainda não sabe muito bem o que sente, mas já tem certeza de que não é como a maioria das pessoas. Talvez ele goste de meninos quando lhe dizem que deveria gostar de meninas, ou o contrário. Talvez ela não se sinta bem no próprio corpo. Há muitos “talvez”, mas uma certeza: a literatura juvenil tem o papel importante de ser o espelho onde esses jovens possam encontrar seu próprio reflexo e se sentir representados. E só não concorda com isso quem já está contemplado por histórias padrões.

Na Seguinte, o selo juvenil do Grupo Companhia das Letras, tão próximo da Companhia das Letrinhas, alguns livros procuram cumprir exatamente este papel, e aqui vai uma pequena listinha deles. Quem sabe algum integre a sua próxima leitura — ou se torne um presente para alguém que precise se encontrar com esses personagens.

 

 

Um dos livros mais queridos do nosso catálogo é Aristóteles e Dante descobrem os segredos do Universo. Ele conta a história de dois jovens bem diferentes: Aristóteles, um garoto de quinze anos tímido e introspectivo, e o alegre e confiante Dante. Os dois logo desenvolvem uma amizade que, aos pouquinhos, vai se tornando algo maior — mas entender os próprios sentimentos em uma fase tão conturbada quanto a adolescência pode ser bem mais difícil do que parece.

 

 

Em Fera, conhecemos Dylan, um garoto completamente fora dos padrões. Num grupo de apoio para jovens, ele conhece Jamie, a garota perfeita — ela é linda, inteligente e engraçada. O mais impressionante de tudo é que ela não parece dar a mínima para o fato de ele ter uma aparência tão diferente. É impossível não se apaixonar, certo? Só que Dylan ainda não sabe que Jamie é trans. Agora, para viver esse amor, ele vai ter que desconstruir os próprios preconceitos — e enfrentar toda a sua escola.

 

 

Em Tash e Tolstói, a protagonista Tash é completamente apaixonada pelo escritor russo. Ela e a melhor amiga têm um canal no YouTube onde gravam uma websérie chamada Famílias infelizes, uma adaptação moderna de Anna Kariênina. Quando o canal viraliza da noite para o dia, a súbita fama rende milhares de seguidores — e, para surpresa de todos, uma indicação à Tuba Dourada, o Oscar das webséries. Neste evento, Tash terá a chance de encontrar seu crush de longa data, mas ela não sabe como contar a ele que é assexual, ou seja, se interessa romanticamente por garotos, mas não sente atração sexual por eles.

 

 

A lógica inexplicável da minha vida é o segundo livro de Benjamin Alire Sáenz e conta a história de Sal, um garoto de dezessete anos que tem que lidar com as diversas mudanças que a proximidade do fim do ensino médio traz. Além disso, a iminente morte da avó e o fato de seu pai estar se reaproximando de um ex-namorado deixam a vida de Sal de cabeça para baixo. Mas logo ele vai descobrir que a vida às vezes não segue nenhuma lógica aparente: e é justamente isso que a torna incrível.

 

 

E também temos livros brasileiros que tratam dessa temática no catálogo. Em Ninguém nasce herói, de Eric Novello, Chuvisco e seus amigos precisam lutar contra o Escolhido, um fundamentalista religioso que persegue minorias por todo o país. Há personagens gay, lésbica, bi, trans e da área cinza retratados no livro — todos tentando viver, amar e resistir em um Brasil cada dia mais sombrio e opressivo.

 

 

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