As crônicas científicas de Fernando Reinach

11/09/2018

 

Uma folha de lótus não se molha nem nas águas mais turvas. Sua superfície é formada por microcavidades que fazem com que permaneça seca. O contrário acontece com a planta carnívora nepelentes, que captura os insetos que pousam em suas folhas de superfície lisa. Ela funciona como uma espécie de “escorregador”, que faz com que eles caiam para o interior da planta, onde são, por fim, devorados.

Descobertas como essas inspiram a escrita de Fernando Reinach, que há mais de dez anos dedica o seu tempo à escrita de “crônicas científicas” para o jornal O Estado de São Paulo. Cada uma se relaciona com o nosso cotidiano de uma forma diferente. A investigação do escorregador de insetos e da superfície da flor de lótus, por exemplo, levou os cientistas a desenvolverem o Teflon, material usado nas cozinhas.

 

 

Um dos objetivos de Reinach é, sem dúvida, trazer a investigação científica para o cotidiano dos leitores, missão que já lhe rendeu dois livros de crônicas: A longa marcha dos grilos canibais (2010) e seu mais recente título, Folha de lótus, escorregador de mosquito, lançado em 2018. Biólogo e um dos coordenadores do primeiro projeto genoma brasileiro, ele acredita na ciência acessível, que aproxime as pessoas, atice a sua curiosidade e explique não apenas os resultados dos experimentos, mas também como eles são feitos, informação escassa na imprensa brasileira.

Nas escolas, defende que a descoberta científica seja trabalhada dessa mesma forma, não apenas mostrando o seu resultado, mas revelando o passo a passo do cientista. Para ele, os experimentos e a parte de chegar às conclusões são o que há de mais interessante na ciência. Suas crônicas, assim, serviriam como um “aperitivo” para os alunos. “Apesar de muitas escolas explicarem método científico, quando chegam no conteúdo propriamente dito, por falta de tempo, os professores geralmente se atêm às conclusões. Dessa maneira o que os alunos aprenderam sobre o método científico fica muito distante da matéria ensinada no dia a dia. O ideal é que esses dois aspectos fossem abordados de maneira conjunta.”

É o que ele faz em seus textos. As informações vêm de algumas das mais renomadas revistas científicas do mundo, como a Nature e a Science. Com leituras intensas, toda semana o biólogo seleciona a descoberta que considera mais interessante do mundo científico e apresenta o achado de maneira clara e acessível. A primeira regra de suas crônicas: nada de termos científicos, que limitem muito o entendimento de seus leitores. Para falar com o público geral, busca assuntos que possam ser “traduzidos” para uma linguagem coloquial, até mesmo quando explica os experimentos e os resultados.

Os temas percorrem toda a diversidade da biologia – plantas, insetos, pássaros, macacos, homo sapiens, mente e sexo. A motivação de seus textos vão desde o mistério das gotas de orvalho, que jamais chegam a molhar os fios das teias de aranha, até a razão de perdemos memórias da primeira infância. Nas páginas de seus livros, lemos sobre um corvo que usa ferramentas como ganchos ou descobrimos que os macacos também têm senso de justiça e revoltam-se quando veem outro animal receber uma recompensa diferente pela mesma tarefa executada por ele.

Com a preocupação de contar sempre o processo de investigação e também revelar a descoberta desses resultados, o autor tenta nos lembrar que a ciência é feita por seres humanos, pessoas como as que leem as suas crônicas. O que move a humanidade nos avanços científicos é a curiosidade de experimentar. “É uma tentativa de desmistificar um pouco a ideia que a ciência é algo distante e difícil de ser praticado”, conclui.

 

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