Oficinas para criar livros a muitas mãos

19/09/2018

 

Papel colorido, tesoura, cola e lápis grafite. Isso é o bastante para o que é proposto pelas artistas Mirella Marino e Silvia Amstalden na oficina Narrativas Coletivas, que acontece durante todo o mês de setembro no Sesc Belenzinho, em São Paulo, sempre aos fins de semana. Aos participantes é oferecido um livro em formato sanfona colado. Dali tudo pode surgir, já que o convite é que a criação artística seja feita de forma coletiva, um desenhando sobre a criação do outro.

 

 

Essa técnica proposta nos encontros é a que as ilustradoras usaram na concepção de seus livros 2 cores (Renata Bueno e Mirella Marino) e O que eu posso ser? (Mariana Zanetti e Silvia Amstalden). No caso de 2 cores, a ideia para fazer com que estilos tão diferentes como os de Mirella e Renata conversassem entre si era de inventar um jogo. Escolheram papéis de seda das cores vermelha e preta e tinta nanquim, e cada uma completava o desenho da outra. Ao final, perceberam que muitas das figuras eram duplas, e Renata escreveu um texto para as imagens do livro.

Já Mariana Zanetti e Silvia Amstalden começaram pensando em um tema em comum no livro O que eu posso ser?. Trabalharam com formas que se repetem no mundo. Daí o desenho inicial de quatro formas, cada uma de uma cor diferente, e a experimentação. “A brincadeira começava assim: cada uma colava uma forma no papel e a outra continuava o desenho. Essa troca acontecia algumas vezes, até as duas considerarem o desenho acabado. Às vezes, a gente decidia junto que rumo o desenho iria tomar. Foi uma diversão!”

 

 

Afinal, começar um desenho a partir da arte de outra pessoa é diferente de começar um desenho em uma folha em branco. “Quando o trabalho já vem com um registro, nos parece que há mais liberdade na criação, é como se fosse uma brincadeira. Mas é preciso aceitar a intervenção do outro, isso nos ensina a lidar com um certo desapego, já que nem sempre nossas expectativas em relação ao desdobramento do trabalho serão correspondidas.” Elas explicam que a intervenção do outro pode gerar uma surpresa naquilo imaginado originalmente, o que pode ser um gatilho para diferentes ideias, mas que também pode gerar frustração. É um processo que ensina o diálogo.

Esses são apenas exemplos do que pode acontecer nessas verdadeiras criações coletivas, que propiciam resultados surpreendentes. O que Mirella e Silvia observaram é que a arte final não se parece com o trabalho de nenhum dos dois participantes da atividade, mas com uma mistura, “criando algo que nos surpreende e amplia o repertório de cada um, tanto em relação ao tema quanto à linguagem”.

“Essa experiência mais livre e o aprendizado com o outro é o que levamos para os trabalhos futuros”, afirmam, sobre as experiências vividas nas oficinas. É um momento em que os participantes saem de sua zona de conforto e, em vez de utilizar apenas o lápis ou a canetinha para desenhar, são convidados a tentar outras técnicas, como a colagem. “A impossibilidade de fazer aquilo que estamos acostumados nos leva a  resultados muito interessantes e nos abre novos caminhos. Aprendemos muito com as soluções que cada um escolhe para resolver seu próprio desenho.”

 

 

Esse diálogo exercitado nas oficinas também possibilita um olhar diferente para formas e objetos, o que compõe boa parte dos trabalhos das artistas em 2 cores e O que eu posso ser?. É com o contato com o outro que esse olhar é ampliado e que o formato de um pente carimbado em um papel pode se tornar uma boca cheia de dentes ou uma cerca dividindo a paisagem.  “Porque existiu aquele outro, aquela outra ideia, que partiu de outra pessoa, aquele traço estranho executado por alguém e isso tudo se somou a mim, temos esse resultado que não é nem de um nem do outro. O resultado é uma soma.”

 

 

Anote na agenda

Oficina Narrativas Coletivas

Onde: Sesc Belenzinho ( r. Padre Adelino, 1000, Belenzinho)

Quando: até 30/9, aos sábados e domingos, das 11h às 13h e das 14h30 às 16h30

Quanto: grátis

 

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