Se as crianças são capazes de fantasiar muitos mundos, imagine só quando vivem rodeadas de livros, envoltas em muitas narrativas que acabam de brotar. É assim o cotidiano de muitos meninos e meninas cujos pais são escritores e ilustradores – e, também, ávidos leitores. Mas qual são suas preferências literárias e seus hábitos de leitura?
Ilustração Marcelo Tolentino
A menina Rosa, de apenas dois anos, é uma dessas crianças. A filha de Janaina Tokitaka, uma das autoras de O mercado dos Goblins, já manifesta as suas leituras favoritas, que inclui a literatura japonesa. Entre suas obras preferidas está o livro “da vovó costureira”, uma história japonesa de uma costureira que faz pequenos reparos para alguns animais da floresta. A pequena é apaixonada pelo texto, mas também pelas ilustrações. Entre os livros da mãe, o destaque é para a obra recém-lançada Vovó veio do Japão, ou como diria Rosa, "o [livro] da sopa".
Já José, de sete anos, filho de Blandina Franco e José Carlos Lollo, indica favoritismo para a série Capitão Cueca, lembrando logo do seu famoso "trá-lá-láaaaa", música cantada pelo super-herói cuequento. Ele conta que já leu os quatro primeiros volumes da série, mas acha que o segundo volume, "o das privadas", é o melhor de todos. O interesse também o levou a outra série escrita por Dav Pilkey, o Homem-Cão, em que ele lembra: "Já li o um, o dois, agora só falta ler o três".
Os pais incentivam o menino em suas leituras. A mãe, Blandina, lê para ele à noite outra obra que está entre as suas favoritas: "a jornada de Edward, o coelho" (em referência ao livro A extraordinária jornada de Edward Tulane, de Kate di Camillo). José gosta também dos livros que são fruto da parceria dos pais, como é o caso da série Pum (com destaque para Eu deixei o pum escapar, aquele em "que ele ganhou um monte de filhotes").
Já as histórias preferidas de Matias, de cinco anos, filho do roteirista e escritor José Roberto Torero, são as referentes ao Egito Antigo. A melhor de todas, para o garoto, é a da descoberta da tumba de Tutancâmon, faraó que faleceu ainda na adolescência. Mas ele também gosta dos relatos que permeiam o rio Nilo. Esse tamanho fascínio, inclusive, rendeu o tema da sua última festa de aniversário.
Entre suas leituras atuais está o mais novo livro do pai, Contos de sacisas, escrito em coautoria com Marcus Aurelius Pimenta. Animado, ele conta que gosta ainda mais do personagem do que o próprio pai. E não são poucas as histórias que o pequeno leitor acompanha – tem uma estante invejável, com títulos autografados por diversos autores, como contou a sua mãe, Rita. São tantos livros que ele diz que consegue ler até três livros em uma só sentada.
Outra que adora uma boa leitura é Iris, de 11 anos. Filha do escritor Ilan Brenman, ela conta que desde pequena ouve histórias narradas por seu pai antes de dormir. Algumas delas, inclusive, nem tinham ainda virado livro e por isso ela dava as suas sugestões – cortar algum trecho, melhorar alguma parte confusa. Dentre as histórias saídas da imaginação paterna, nutre um afeto especial por Pai, não fui eu!, baseada em um acontecimento vivido pela garota. Hoje, prefere as narrativas de suspense, como a série de livros Desventuras em série, de Lemony Snicket.
Quem também gosta desse tipo de livro é Rafael, de dez anos. O filho da escritora Patricia Auerbach tem um interesse especial pelas coleções, como a dos livros escritos por Agatha Christie, "porque, quando a coleção é boa, dá para ficar muito tempo aproveitando, e você se envolve muito com os personagens e com o enredo". Ele aproveita o tempo que tem antes de dormir para mergulhar nessas histórias.
Essa intimidade com as coleções é “antiga”, sendo a sua preferida as aventuras de Tintim, escritas pelo belga Hergé. "Acho que é a coleção de que eu mais gostei na minha vida, foi quando comecei a gostar de ler", lembra. Outras bem famosas acompanham a sua vivência leitora. A última que leu, por exemplo, foi a famosa série de livros Harry Potter, da britânica J. K. Rowling. Da safra da mãe, gosta de Histórias de antigamente. "É muito legal falar do que aconteceu com a família, e o jeito como ela conta é divertido.”