Esqueça o "era uma vez". "A queda dos Moais", o novo livro de Patricia Auerbach, Blandina Franco e José Carlos Lollo, lançamento da
Escarlate, começa com um folheto de viagem trazendo uma promoção para a Ilha de Páscoa.
Em seguida, sem mais explicações, o leitor acompanha um diálogo em HQ e, na página seguinte, lendo um texto de jornal, descobre o que é e onde fica a ilha. Assim, por fragmentos, ele é levado a Joaquim e sua família, que decidem viajar para um lugar misterioso, envolvido por ainda mais mistério: as gigantescas cabeças misteriosamente construídas há séculos no local -os Moais- caíram de cara na areia, sem mais nem menos.
Sem narrador, a história é toda construída por cartas, mensagens em celular, excertos de jornal, e-mails, murais, placas de avisos, fotos. Intertextual, muito bem humorada -com tiragens cômicas como as que aparecem aqui nesta entrevista-, inovadora na forma e com destaque para o papel das ilustrações de Lollo -que contam parte significativa da história-, a obra a seis mãos é uma viagem -no melhor sentido- às possibilidades narrativas.
Não à toa, com esse trio assinando o título. Todos premiados e dos mais importantes da literatura brasileira para crianças. Patricia Auerbach foi finalista do Jabuti e é autora de livros como
O jornal,
O lenço,
A garrafa e
Já sei ler, todos pela
Brinque-Book.
Então, o Lollo falou, meio brincando: "vamos derrubar os Moais da Ilha de Páscoa!" E assim foi
Já o casal Blandina e Lollo estreiam na
Brinque-Book com esse livro e foram duas vezes finalistas do Jabuti, além de terem ganhado uma menção honrosa no Premio Bologna Ragazzi, da Feira Internacional do Livro Infantil de Bolonha. São autores de
A Raiva (Pequena Zahar),
Ernesto e
Quem soltou o pum? (ambos pela Companhia das Letrinhas).
Em nome do trio, Patricia concedeu a deliciosa entrevista abaixo ao
Blog da Brinque.
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"A queda dos Moais" / Blandina Franco e Patricia Auerbach (texto) e José Carlos Lollo (ilustrações)[/caption]
Brinque-Book: Como surgiu o argumento para a A queda dos Moais? Como foi que a Ilha de Páscoa e os moais surgiram como tema?
Patricia Auerbach: Nós estávamos almoçando os três [Patricia, Blandina e Lollo, os autores], pensando no formato de um livro que tivesse todos os gêneros textuais. Definimos o formato, mas ainda faltava um assunto. Então, o Lollo falou, meio brincando: "vamos derrubar os Moais da Ilha de Páscoa!" E assim foi. O que era brincadeira, virou livro.
Nós partimos da vontade de usar vários gêneros textuais, mas queríamos fugir do formato de narrador que amarra todos os textos
BB: Queria que comentassem um pouco essa ideia, essa mistura de gêneros de que fala. O leitor vai acompanhando a narrativa por intermédio do folheto da agência de turismo, do jornal, das mensagens do aplicativo no celular. E faz muito sentido para a história. Pode falar um pouco mais sobre essa inovação na forma?
Patricia: Nós partimos da vontade de usar vários gêneros textuais, mas queríamos fugir do formato de narrador que amarra todos os textos. Então, decidimos abolir o narrador e ver no que dava. A coisa foi surgindo com textos soltos, sem a gente ter certeza de que eles, sozinhos, iam virar um livro. Quando percebemos que dava para criar a narrativa dessa forma, preenchemos um ou outro buraco com as informações que faltavam e pronto.
BB: Ainda sobre a forma: é interessante esse formato, porque o leitor se sente um privilegiado, tendo acesso diretamente aos fatos, às fontes, ao folheto da viagem, à carta, que contam a história. Lembra um pouco a dinâmica das redes sociais, em que a gente posta vários fragmentos das nossas vidas e as pessoas acompanham. Estamos ficando experts em concluir o todo pela soma de várias partes. Isso é desafiador, é uma habilidade dos nossos tempos. Faz sentido para vocês?
Patricia: Faz muito sentido! A ideia de construir uma narrativa a partir de fragmentos independentes é cada vez mais presente na vida contemporânea. O que esse livro traz de diferente é que, no dia a dia, fazemos essas construções de forma inconsciente, não paramos para pensar na narrativa que está sendo construída. Com o livro, o leitor é forçado a pensar nessa construção enquanto vira as páginas e acompanha as férias da família do Joaquim.
Muitas vezes o prazer [da literatura] vem justamente da conquista de ter vencido uma obra difícil e descoberto seus mistérios
BB: A intertextualidade com certeza será explorada por professores e mediadores de leitura. Como vocês veem esse diálogo entre literatura, fruição literária e o uso do livro em aula para levantar conversas sobre temas do aprendizado formal?
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"A queda dos Moais" / Blandina Franco e Patricia Auerbach (texto) e José Carlos Lollo (ilustrações)[/caption]
Patricia: Para nós, essa barreira entre literatura e fruição não existe. São fronteiras borradas. Isso não quer dizer que leitura seja apenas dar risada; pelo contrário, muitas vezes o prazer vem justamente da conquista de ter vencido uma obra difícil e descoberto seus mistérios. Por isso, leitura e sala de aula podem andar juntas e produzir encontros deliciosos em que o mediador (professor) conduz a leitura e amplia o olhar dos alunos a respeito do que foi lido.
BB: Contem um pouco, por favor, sobre o processo de feitura do livro: como foi escrever a quatro mãos? Como eram as trocas entre Blandina e Patricia nesse sentido? E onde e quando entrou o Lollo e as ilustras, essenciais para essa narrativa? Como organizaram isso?
Foram encontros cheios de risadas e suco verde! kkk
Patricia: O trabalho foi delicioso. Fizemos o esqueleto da historia [nós] três [juntos] e, em seguida, eu e Blandina passamos a nos encontrar para desenvolver os textos enquanto o Lollo ia dando palpite e pensando junto como contribuir com a parte gráfica. Foram encontros cheios de risadas e suco verde!
kkk
BB: O livro começou com um texto ou com uma imagem?
Patricia: Começou com uma ideia. E ideias têm sempre palavras e imagens misturadas!
BB: Algum de vocês já esteve na Ilha de Páscoa?
Patricia: Estamos contando com as vendas desse livro pra marcar a viagem!
BB: Vocês são membros do PasNo [no livro, PasNo é a associação de Pais Sem Noção que levam os filhos em viagens, digamos, "sem noção", como a que faz a família de Joaquim]? E os pais de vocês? Se animam de contar a ideia mais PasNo que tiveram de viagem com os filhos ou uma viagem PasNo que os pais de vocês inventaram quando crianças?
Na verdade, as tiradas cômicas fazem parte dos nossos diálogos
Patricia: Membros? Somos os sócios fundadores do clube! E por isso mesmo não conseguimos identificar programas PasNo, porque, para nós, foram todos excelentes!
BB: O livro é repleto de humor, que é uma característica de várias obras de vocês. Essas tiradas cômicas foram surgindo naturalmente na escrita do texto?
Patricia: Na verdade, as tiradas cômicas fazem parte dos nossos diálogos. Nós tentamos muito fazer um livro sério e erudito, mas aparentemente não conseguimos.
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"A queda dos Moais" / Blandina Franco e Patricia Auerbach (texto) e José Carlos Lollo (ilustrações)[/caption]
BB: Por que os Moais caíram de cara na areia e para qual destino Joaquim realmente teria ido sem reclamar?
Patricia: Joaquim é um filho sem noção e, sendo assim, reclamaria de qualquer coisa. Quanto ao mistério, esse você vai precisar ler o livro pra descobrir se tem solução.