O amor e as distâncias de Dipacho

03/12/2018

 

Dois pinguins que se conhecem, de repente se separam, resistem e persistem, enfrentam conflitos entre si e com o ambiente que os cerca. As histórias de amor são cheias de desafios, para humanos, para pinguins.

Essa poderia ser uma das leituras de Apesar de tudo, livro do colombiano Dipacho que tem seu enredo marcado pela simplicidade dos traços e das cores. Com poucos elementos, o autor põe em xeque questões caras à humanidade – o amor, o encontro e o desencontro com o outro. O livro acaba de ser lançado no Brasil pela Companhia das Letrinhas.

 

 

Apesar de tudo foi gestado em uma viagem de mais de dois anos. Foi nesse período que o ilustrador apreendeu experiências sobre amor e distâncias – de parentes, de pessoas pelas quais se apaixonou no meio do caminho. Associou a um assunto que aflige a todos, o aquecimento global, representando num amarelo que por vezes é assustador.

 

Esboço da primeira ideia do livro

 

Confira abaixo como foi o processo de pesquisa e criação de Dipacho.

 

Livro em viagem

Dipacho conta que fez o livro em uma viagem, que durou pouco mais de dois anos. Foi um período em que se distanciou da família e dos amigos, apaixonou-se por pessoas e depois teve de se afastar delas. Essa situação vivida foi o disparador do livro, que trata de amor e distâncias. Nessa viagem, levou apenas o indispensável: um computador e um tablet. Nada dos tantos materiais de trabalho com os quais estava acostumado. Nada de grandes mesas e muito espaço. Desenhava em hostels, em cafés e bares. Na volta à Colômbia, no final de 2018, concluiu o projeto.

 

Simplicidade

Dipacho conta que não usou tantas referências diretas na criação da obra. Mas lembra que a simplicidade que buscou trazer – nas cores e na composição – podem ser vistas, por exemplo, em Flicts, um clássico de Ziraldo, forte referência das narrativas apoiadas em poucos elementos. Aliás, essa era uma vontade antiga do ilustrador: “Fazer um livro com a menor quantidade de elementos possíveis, composições básicas e poucas cores, mas que tivesse uma história bastante clara e onde esses elementos (composição e cor) tivessem um papel importante na narrativa”. Segundo ele, a economia na cor, nas composições, nos personagens e nos cenários dá mais força aos problemas enfrentados pelos protagonistas pinguins.

 

Desenho dos personagens

 

Aquecimento global

Esse é um assunto caro ao ilustrador e a esse livro em específico. “Fiz a minha interpretação [do tema] aproveitando a narrativa e os personagens, que também são uma interpretação do pinguim real que é um pinguim sul-americano”, conta.

 

O amarelo

A ideia original era de trabalhar apenas com preto, branco e tonalidades de cinza, no universo vivido pelos pinguins. Foi com a elaboração da trama, da separação entre os personagens, que veio a ideia do sol e do aquecimento – e com tudo isso, a cor amarela. Pesquisou as diferentes espécies do animal e encontrou o pinguim-real, que possui uma penugem amarela na cabeça. Aumentou ainda mais a vontade de retratar o animal quando descobriu que a espécie era nativa da América do Sul.

 

Visualização da ideia em páginas duplas, primeiro texto

Storyboard (modo de organizar ilustrações para uma pré-visualização, recurso muito utilizado em histórias em quadrinhos e animações), síntese e composição

 

“Cores-cenário” 

Com um contexto muito básico, as “cores-cenário”, como denomina Dipacho, fazem parte dos conflitos da narrativa, não apenas entre os dois personagens, mas também entre eles e a natureza. A maior parte das obras do autor conta com diferentes técnicas pictóricas, desafios de experimentação. “Não me sinto confortável mantendo um novo estilo gráfico ou uma mesma técnica, acredito que tem a ver com a minha personalidade”, explica. Aqui, as cores “planos”, como ele chama, “sem maiores tramas, tonalidades ou texturas”, ganham importância narrativa.

Compartilhe:

Veja também

Voltar ao blog