Quantas artes cabem em um sábado?

19/12/2018

 

Maracatu logo cedo, às dez horas da manhã. Foi assim que começou o último sábado (15/12) das crianças da Pró-Saber. A ONG que atua para democratizar as oportunidades na área da educação desde 2003 em Paraisópolis, zona sul de São Paulo, não poderia encontrar melhor maneira para encerrar o ano do que um encontro de artes: primeiro a música para despertar o corpo, depois a literatura e o desenho para despontar a criatividade e, por fim, o teatro para acordar os olhos. 

 

 

O grupo de jovens que se apresentou com tambores e xequerê contava com ex-alunos e funcionários da instituição e conseguiu contagiar a plateia a ponto de encontrar em cada canto um lugar para também batucar. Palmas ou o tatame de EVA, naquele momento, tudo era instrumento de percussão. Ao fundo um sussurro: “alguns desses jovens conseguiram bolsas em escolas privadas muito boas e agora já estão prestando vestibular. Parece que passaram na primeira fase da Unesp.” A melodia se completava. 

Mais tarde, as crianças foram divididas em grupos e se reuniram em diferentes salas com os autores convidados. Na quadra, a dupla Blandina e Lollo. Enquanto ela contava a história de Quem soltou o pum?, ele pintava ilustrações do mesmo livro. No papo com as crianças, Lollo, sempre bem-humorado, relembrou as histórias das manchas em seu avental, como a de Maricota e João, que estavam distantes, mas são casados e, quando o avental dobra, os dois podem se ver. 

 

 

O público participou bem interessado na conversa sobre puns e gases sonoros sem nenhum constrangimento. Um garoto denunciou que o primo “solta pum na cara de todo mundo”, e o autor Renato Moriconi, que, por estar com o pé machucado, ficou sentado junto a plateia, logo levantou a mão quando Blandina perguntou quem ali soltava pum. (E, afinal, quem não solta?) Terminada a história, as crianças foram convidadas a pintar seus próprios Puns – os cachorros de estimação, claro! 

Na biblioteca, Patricia Auerbach divertia o seu grupo com a história de uma “madre bigoduda” que cairia em uma travessura das noviças cansadas de receberem ordens arbitrárias. Depois, a autora ainda recebeu mais uma acompanhante, o fantoche de uma menina de cabelos vermelhos. Muito simpática, a garotinha de pano criou até mesmo um código secreto entre aqueles presentes na sala, e a saudação de Star Trek foi ressiginificada. 

 

 

 

A sala do último andar abrigou a dupla Lalau e Laurabeatriz, com 23 anos de parceria e cerca de 50 títulos lançados. Em uma atividade semelhante a que acontecia na quadra, Lalau contava a história de Bebê brasileirinhos e pedia para que as crianças adivinhassem os animais que eram desenhados por Laurabeatriz. O cavalo-marinho foi uma das espécies que trouxe surpresa: “Pode ter mil filhotes e ainda é o macho que carrega os bebês”. Lalau não hesitou e logo soltou: “Eu tenho um que já me deixa doido, imagina mil!”. 

 

 

Por último, todos retornaram à quadra para assistir a uma adaptação teatral do livro-imagem Bárbaro, de Renato Moriconi. O grupo Os Bárbaros – que recebeu tal denominação no momento em que se apresentou – fez um lindo trabalho de criação a partir da narrariva não-verbal sobre um guerreiro. que enfrenta os perigos bravamente, até ter seu ponto fraco tocado. 

O grupo acrescentou uma tribo canibal alienígena como um dos obstáculos a ser enfrentado pelo protagonista e a imagem da mãe no enredo. E o espetáculo conquistou as crianças. Algo que para Júlia, uma das integrantes do grupo, é decisivo, já que o público infantil é verdadeiro e espontâneo. A opinião positiva das crianças foi percebida nas interações que oscilavam entre gritos que pareciam pedidos de socorro, por todas aquelas criaturas estranhas em cena, e risadas que confortavam como aplausos. 

 

 

Depois da abertura com maracatu, das conversas com os escritores e ilustradores e do espetáculo sobre o bravo guerreiro, só mesmo sorvete de morango e chocolate para encerrar um encontro tão saboroso dos autores da Companhia das Letrinhas na ONG Pró-Saber.

 

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