Um novo olhar sobre a educação envolve reconhecer que todo aluno tem acesso à informação e, assim, o professor não é mais figura centralizadora em sala de aula. Envolve também a percepção de que cada estudante tem sua singularidade e, muitas vezes, não faz sentido aglutinar uma turma com a mesma faixa etária como se a idade fosse o único critério para medir o ritmo de aprendizado. Mais ainda, envolve tratar de temas que interessem o aluno e, para isso, formar professores com uma escuta ativa para suas demandas. Foi pensando em questões como essas, com perspectivas renovadas sobre o processo educacional, que o documentarista Hygor Amorim criou a série Sementes da educação.
Disponível na plataforma Videocamp, a série conta com 13 episódios e apresenta instituições educacionais públicas nos mais diferentes contextos regionais e culturais do país, incluindo desde uma escola agrícola no Rio Grande do Sul, passando por uma que segue a pedagogia Waldorf na região serrana do Rio de Janeiro, até um Centro de Integração de Educação de Jovens e Adultos (CIEJA), na periferia da zona sul de São Paulo. Desse modo, por englobar várias localidades e grupos distintos, o entendimento do contexto e dos embates de se trabalhar nessa área, principalmente no que diz respeito à busca por inovação, é amplificado.
Muitas das escolas apresentadas na série, que romperam com uma visão tradicional do ensino, obtiveram sucesso justamente por seguir um movimento da própria sociedade, de organizar ações coletivas e valorizar o indivíduo, como explica o diretor. Ao ser posicionado ativamente diante dos conteúdos que lhe são indicados, ao se deparar com um ambiente que aceita seus questionamentos, o aluno se entende como parte importante daquele conjunto e se empolga em participar dele. Mas, ao contrário do que tal esclarecimento poderia representar a um futuro otimista para educação, um discurso muito se repete nos episódios, por parte dos professores, coordenadores ou diretores: sobre a demora (e a resistência) com relação às mudanças.
Crédito: OZ Produtora
Apesar da rejeição da sociedade frente a novas formas de educar, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), sancionada em 1996, prevê que as escolas tenham liberdade para construir seus próprios projetos político-pedagógicos (PPP). Ou seja, permite que as instituições, ao serem consideradas espaços de formação de cidadãos, elaborem planos e ações práticas para definir tanto um projeto educativo que facilite o processo de ensino e aprendizagem como político para formar alunos conscientes e críticos. Enquanto a gestão de algumas instituições apresentam um PPP simplesmente para cumprir um aspecto formal, outras utilizam dessa ferramenta para desenvolver pedagogias que fujam do modelo corrente: professor comandando a lousa à frente da sala e alunos enfileirados registrando o conteúdo. E foi a partir desse eixo, de retratar as experiências bem-sucedidas, que a série foi produzida.
O intuito de produzir uma série que tratasse de metodologias inovadoras só fez sentido, no entanto, porque antes de capturar a existência desses espaços abertos para um novo pensamento, o diretor percebeu que havia um descompasso temporal entre o aluno, a escola e o educador. “A escola tradicional tem sua estrutura baseada em conceitos do século XIX, com forte herança da revolução industrial e seriada. Os educadores da escola tradicional reproduzem métodos, modelos e padrões da educação do século XX. E os estudantes são do século XXI."
Crédito: OZ Produtora
A variedade de experiências pedagógicas inspiradoras é ampla, mas há fortes pontos que as interconectam: a importância e o cuidado com o espaço de aprender, o deslocamento do aluno de um papel de passividade, o desenvolvimento de uma visão crítica, a preocupação com os interesses e as habilidades dos estudantes, a compreensão dos indivíduos em sua totalidade, com aptidões e fraquezas, e o diálogo entre os professores de todas disciplinas para a criação de um conteúdo mais coeso, uma unidade em que informações de todas as áreas dialogam.
No final, o que fertiliza o terreno para novos modos de pensar a educação nessa perspectiva que oscila entre a esperança e o conflito são "educadores que ampliaram a visão do papel da educação em nosso atual momento histórico, e passaram a oferecer uma educação transformadora, em que o estudante aprende a aprender, tem condições para desenvolver a sua autonomia, uma visão nova sobre inclusão, respeito, cidadania e papel na sociedade global", explica Amorim.