Cris & Alexandre: a dupla que assina "Quem matou o saci?" brinca com a gente hoje

06/02/2019
Na semana passada, o livro Quem matou o saci?, da dupla Alexandre de Castro Gomes (texto) e Cris Alhadeff (ilustrações), chegou ao primeiro lugar da lista de mais vendidos da Amazon na categoria livros infanto-juvenis de mistério. Saci Perereira foi assassinado. A detetive Billy Conrado e seu colega Joaquim de Jeremias não medirão esforços para descobrir o culpado. Quem poderia cometer um crimes desses? E por quê? Muitos personagens são suspeitos... De forma bem-humorada e original, a dupla de autores cria uma história de detetive instigante, ao mesmo tempo em que faz um surpreendente passeio pelo folclore brasileiro. Pisadeira, Papa-Figo e muitos outros estão entre os investigados, descritos em irreverentes fichas criminais, que fazem do leitor mais um detetive. Não à toa, o livro foi selecionado um dos 10 melhores de 2017 pelo selo Cátedra 10, da Cátedra UNESCO de Leitura, que funciona na PUC-Rio. Aqui, a resenha que a Cátedra fez do livro. E, neste outro link, uma que publicamos aqui mesmo no blogue. O Brinque-Book Brinca de hoje, primeiro de 2019, re-estreia com ninguém menos que a dupla de autores da obra, Alexandre e Cris; ele, um "inventor de histórias";  e ela, uma "desenhadeira". Quem é você?
A: Sou um inventor de histórias. Um criador de tramas e mundos. Um autor implacável e galhofeiro, que brinca com as vidas de personagens. Além disso, sou um apaixonado pela vida e pela família. Adoro a minha rotina e amo ser eu mesmo. Queria ter menos peso e mais dinheiro. De resto está bom demais.
C: Sou uma desenhadeira. Vivo com lápis na mão. Adoro sorver e gerar imagens e amo muito a minha super família. Com eles, minha inspiração, passo meus melhores momentos.
Quem faz livros é o quê?
A: É alguém feliz e duro. Tem pouca grana, mas muitas alegrias. É teimoso também. Não se abala com as frustrações e sabe se levantar quando cai. Não é uma vida fácil, mas as recompensas valem muito a pena. Cada livro lançado traz uma felicidade enorme. Sei que soa meio clichê, mas nossos livros são mesmo como filhos de papel. Quem faz livros tem uma responsabilidade enorme com sua obra e com os leitores.
C: É um ser apaixonado por esse mundo mágico e às vezes tão mal compreendido. A literatura infantil é a porta entrada da criança no mundo literário. Deveria ser muito mais valorizada e menos censurada.

Adoro lápis de cor e aquarela. São meus instrumentos de trabalho favoritos! Amo o cheiro de lápis de cor!

Cris Alhadeff

  Como é o lugar em que você trabalha?
A: São dois. O primeiro, minha cabeça, é caótico. Não para de cavar histórias e de imaginar enredos. O segundo é mais arrumado. Comprei uma mesa antiga, toda bacaninha, com cadeira confortável e giratória. Daquelas mesas xerife, sabe? Com compartimentos para dicionário, canetas, blocos, coleção de máquinas de escrever em miniatura e tudo que um autor tem direito. Coloquei em um canto da sala. Perfeita! Ou quase. Não a uso como deveria. O quarto do meu filho guitarrista é do outro lado da parede. Tenho ficado mais no meu quarto e acabo escrevendo na cama. Mas isso vai mudar. Estou estudando arrumar um cantinho no meu quarto pra mim. Em breve terei mais uma opção.
C: Tenho uma mesa com computador e tablet wacom e tenho outra na qual desenho e espalho meu material. Durante a produção dos desenhos, fica, aparentemente, caótica. Aliás, organização não é o meu forte, mas me entendo muito bem com a minha bagunça (para o desespero do Alex).

Tenho várias ideias no banho, por exemplo. Viajo mesmo. E, quando me dou conta, já passei o xampu três vezes

Alexandre de Castro Gomes

  Quais são suas técnicas prediletas para desenhar, escrever, ilustrar e imaginar?
A: Eu penso na trama e no final da história antes de começar a escrever. Gosto de saber para onde vou, o que vai acontecer com os personagens. Claro que posso mudar alguma coisa no caminho, mas, antes de colocar no papel, tudo tem que funcionar na minha cabeça. Dessa forma eu não travo. Já aconteceu de ficar com uma história parada por mais de sete anos porque fui criando enquanto escrevia. Teve uma hora que não veio mais nada. Fui reescrever o texto depois e joguei fora vários capítulos escritos. Se eu tivesse com tudo pronto na cabeça antes, isso não teria acontecido.
C: Adoro lápis de cor e aquarela. São meus instrumentos de trabalho favoritos! Amo o cheiro de lápis de cor!
Como é que você tem uma ideia para escrever ou desenhar? E como tira ela da cabeça e coloca no papel?
A: A ideia pode vir de uma frase que ouvi na rua. Depende. Não há regra. Tenho várias ideias no banho, por exemplo. Viajo mesmo. E, quando me dou conta, já passei o xampu três vezes. Só coloco no papel depois que ela amadurece. Depois que está redonda, com um final que me agrada já definido.
C: Fico rabiscando, fazendo rascunhos até chegar no que eu imaginei. Às vezes o processo é bem rapidinho e flui. Outras vezes, demanda mais tempo. Já fechei uma personagem na sala de espera do dentista.
Qual foi a ideia mais brincante que você teve e que virou livro?
A: Putz! São tantas! Já matei um saci em uma narrativa policial. Já coloquei monstros morando no mesmo prédio. Fiz um livro ler pessoas. Criei uma história que pode ser lida de trás pra frente. Narrei uma partida de futebol de monstros conhecidos no mundo inteiro contra a seleção do folclore brasileiro. Coloquei o chocolate em um tribunal de frutas e legumes. Fiz o guarda-chuva ser o brinquedo favorito de uma criança. Personifiquei máquinas antigas e as coloquei em um asilo de geringonças. Transformei letras em piratas. Fiz animais escreverem histórias tandem. Organizei uma festa de aniversário cantante em um cemitério. Personifiquei os dias da semana e meses do ano. Sei lá! Eu acho tudo isso brincante. E vem mais coisas por aí. Aguarde novidades!
C: Gosto de esconder imagens nos livros, que compõem um caminho paralelo à narrativa do texto, uma brincadeira que torna o leitor meu cúmplice.
Seus lápis e cadernos brincam com você?
A: No início, sim. Me castigavam um pouco. Hoje eu brinco mais com o computador.
C: São meus companheiros! Não me desgrudo deles. E olhar cadernos de anos atrás é sempre uma delícia.

Ah, eu amo desenhar com barulho de chuva, tempestade

Cris Alhadeff

  Quando não tem ninguém olhando, do que você brinca? E quando tem alguém olhando?
A: Eu brinco a hora toda! Não faz diferença se tem alguém olhando. Coleciono vários brinquedos. Adoro brinquedos antigos, robôs de lata, soldadinhos... Faço barulhinho com a boca e tudo. Pago mico mesmo e não me importo nem um pouco.
C: Brinco com as nossas ratinhas de estimação. Faço playgrounds de papelão para elas explorarem. Qualquer dia virarão livro.
Em que momento, lugar, clima, hora do dia ou posição você mais gosta de ler, escrever ou desenhar?
A: Eu leio na minha cama, à noite ou nos finais de semana. Quanto ao clima, só não pode estar muito quente; de resto, tranquilo. Quanto à escrever, não tem muito isso de hora. Escrevo quando dá, embora isso aconteça mais quando os meus filhos adolescentes estão na escola ou durante a madrugada. Mas já escrevi em hotéis, enquanto viajo a trabalho, no sítio da família, enquanto ouço música, com a TV ligada...
C: Ah, eu amo desenhar com barulho de chuva, tempestade. De preferência de noite, ou de madrugada. Se puder ser no sítio, melhor ainda.
O que você mais gostava de ler quando criança? Mudou muito para os dias de hoje?
A: Gostava de Asterix, Mortadelo e Salaminho, Turma da Mônica, livros de bangue-bangue de banca de jornal, Turma do Pererê, Stella Carr, Marcos Rey, Ganymedes José, João Carlos Marinho, Hélio do Soveral, Agatha Christie, Monteiro Lobato, Coleção Vagalume, coleções da Ediouro (A Inspetora, A turma do Posto 4, Os Seis, A turma do Falcão Dourado, entre outros). Mudou, claro, embora ainda ame os que mencionei. Hoje leio de tudo um pouco. Gosto de ler o trabalho de amigos e colegas escritores. Continuo amando literatura infantil e juvenil, mas mergulho na literatura adulta também. C: Acho que a minha primeira paixão foi pelos livros da Laura Ingalls, depois, quando já andava sozinha na rua, não saía da Biblioteca Annita Porto Martins (que, na época, ficava na minha rua) e um novo mundo se abriu para além da biblioteca da família, que já era bem boa. Hoje continuo eclética e o que me agrada, como lazer, vai muito pelo meu estado de espírito.
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