Infância e telas: como limitar e dosar o uso da tecnologia pelas crianças

23/02/2019
Pipoca era simpática, inteligente, amável. Cheia de amigos, ela alegrava o dia de todos com suas histórias, conversas, palavras incríveis: fabuloso, esplêndido, maravilhoso! Um dia, no entanto, Pipoca mudou. Deixou cair todas as maçãs que levava ao cavalo -e nem notou. No chá, com as colegas galinhas, nem disse oi. Na ordenha das vacas, não estava nada divertida! Pipoca não tirava os olhos de uma tela brilhante, recém-encontrada, com a qual se comunicava com novos amigos. Parecia vidrada naquele equipamento luminescente. Alguma semelhança com alguém que você conhece? O livro A Fabulosa Máquina de Amigos, que conta a história de Pipoca, citada aí em cima, é uma fábula lúdica -e lúcida- do premiado Nick Bland sore as relações humanas em tempos de celular. E sobre os perigos do manuseio indiscriminado das telas pelas crianças. Na história, os "novos amigos" virtuais de Pipoca eram nada menos que lobos famintos. Estamos cada vez mais conectados. As crianças também. A pesquisa TIC Kids Online 2017, conduzida pelo Comitê Gestor da Internet, do Cetic.br, por exemplo, revela que 85% das crianças e adolescentes brasileiras acessou a internet recentemente. Número crescente. Em 2016, esse número era 82%. E, em 2014, menor ainda: 79%. Isso não é necessariamente uma má notícia. De acordo com o pediatra do Hospital Sírio Libanês, Alberto Carame Helito,  o uso de mídias digitais por crianças entre 18 e 24 meses pode trazer benefícios sociais e de aprendizado, quando na companhia de um adulto responsável, com uso por curtos períodos de tempo e com conteúdo adequado para a idade. "Não devemos permitir que crianças dessa idade usem dispositivos eletrônicos desacompanhadas", diz ele. Esse é o entendimento da Associação Americana de Pediatria (AAP).

O uso das telas pode ser positivo e trazer aprendizado. Mas é preciso regular-lo e dosá-lo.

  Para o especialista, bebês e crianças vivem cercados de tecnologia, que está no cotidiano dos pais, dos cuidadores, dos adultos e mesmo jovens que cercam os pequenos. Complicado dissociar e evitar completamente o contato. A recomendação da Associação Americana de Pediatria (AAP) é que crianças com menos de 1 ano e meio não tenham acesso às telas. Acima de dois anos, os pediatras sugerem apenas uma hora de telas (o que inclui TVs, tablets, jogos eletrônicos em qualquer suporte, celulares), bem distribuída ao longo do dia. "Crianças de até 2 anos de idade passam por uma fase importante no desenvolvimento cognitivo, motor, de linguagem e de habilidades sociais/emocionais. O aprendizado através de telas é insuficiente para elas. Pela imaturidade do seu sistema neurológico, elas têm dificuldade de transferir esses conhecimentos para o mundo tridimensional em que vivem", explica Helito. Para que crianças pequenas se desenvolvam adequadamente, diz ele, é preciso que haja interação com os pais, familiares, cuidadores, outras crianças. E que haja brincadeiras manuais, na natureza, a concretude do mundo real. "Vale lembrar que o uso de telas é insuficiente para o ganho de habilidades importantes para o bom rendimento social e escolar, tais quais persistência para conclusão de tarefas, controle de impulso, regulação emocional, criatividade e flexibilidade de pensamento".  Crianças que têm acesso exagerado a esses dispositvos podem apresentar dificuldades de concentração, de aprendizagem, de comunicação e pouca tolerância a frustração. Insuficiência de sono e ganho de peso também estão associados ao uso excessivo das telas.

Boas ideias e alguns cuidados ajudam no uso sadio e positivo da tecnologia

Helito sugere algumas atividades que pais, mães e cuidadores podem fazer com crianças usando a tecnologia. Uma delas é instigar as crianças a distinguir, nos jogos, o que faz parte do mundo real do que não faz. Quer mais uma ideia? Propor às crianças que reflitam sobre quais seriam as consequências das ações das personagens de jogos e desenhos no mundo real. Programas com movimentação muito rápida ou com violência devem ser vetados.
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