Leo Cunha e sua brincadeira favorita: escrever literatura infantil e juvenil

22/04/2019

Leo Cunha, 52, é escritor, jornalista, tradutor, professor. Um brincador de palavras, que é o que ele gosta de fazer. Dá para perceber: já escreveu mais de 50 livros infantis e juvenis e por eles recebeu diversos prêmios, como o Jabuti e o Prêmio Literário Biblioteca Nacional. Também traduziu obras infantis e escreveu livros de crônica e poesia -- além de escrever músicas!

Pela Escarlate, ele publicou Dede e os tubaroes, em parceria com a Alessandra Roscoe -- e com as ilustras de Rafael Antón --, uma historia deliciosamente brincante: dois irmãos apaixonados por mapas mergulham -- literalmente --no tablet do pai e vão parar no fundo do oceano.

Ele é nosso convidado de hoje para trazer suas ideias e brincar nesse Brinque-Book Brinca. Depois de se divertir com Leo Cunha, vem aqui ver quem mais já brincou com a gente.

Leo, Alessandra Roscoe e Dedé, filho de Leo que, aos 4 anos, inspirou o pai a escrever "Dedé e os tubarões", lançado em 2013 pela "Escarlate", do "Grupo Brinque-Book"

Quem é você?
Sou um cara que adora rir, chorar, levar sustos. E também adoro fazer leitor rir, chorar, e se assustar. Se um livro consegue fazer uma dessas coisas (ou todas), acho que ele está no caminho certo.

Quem faz livros é o quê?
O escritor, o ilustrador, o editor, o designer, todos nós, juntos, somos uma tribo apaixonada pelo virar das páginas e tudo o que isso nos traz. Gostamos de folhear.

O grande barato da literatura é sua imensa e incrível diversidade

 

Como é o lugar em que você trabalha?
O lugar onde eu trabalho é um planeta redondo e fascinante, apesar de alguns malucos que agora cismaram que ele é plano! Qualquer lugar do planeta é perfeito para eu trabalhar, pois só preciso de uma caneta e um de papel -- ou de um celular com bateria. Minha carteira vive recheada de papeizinhos com ideias para histórias, poemas ou crônicas. E, ultimamente, meu telefone também vive cheio de frases e versos digitados, que, em breve, vão virar livros.

Ilustração de Rafael Antón para "Dedé e os tubarões", de Leo Cunha e Alessandra Roscoe

Quais são suas técnicas prediletas para escrever?
Tento não pensar muito em técnica, quando estou escrevendo. Acredito que minha técnica, e meu estilo (se é que tenho um estilo) são resultado de tudo o que eu já li na minha vida, e foram milhares de livros! Desconfio que as técnicas já estão entranhados na minha mente e no meu coração, e acabam transparecendo, naturalmente, sem que eu precise abrir uma caixinha de ferramentas. Mesmo assim, sempre reescrevo muitas vezes cada um dos meus textos.

Como é que você tem uma ideia para escrever? E como tira ela da cabeça e coloca no papel?
Geralmente, a primeira ideia para uma história ou um poema me surge de forma inesperada, então preciso anotar logo, pois não confio nem um pouco na minha memória. A etapa seguinte é levar a ideia para o computador e burilar, lapidar. Gosto de ler meus textos em voz alta, para testar os ritmos e a sonoridade do texto. Também gosto de mostrar para outras pessoas (amigos, familiares, escritores etc), para testar os elementos de humor, surpresa, suspense, emoção.

Qual foi a ideia mais brincante que você teve e que virou livro?
Não é por estar no Blog da Brinque, mas garanto que uma das mais brincantes foi a que gerou o livro Dedé e os tubarões. O livro, na verdade, nasceu de uma brincadeira. Estávamos, eu e meu filho André (então com 4 anos), brincando no aplicativo Google Earth, no tablet. O Dedé adora tudo quanto é mapa, globo, GPS, essas coisas. Naquele dia, a brincadeira era assim: ele me pedia: "mostra a casa do vovô!", e eu tocava na tela, aumentava, girava etc, até mostrar a casa do avô. "Agora me mostra o Rio de Janeiro". E eu mostrava. "Me mostra o mar". Eu mostrava. Até que ele disse: "Agora me mostra o tubarão!", e eu respondi que não tinha jeito, pois o Google Earth só mostra a superfície. Sabe o que ele disse? "Tem jeito sim, papai: joga uma comidinha na tela, que o tubarão aparece". Achei aquilo sensacional e dali veio a ideia para o livro Dedé e os tubarões, que acabei escrevendo em parceria com minha querida amiga Alessandra Roscoe.

 

Seus lápis e cadernos brincam com você?
Claro! Lápis, cadernos, livros, jornais, revistas. Tudo o que lemos acaba nos dando ideias para outros textos.

Fui uma criança de sorte. Tínhamos muuuuito livro em casa

 

Quando não tem ninguém olhando, do que você brinca? E quando tem alguém olhando?
Minha brincadeira preferida é mesmo escrever. Sou um brincante das palavras. Tem gente que se espanta quando digo que sou escritor, tradutor, jornalista e professor, mas no fundo tudo o que eu faço, ou pelo menos o que eu mais gosto de fazer, tem a ver com a palavra. Gosto muito de narrar descrever, refletir sobre o mundo e tudo o que acontece nele.

Em que momento, lugar, clima, hora do dia ou posição você mais gosta de ler, escrever ou desenhar?
Em qualquer hora e lugar. Sou viciado em ler e em rabiscar ideias. Só não consigo ler e escrever quando estou dentro de um carro ou ônibus em movimento. Aí me dá um baita enjoo. Nessas horas, fecho os olhos e gosto de ouvir música.

O que você mais gostava de ler quando criança? Mudou muito para os dias de hoje?
Eu fui uma criança de sorte. Minha mãe era professora de literatura e crítica literária, então tínhamos muuuuito livro em casa. Pra melhorar, ela abriu uma livraria especializada em literatura infantil e juvenil, lá no final dos anos 70, na minha pré-adolescência. O resultado é que eu lia bastante. Aventura, ficção científica, terror, humor, poesia, crônica. De tudo um muito. De certa forma, continuo assim até hoje. Gosto de ler livros de gêneros bem variados, e de escrever também. Pulo de um Dostoiévsky pra um Stephen King, de um Drummond pra um Calvino. O grande barato da literatura é sua imensa e incrível diversidade.

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