Espetáculos que cantam a literatura

17/05/2019

 

A irmandade entre música e literatura é muito estreita. Estão ligadas não somente pela poética e pelo ritmo, mas também pelo jogo com as palavras, pela riqueza de imagens que contam e cantam histórias.

“Sempre vejo as artes se relacionando, esses cruzamentos, essas pontes entre elas”, conta Gustavo Kurlat, compositor, dramaturgo e escritor, sobre esse “transbordamento da literatura”. Ele também dirige o show Canções que guardam poemas, que acontece nos sábados de maio no Teatro do Sesc Pompeia. Com arranjos modernos e divertidos, leva ao palco textos de Fernando Pessoa e Federico García Lorca, além das autoras Cecília Meireles e Clarice Lispector, todos musicados pela cantora e compositora Vanessa Bumagny.

Os poemas escolhidos são aqueles que nem sempre as crianças conhecem, mas que podem “produzir prazer em todos”. Assim foi a escolha de Vanessa, parceira de Kurlat desde 2003. No show, a artista abre o espetáculo sugerindo que os poemas e as canções complementam o significado um do outro. Como diz o diretor:  “A música é um veículo de dizer essas palavras todas”.

Esse projeto é fruto da vontade de aproximar as crianças da poesia, que se tornam potenciais leitoras dessas obras. “Nós não tivemos outra pretensão senão fazer com que esses temas pudessem ser comunicados de uma maneira afetiva, multiplicando as possibilidades poéticas que elas têm ao juntar poesia e música”, conta o diretor. Ele também chama atenção para a habilidade da narrativa literária se reinventar a partir da visão das outras artes: “Tentar falar as coisas de diferentes maneiras, atingindo os corações de outras formas, me parece fundamental e presente em todas as artes”.

O autor, que também trabalha na adaptação para o cinema de seu livro Quando Blufis ficou em silêncio, considera que um grande feito de espetáculos como esse é a possibilidade de perceber a arte de um modo diferente. “Uma das grandes virtudes da escuta é a possibilidade de ouvirmos de diferentes lugares. Esse ouvir sempre se deslocando um pouquinho, colocando-se no lugar do outro, no lugar de quem fala. Como diz Italo Calvino: ‘Quem comanda a narração não é a voz: é o ouvido’, e nosso ouvido por meio da música faz com que as imagens poéticas e todo esse material que é parte do show se reinventem no coração de cada um.”

Além do show Canções que guardam poemas, confira outros projetos músico-literários abaixo.

 

Crianceiras

Manoel de Barros e Mário Quintana são os poetas cantados nesse projeto, cujas obras foram musicadas por Márcio de Camillo. O disco de Manoel de Barros é cantado por ele e mais 15 crianças, foi indicado como um dos três melhores álbuns infantis de 2012 pelo Prêmio da Música Brasileira e teve sua capa ilustrada pela artista Martha Barros, filha do poeta.

 

 

 

Tic Tic Tati

Fortuna já colocava as duas artes em sintonia na década de 80, quando compôs uma série de canções em parceria com o poeta curitibano Paulo Leminski. Em 2012, lançou o álbum Tic Tic Tati, com poemas e histórias que resgatando o universo da multiartista Tatiana Belinky, musicados por Hélio Ziskind. Produzido pelo Selo Sesc, o trabalho rendeu um musical criado para o lançamento do CD. O espetáculo foi registrado e transformado em DVD, com um bônus de três animações dirigidas pela cineasta Tata Amaral.

 

 

 

Canto Livro

Num compromisso com a sensibilização e o incentivo à leitura, Joana Garfunkel e seu pai, Jean Garfunkel, compõem canções baseadas na obra de autores como Jorge Amado, Guimarães Rosa e Vinícius de Moraes. É o projeto Canto Livro, que une música e literatura em shows temáticos, sempre com foco em escritores brasileiros ou de língua portuguesa, em que a narrativa dos textos é permeada por canções afinadas com a temática do autor em questão.

 

 

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Anote na agenda

Cecília, Clarice, Fernando e Federico - Canções que guardam poemas

Onde: Sesc Pompeia (r. Clélia, 93, Pompeia)

Quando: 18 e 25 de maio, às 12h

Quanto: R$ 20,00 (inteira), R$ 10,00 (meia entrada) e R$ 6,00 (credencial plena do Sesc)

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