1- Sono é para a família
Ilustração de Marie-Louise Gay, publicada em Boa noite, Marcos!
"Minha proposta de sono para os bebês é que a família precisa dormir -- e o bebê faz parte da família. Ele precisa de cuidado, carinho, acolhimento, claro. Quanto menor, mais fundamental isso é. Mas cuidar dele não pode inviabilizar a vida dos pais. Uma mãe precisa dormir, até para cuidar do filho. Se ela dorme três horas por noite é dificil dar conta de um bebê durante o dia”. Becker recomenda uma conversa com o pediatra e até uma consultoria específica sobre o tema com especialistas para que a família identifique qual é o seu jeito, as necessidades do bebê e quais são as orientações que podem ser aplicadas ao grupo ou não. Há quem recomende "treinar" o bebê, deixando chorar sozinho até dormir. De outro lado, há quem diga que certo mesmo é colocar em cama compartilhada até que o pequeno não queira mais dormir com os pais. Daniel comenta que esses manuais podem ser muito autoritários (donos da verdade absoluta) e deterministas (como se o destino de seu filho até a vida adulta dependesse de um só aspecto da vida dele - o sono). No meio desses extremos, há meios-termos mais razoáveis e de bom-senso. O maior erro que se pode cometer é "encaixar" o filho ou filha num desses manuais de como dormir (ou como comer ou como educar etc). "Seu filho não cabe num manual, nem a sua família. É preciso encontrar o caminho que se encaixe na criança real, na família real. Jamais o contrário". Ele acrescenta: “Talvez o mais importante para poder lidar com o bebê que dorme mal é uma boa rede de apoio, que permita que a mãe possa descansar durante o dia se as noites são muito difíceis”. Notas importantes: Deixar o bebê chorando até dormir é violência: há meios mais eficazes de se promover um sono autônomo, diz Becker. E, ainda: antes dos seis meses de vida, as sociedades de pediatria em geral recomendam que o bebê não durma em cama compartilhada. Para ter o pequeno pertinho e mais seguro, uma boa saída são os berços acoplados à cama do casal, recomenda Becker.2- Bons hábitos de sono podem ser sempre trabalhados
Ilustração de Sophy Henn no livro A hora de dormir com Teo
Seja qual for o caminho escolhido pela família, Becker destaca que o mais importante é o desenvolvimento de bons hábitos. É preciso que a família crie uma rotina adequada para que o novo integrante adquira hábitos saudáveis em torno do sono e condições de dormir autonomamente. Estabelecer um ritual noturno é um ótimo começo: às 18/19 hs, por exemplo, é hora de diminuir a luz, fazer uma shantala com óleo, oferecer uma mamada e levar para o banho -- assim o bebê participa desse momento de higiene mais bem humorado. Depois, no quarto escurinho, mais um pouco de peito e um ambiente calmo, quieto e bem ventilado. Refrescar o quarto e não vestir demais o bebê também é bom. Como bebês e crianças têm ciclos de sono mais curtos, é comum que acordem várias vezes ao longo da noite. Para que consigam voltar a adormecer sozinhos, é preciso que os pais os ensinem a dormir autonomamente, sem precisar da presença do adulto. "É uma delícia dormir no peito ou no colo. Eu adormeci muito meus filhos no colo. Especialmente quando bebezinhos, é no colo mesmo que adormecem. Mas, conforme crescem um pouco, a gente pode começar a ensinar essa habilidade, importante para a vida", recomenda o pediatra. Deixando chorar? De jeito nenhum! "Sou radicalmente contra! Há meios muito mais amorosos e eficazes de se fazer isso", comenta Becker. Em seguida, ele dá algumas dicas para isso: a partir dos 6 meses, já é possível começar esse processo, colocando o bebê no berço ainda sem adormecer. "Dê o peito, nine e quando a criança estiver naquele ponto intermediário entre a vigília e o sono, coloque-a no berço". Se o bebê chorar, pegue no colo, acalme e, novamente, devolva. Repita o processo com calma, suavidade, amorosidade. Se a criança não conseguir adormecer, tudo bem. Interrompa o processo, adormeça-a no colo ou deitando com ela (como for o hábito da família) e retome as tentativas no dia seguinte. "Assim, gradativamente e sem causar sofrimento, você pode ir mostrando à sua filha ou ao seu filho que ele é capaz de dormir sozinho", avalia Becker.3-O sono começa durante o dia
Ilustração de Sophy Henn no livro A hora de dormir com Teo
Um mito muito difundido é o de que o bebê deve dormir pouco ao longo do dia para estar com sono à noite. É muito pelo contrário. Quanto melhor for a qualidade da soneca diurna, tanto melhor será a noite de pequeninas e pequeninos. Becker recomenda um dia com sonecas, sim, mas preferencialmente em ambientes claros, com bastante luz de iluminação natural. Aliás, é bom oferecer pelo menos duas a três horas de luz do sol por dia, ao ar livre, se possível em contato com a natureza, cuja diversidade dá conta de proporcionar muitos aprendizados e brincadeiras aos bebês. Um bebê que viveu um dia rico em atividades e livre para brincar -- sem estímulos artificiais, sem telas -- e em meio o mais natural possível, com luz natural, estará cansado o suficiente à noite para adormecer de modo natural, tranquilo e saudável.Um cama para muitos
Ilustração de Nick Bland em O urso sonolento
Ah, mas se o bebê precisa aprender a dormir sozinhos, compartilhar cama com ele e com crianças maiores é ruim? Não, pelo contrário! Se a família gosta e todo mundo dorme bem juntinho, Becker não vê o menor problema em compartilhar a cama com os filhos. "É a coisa mais gostosa do mundo!” Se seu filho maiorzinho acorda de madrugada e vem pra sua cama - e isso não atrapalha o sono de ninguém -, abraça a cria e aproveita.