Nas livrarias, bibliotecas, escolas, centros culturais ou praças, os clubes de leitura tornam coletivo um hábito normalmente solitário e, assim, reúnem leitores experientes e iniciantes num mesmo espaço para compartilhar vivências e impressões, engajar-se em discussões sobre temas e obras e ampliar o repertório leitor a partir de encontros geralmente presenciais. Existem os clubes de leitura com recortes temáticos, realizados de forma a ampliar o debate nas redes sociais, direcionados a públicos específicos (o juvenil, por exemplo).
Para dar suporte, algumas editoras estabelecem parceria com clubes para empréstimo dos títulos, como é o caso do grupo Companhia das Letras. “As leituras mensais e o encontro com outros leitores acabam por estimular a reflexão sobre as práticas e experiências cotidianas, possibilitando a conquista progressiva de protagonismo e a maior autonomia dos participantes; e essas conquistas são fundamentais para uma formação cidadã.” É o que afirma a editora em seu texto institucional sobre o programa – hoje organizam 67 clubes em 21 cidades brasileiras, além de estabelecer parcerias com livrarias, grupos independentes e a Funap (Fundação de amparo ao preso), com a qual mantém uma iniciativa vinculada à remição de pena em 12 penitenciárias do estado de São Paulo.
Diversos sites, blogs e grupos nas redes sociais organizam fóruns de debate, guias para indicar encontros regionais ou mesmo oferecem assinaturas de livros. Compartilhamos a seguir algumas experiências diferentes em clubes de leitura.
***
Juliana Gomes, Juliana Leuenroth e Michelle Henriques, criadoras do Leia Mulheres
Convites para pensar a diversidade
O Clube Negrita é um clube do livro aberto, gratuito e mensal que incentiva a leitura de escritoras e escritores negros e o letramento por meio da leitura em coletivo, proporcionando a troca de ideias e a vivência conjunta em torno da literatura negra. Alguns de seus encontros são realizados no Sesc em conjunto com o Leilão Negrita, nos quais um artista visual negro é escolhido para ter três trabalhos expostos para a venda, no mesmo processo de valorização da arte negra.
Já o Leia Mulheres se inspirou em uma hashtag criada nas redes socais pela autora e ilustradora Joanna Walsh, a #readwoman2014. O manifesto parte de uma realidade envolvendo a produção e os índices de leitura do universo feminino – se observarmos só a situação nacional, descobrimos que as mulheres são o maior público leitor no país, mas são menos publicadas, divulgadas e premiadas, segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, do Instituto Pró-Livro. Tal constatação impulsionou a vontade de promover mais leituras de obras escritas por mulheres. Com apenas quatro anos, o clube cresceu e tem núcleos com reuniões em diversas cidades (confira a lista aqui).
Para alcançar a todos
Neste ano, nasceu o Clube Literário SESI-SP, grupo no qual os participantes recebem gratuitamente as obras que são debatidas em cada reunião. São duas edições independentes, um clube juvenil e um adulto. Em cada um deles, são programados dois encontros: um para a entrega e conversa sobre o livro, e outro, após a leitura, para um papo com o autor. Para se inscrever, basta acessar o site.
Outra iniciativa gratuita é o Clipe, o Circuito Literário nas Periferias, criado pela ONG Fundação Tide Setubal. Os encontros são mensais e acontecem nas cinco macrorregiões da cidade de São Paulo, onde leitores de diversas idades e ocupações se encontram para conversar sobre as obras escolhidas, muitas vezes com os próprios autores. As reuniões são mediadas por agentes culturais de cada região para compartilhar experiências literárias, dúvidas e impressões, somadas às experiências territoriais e subjetivas do leitor, com um tom festivo e empolgado.
Alunos da Escola Lilian Maso Profa. Arquivo pessoal: José Paulo Ferreira, professor do clube de leitura
Outras leituras em sala de aula
Os encontros literários podem acontecer também entre as aulas nas escolas. A Escola Municipal de Ensino Fundamental Lilian Maso Profa, localizada no Jardim Paulistano (SP), zona norte da capital paulista, por exemplo, organizou um clube de leitura com atividades extracurriculares mediadas pelos professores para ampliar a jornada escolar dos alunos e alcançar um melhor rendimento nas disciplinas da própria grade escolar. Além de contribuir para uma aprendizagem integral dos alunos, o clube promove uma interação social a partir dos comentários, dúvidas e impressões tidas durante os encontros literários. Ao publicar as indicações de obras dos alunos, acaba por incentivar a busca por autores e a própria leitura.
Já na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio João Gabriel da Silva, em Santa Maria do Pará, no Pará, o clube de leitura surgiu como uma iniciativa realizada em etapas: primeiro, houve uma manutenção na biblioteca existente na escola, inicialmente motivando os alunos para a leitura dos clássicos da literatura brasileira. A partir daí, passou-se à realização de encontros mensais para a socialização de livros e das leituras – nessa dinâmica, os alunos emprestam e rotacionam os livros, assim obras infantojuvenis recentes, adaptadas para filmes ou de séries da moda, passaram a atrair novos leitores para o grupo. Depois, com a revitalização da Sala de Leitura, foi realizada a 1ª Jornada Literária da Escola João Gabriel da Silva, quando foram apresentadas várias salas temáticas, como Animes e Mangás, Literatura Nacional, Leituras Obrigatórias, Literatura Infantil e Livros que Viraram Filmes, o que trouxe inclusive ex-alunos para o clube.
Conversas na biblioteca? Pode sim!
Toda segunda quarta-feira do mês, às 19h, leitores vorazes se reúnem no saguão da Biblioteca Mário de Andrade, no centro de São Paulo, para debater títulos como A caçada, conto de Lygia Fagundes Telles presente no livro Antes do baile verde, uma das obras selecionadas para o encontro passado realizado em maio no "Clube de leitura: (em) contos latino-americanos". O clube é aberto, e os participantes podem retirar as indicações do mês na própria biblioteca. Você pode conferir as datas e obras de cada encontro nas redes sociais da biblioteca.
Uma proposta diferente acontece na Biblioteca de São Paulo: lá, o clube de leitura conta com apoio das redes sociais para que a atividade continue na internet após cada encontro. Trata-se de um clube de leitura para jovens, focado em incentivar o hábito de leitura desse público. Depois das reuniões presenciais, as discussões continuam no blog do Le-Heitor, personagem fictício de 14 anos, que media o debate, tira dúvidas e dá dicas. As inscrições para o clube podem ser feitas por e-mail (agenda@bsp.org.br) ou no balcão de atendimento da instituição.
E mesmo as bibliotecas universitárias têm clubes de leitura. Na Universidade de Brasília, a Biblioteca Central criou o Clube de Leitura da BCE, idealizado por servidores da biblioteca para criar um espaço de debate e troca de ideias com usuários, entre a comunidade externa, alunos e funcionários da universidade. Lá, o debate mensal das obras literárias acontecem livremente com apoio de mediação de um dos colaboradores da biblioteca. A escolha dos livros é feita em três etapas: a coordenação do clube pré-indica seis títulos seguindo um estilo literário ou um tema específico, que vão para votação no Facebook e no Instagram, e os três livros mais votados são levados para a próxima reunião e os presentes elegem a obra a ser lida na próxima rodada. As reuniões acontecem todas as últimas quintas-feiras do mês, às 12h, e são abertas para quem quiser participar.
Encontros nas próprias livrarias
Na unidade Paulista da livraria Martins Fontes, os clubes de leitura têm programação durante o mês inteiro. Alguns possuem recortes em editoras, focando em obras específicas dos selos das parceiras, como é o caso de Graça e fúria, de Tracy Banghart, da Seguinte (grupo Companhia das Letras). Outros encontros acontecem com temas específicos ou debates sobre autores a partir de uma de suas obras, como acontecerá com o ciclo de leituras sobre Dostoiévski. Para cada reunião desses clubes, há um organizador/mediador, com edições pagas e outras, gratuitas. Para saber mais sobre datas e inscrição, vale acessar o site ou se inscrever por e-mail (auditorio@martinsfontespaulista.com.br).
“Não pense que a Blooks é somente uma loja que vende livros”, diz a livraria em seu manifesto. Tendo como motivação principal a formação de leitores, a livraria busca ampliar o espaço que a prática da leitura tem na vida cotidiana, e o faz em seus clubes de leitura realizados nas próprias lojas. Em Botafogo e Niterói, nas unidades cariocas, o clube de leitura é mediado pela escritora e filósofa Dília Golveia. E o Clube de Leitura da Blooks SP acontece desde 2016 em parceria com a loja com as editoras Boitempo e Aleph, mais focado em obras de ficção científica, tendo a programação do segundo semestre já disponível nas redes sociais da livraria. A agenda de todas as unidades está no perfil da Blooks no medium.
A casa Tapera Taperá, espaço de cultura no centro de São Paulo, já recebeu o Clube de Leitura da Folha de S.Paulo e reuniões em parceria com as editoras Hedra e Boitempo, nos quais livros alternados desses catálogos são discutidos em encontros de entrada livre e franca, todo segundo sábado do mês, sendo que as obras selecionadas são adquiridas na própria livraria. E a livraria também realiza o Bibliotapera, clube organizado pelo grupo, que aparece como uma “cafuza tropical” para que os assíduos leitores possam trocar experiências, compartilhar visões, sugerir obras num espaço propício a “alargar nossa potência e gerar alegria”.