Segundo o levantamento realizado pelo Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), divulgado em agosto de 2018 e publicado no portal Lunetas, há aproximadamente 4 milhões de crianças em situação de refúgio em todo o mundo que não frequentam a escola, dentre os 25,4 milhões de pessoas nesta condição em âmbito global.
Por esse motivo, incentivar o diálogo com famílias, educadores e crianças é fundamental para que essas realidades sejam compreendidas com maior interesse, menos preconceito e, acima de tudo, mais empatia.
Mas como falar com as crianças? Como tratar a infância em situação de refúgio? Qual o papel da escola e das famílias?
Essas perguntas nos trazem uma série de reflexões, mas algo é certo: é imprescindível apresentar o que pensam as crianças diante da situação, e um ótimo caminho é a literatura, que além de tratar o tema com cuidado, coloca os pequenos em protagonismo.
Ilustração do livro Eu sou uma noz, de Beatriz Osés e Jordi Sempere
É justamente o que nos propõe o livro
Eu sou uma noz, de Beatriz Osés (texto) com ilustrações de Jordi Sempere, lançamento da
Escarlate, editora do
Grupo Brinque-Book com catálogo voltado para crianças acima de oito anos.
Omar “cai” no quintal de uma advogada, vindo de um lugar longínquo, num barco-noz que naufragou. Sua tarefa: sobreviver e convencer um juiz de que por ser uma noz, precisa ficar com Marinetti, uma advogada solitária que deseja cuidar dele.
"Eu sou Omar e sou uma noz!"
Quando a realidade é absurda, um menino ser uma noz faz todo o sentido. O discurso do narrador, os depoimentos de Omar e da vizinhança onde ele “caiu”, nos conduzem, com suas múltiplas vozes, nesse conto de renascimento e imaginação.
São 20 capítulos, nos quais a narrativa se alterna: ora uma descrição em terceira pessoa do julgamento em que o juiz quase aposentado da cidade vai decidir se Omar, a noz, pode ou não ficar sob os cuidados de Marinetti.
Ora depoimentos em primeira pessoa das testemunhas do julgamento, que vão dando mais e mais elementos e emoção.
As imagens também se alternam para complementar, de forma diferente, esses dois momentos. Com cores fortes, quentes e vivas, mostram as memórias dos moradores, em primeira pessoa, narradas nos depoimentos. Quer dizer, aquilo que aconteceu no passado recente com eles e Omar e que esta sendo compartilhado.

Em tons predominantemente de azul e branco, mais frias, surgem as imagens dos moradores e vizinhos no júri, no momento presente da narrativa, em que estão contando o que viram ou testemunharam, mas não denotam, aqui, o conteúdo das memórias em si. Interessante notar, ainda, o paralelo com as típicas ilustrações de tribunal.

Nesse mosaico de textos e imagens diversos, é que vamos (re)construindo a história de Omar, um sobrevivente em busca de refúgio, acolhimento, família e uma nova terra, um (re)nascimento.
Sobrevivendo, Omar, trouxe vida a uma comunidade -- como evidenciam as imagens cheias de vida que mostram as memórias dos moradores com Oma -- e revelou não apenas suas origens, mas também a de todos nós: quem nunca teve asas de borboleta, voou feito passarinho ou se sentiu um pêssego ou, quem sabe, nasceu castanha sem saber? O que o garoto crer ser é mesmo o que ele é? Qual, então, nosso lugar de mundo e como as crianças ressignifam suas vivências m situações como a de Omar?
A obra aborda temas atuais como imigração, refugiados, solidariedade, convivência social, identidade e astúcia.
É também obra ganhadora do prêmio espanhol Edebé de Literatura Infantil 2018, cujo júri é composto por educadores e literatos, entre eles a renomada pesquisadora e educadora Teresa Colomer, autora de diversos livros essenciais para quem busca compreender a importância da literatura de qualidade para crianças e jovens.
Eu sou uma noz
Beatriz Osés
Jordi Sempere (ilustrações)
Tradução: Alexandre Boide
Editor Escarlate
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>>Eu sou uma noz está em pré-venda no site da Brinque-Book, com 30% de desconto. Quer conhecer mais sobre o livro? Degustação! Entre aqui e leia um trecho da obra!