Saiba por que as crianças gostam tanto de livros de princesas e bruxas

08/07/2019
Os contos de fadas -repletos de princesas, bruxas e seres mágicos, às vezes assustadores, outras vezes heróicos- acompanham a humanidade há séculos; fazem parte do imaginário coletivo e falam, simbolicamente, das emoções, dos sentimentos e de muitas das mais fundamentais estruturas psicológicas. Princesas e bruxas reinam, tranquilas, na literatura infantil.

Ilustração do livro A princesa e o gigante, de Caryl Hart (texto) e Sarah Warburton (ilustraçã0)

Maria Tatar, especialista em literatura infantil e folclore ligada à Universidade de Harvard, escreveu: "(...) os contos de fadas tornaram-se uma parte vital de nosso capital cultural. O que os mantém vivos e pulsando com vitalidade e variedade é exatamente o que mantém a vida vibrando: angústias, medos, desejos, romance, paixão e amor". Desses e de outros contos clássicos surgem princesas, príncipes, heróis e vilões que, como as histórias que lhes deram origem, falam direto com o imaginário, medos e desejos de pequenos leitores. Até hoje, em leituras e releituras, os livros para crianças continuam recorrendo a esses personagens em suas melhores obras.

Princesas simbolizam crescimento e amadurecimento

  O autor Ilan Brenman, um dos mais importantes da literatura infantil e que tem entre suas dezenas livros  obras amadas como Até as princesas soltam pum! (Editora Brinque-Book), explica que as características simbólicas das princesas é que interessam tanto às crianças.

"São personagens que buscam o melhor de si, que sabem que, para conseguir algo (amadurecer, por exemplo), é necessário muito esforço, sair do seio familiar, seguro e conhecido, para um mundo de aventuras e obstáculos."

  E continua: "A jornada desses personagens reflete o mundo interno da criança, que, ao mesmo tempo quer continuar na segurança do lar e quer também conhecer um mundo repleto de aventuras." Heroísmo, coragem, superação e sabedoria são algumas das características que as crianças procuram nas princesas. A jornada do herói e da heroína é sempre enfrentar um desafio -como uma floresta escura, por exemplo, um dragão, uma bruxa má- e retornar mais forte, vitorioso ou vitoriosa. Portanto, como diz Maria Tatar, "parte do poder dessas histórias deriva não só das palavras como das imagens que a acompanham". Há, escreve ela, uma ação catártica na medida em que, pelo heroísmo das princesas e dos príncipes, derrotamos gigantes, trolls, madrastas más e bruxas. Mas as bruxas também são personagens amadas, certo?

Bruxas nos ajudam a lidar com o medo

  Sim, as bruxas, os ogros e os vilões ajudam as crianças a enfrentar seus medos em um ambiente seguro. Os pequenos sentem-se vulneráveis, frágeis e sabem que viver é desafiador. Isso deixa as crianças bastante assustadas: o monstro embaixo da cama, o bicho-papão no telhado e o choro incontido depois de um tombo deixam claro que o medo é um sentimento que aterroriza os pequenos.

Ilustração de Bruxa, bruxa, venha à minha festa, de Arden Druce (texto) e Pat Ludlow (ilustrações)

É no plano das imagens e, muitas vezes, do inconsciente e do simbólico, que as crianças têm as chances de "trabalhar" esses sentimentos e lidar com eles de forma a se sentirem mais seguras. Porque se o bicho papão assusta, é catártico vê-lo derrotado nos nossos livros preferidos. Não à toa, Bruxa, bruxa, venha à minha festa, de Arden Druce e Patt Ludlow, foi o mais votado numa enquete realizada pela Editora Brinque-Book  que perguntava aos leitores qual era seu livro mais querido. Aqui, escrevemos sobre os motivos dessa legião de fãs. "Lidar com personagens e situações assustadoras na fantasia, no aconchego do colo e do afeto dos adultos,  é um modo de as crianças “viverem” simbolicamente aquilo que as assusta e, assim, elaborarem emoções complexas e desestabilizadoras. Por isso as histórias de terror e perigo e os seres encantados são unanimidades entre elas, quase irresistíveis. Nesse Bruxa, Bruxa, o que não falta são criaturas horripilantes: da bruxa ao fantasma, passando por pirata, lobo, tubarão, coruja. Até o unicórnio, aqui, não fica nada fofo". O trecho acima foi retirado de uma resenha sobre Bruxa, bruxa, publicada pelo Blog da Brinque. Ele resume bem o fascínio das crianças e porque as histórias de medo são tão interessantes para elas. A Cigarra e a Formiga, canal de literatura infantil, também resenhou a obra neste post. A seguir, confira a íntegra da conversa com Ilan Brenman sobre princesas e, em seguida, conheça três livros com a temática de heroísmo ou de medo -com princesas ou seres assustadores- fundamentais para a biblioteca dos pequenos.

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Ilan Brenman fala sobre a jornada das princesas

  [caption id="attachment_2669" align="aligncenter" width="405"] ("O livro secreto das princesas que soltam pum" / Texto: Ilan Brenman; Ilustrações: Ionit Zilberman)[/caption] Blog da Brinque: As princesas e o universo encantado dos reinos costumam exercer um certo fascínio sobre as crianças. Por que isso acontece? Ilan Brenman: Porque elas representam certa beleza de alma e de espírito, elas mostram que, para se tornar uma princesa, ou seja, para amadurecer, virar adulto, é necessário coragem, perseverança, resiliência, uma pitada de transgressão e, principalmente, é necessário enfrentar nossas mais temidas bruxas internas. Por isso, a criançada adora os contos de fada. Blog da Brinque: O que há nas princesas e príncipes que nos fazem admirá-los? Quais componentes simbólicos eles trabalham no desenvolvimento infantil e a partir mais ou menos de qual idade esse passa a ser um tema importante a ponto de mobilizar o afeto dos pequenos? Ilan Brenman: Eu citei acima um pouco das características simbólicas dos príncipes e princesas. Muitas vezes, as pessoas ficam presas apenas ao mundo exterior desses personagens, mas sua representação simbólica é o que importa para a criançada, são personagens que buscam o melhor de si, que sabem que, para conseguir algo (amadurecer, por exemplo), é necessário muito esforço, sair do seio familiar, seguro e conhecido, para um mundo de aventuras e obstáculos. A jornada desses personagens reflete o mundo interno da criança, que ao mesmo tempo quer continuar na segurança do lar e quer também conhecer um mundo repleto de aventuras. Blog da Brinque: Você já contou que se inspira muito em suas filhas para escrever e que, no caso das princesas, sua inspiração veio delas também. De que forma a literatura e os contos de fadas surgiram na sua família, na sua relação com suas filhas, e como as princesas das histórias foram ou são importantes para suas filhas? Ilan Brenman: Elas sempre gostaram de ouvir e ver histórias de princesas, Cinderela foi um hit aqui em casa por anos. Acredito que consegui mostrar para elas todos os tipos de princesas que eu conhecia na época, princesas de vários continentes, princesas tradicionais, princesas vanguardistas, anti-princesas...Essa diversidade, creio eu, possibiltou que elas pudessem se identificar com suas princesas favoritas.

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Conheça três livros imperdíveis e de qualidade com personagens encantados e dos contos de fadas

  Este livro está cheio de monstros Guido van Genechten Tradução: Gilda de Aquino A partir de 2 anos Do premiado Guido van Genechten (O que tem dentro da sua fralda?), esta é uma deliciosa e divertida obra interativa. Antes de deixar a capa para trás, é bom que você saiba: este livro está cheio de monstros, e você pode parar de ler a qualquer momento. Mas se você é valente, prepare-se: tenha por perto alguns itens essenciais como pregadores de roupa, protetores de ouvido e botas de borracha para seguir nessa aventura – divertida e, quem diria, até mesmo fofinha. Com ilustrações ultradivertidas que se assemelham aos desenhos das crianças, cada monstro ganha vida e características assustadoras, como gostar de comer lesmas ou adorar um banho de limo. Deu para sentir o humor? O livro, interativo, anuncia o que as crianças vão ver se tiverem coragem de virar a página. E nessa brincadeira de saber o que as espera, a risada é certa!   O livro secreto das princesas que soltam pum Ilan Brenman (texto) e Ionit Zilberman (imagem) A partir de 3 anos
Muitas coisas no mundo crescem: unhas, cabelos, pés, braços... Laura também cresceu. E quando crescemos, muitas vezes, nos esquecemos de coisas que aconteceram no passado. Ela se reencontrará com o famoso LIVRO SECRETO DAS PRINCESAS, lembranças e novas descobertas mudarão para sempre seu olhar a respeito dos vilões dos contos de fada.  
A princesa e o gigante Caryl Hart (texto) e Sarah Waterburton (ilustração) Tradução: Gilda de Aquino A partir de 3 anos
Em uma vila muito alegre, com árvores magníficas e jardins coloridos, vivia uma princesa irreverente. Seu mordomo? Um ratinho! Sua ajudante? Uma gata. Seu pai? Cozinhava. E a mãe? Lenhas cortava. No quintal, um pé de feijão. E, no alto dele, o que havia? Hum, isso você já deve imaginar: um gigante resmungão! A princesa Sofia não conseguia dormir, e tudo porque o gigante mal-humorado ficava marchando para lá e para cá a noite inteira. Mas, ao ler seu livro preferido de contos de fadas, ela logo teve uma ideia genial.
 
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