Ilustração de Filhotes de Bolso, de Margaret Wild (texto) e Stephen Michael King (ilustrações)
A casa, à primeira vista, pode parecer pouco estimulante. No entanto, o Blog da Brinque conversou com três educadoras, artistas e pesquisadoras e traz novidades: tem muita coisa para fazer com as crianças em casa, especialmente considerando a incrível imaginação, o poder de concentração e os interesses quase infinitos dos pequenos, se no contexto adequado.Espaço para as crianças pesquisarem e brincarem
O primeiro passo para férias divertidas e com crianças concentradas, brincando, é organizar o espaço de brincadeira e pesquisa. Preparar o espaço e o contexto é muito mais que simplesmente delimitar onde as crianças podem brincar. A ideia é, primeiro, pensar em locais e objetos seguros para que as crianças tenham autonomia. "É que é muito desagradável ter que falar 'não' o tempo todo para uma criança e/ou um bebê – 'não põe isso na boca!', 'este não pode pegar', 'este machuca!' – isso torna o brincar enfadonho, tanto para o adulto, quanto para quem brinca" “É muito chato para nós e para os pequenos ter de ficar falando ‘não’ o tempo todo”, diz a artista plástica, atelierista e professora de artes para crianças Helenira Paulino. Então, é preciso preparar um local e um contexto adequados para a exploração e a brincadeira. Não deixar o acaso tomar conta disso, mas planejaro que oferecer, onde e como. Pode até parecer complicado, mas não é.Ilustração de Bom dia, Marcos, de Marie-Louise Gay
Basta levar em conta a segurança e os interesses dos pequenos. Pensando nos bebês, por exemplo, o primeiro cuidado é oferecer objetos grandes, que não possam ser engolidos e que possam ser levados à boca. Tampas plásticas, colheres grandes, recipientes variados costumam agradar. Bebês gostam muito de observar como as coisas funcionam, experimentar forma, cor, textura, tamanho, fazer comparações. “O que orienta a escolha dos objetos é tanto sua forma, cor, textura, peso (enfim as características que podem tornar uma coisa curiosa e cheia de possibilidades), quanto o fato dele não apresentar nenhum risco para a criança. Explico: se for necessário falar “não coloque isto na boca”, não pode entrar na brincadeira!”, recomenda Helenira. Em seguida, é preciso pensar também em uma forma estética para dispor esses materiais. Eles podem estar agrupados por tipo, em cestos ou caixas, e organizados por tamanho. Ou podem estar lado ao lado, no chão, sobre uma superfície uniforme, organizados por cor e tamanho… O importante é que fique claro aos pequenos, só de olhar, que eles podem ser manipulados e que eles são comparáveis. E que foram cuidadosamente colocados ali, que estão bonitos e há uma harmonia e uma lógica entre eles.Água e recipientes: os bebês também brincam e pesquisam
“Acasa é cheia de coisas interessantes para serem pesquisadas, é preciso apenas selecioná-las. O armário da cozinha, que era um perigo, pode virar um cesto infinito de possibilidades. Tampas, potes de diferentes formatos e tamanhos (de plástico, de madeira, de inox), colheres de pau e de metal, tigelas e vasilhas de metal, funis, coadores de chá, peneiras...”, explica Helenira A educadora explica que bebês gostam de pegar os objetos com suas mãos, gostam de observá-los, balança-los, jogá-los, colocá-los na boca... A brincadeira é essa! Se olhar com cuidado, pode perceber que há várias maneiras, por exemplo, como elas pegam as coisas: com as pontas do dedos, agarram, fecham as mãos, tentam ajustar o que já sabem de um objeto para entender um novo. Colocar um dentro do outro, empilhar, organizar, espalhar são outros modos de pesquisa e brincadeira dos bebês. Bebês também gostam muito de brincar com água. Sobre essa materialidade, Helenira sugere o seguinte: “Em casa, é possível organizar algum espaço que possa ser molhado com bacias baixas com água dentro. Objetos variados – como potes menores, bolas, colheres, funis – podem ser colocados ao lado das bacias. Convidem os pequenos para brincar e observem como eles se aproximam desse cenário: será que colocam a mão na água? Tentam entrar na bacia? Jogam objetos dentro dela? Percebem que algumas coisas boiam e outras afundam? Tentam encher e esvaziar potes e colheres com água? Tentam transportar a água nos potes de um local a outro?”Corpo e natureza: brincando com não-brinquedos
Para os bebês e também para os maiores, a natureza pode ser uma ótima aliada na brincadeira.Um bom começo pode ser dar uma volta no bairro – ou, se sobrar tempo, correr até o parque ou a praça mais próximos – e deixar as crianças coletar “tesouros” pelo caminho. Flores e folhas que caíram no chão, pedrinhas, gravetos de diversos formatos e tamanhos. Um verdadeiro baú de tesouros que pode virar infinitas possibilidade de brincadeira em casa. A educadora Ana Carol Tomé, do Ser Criança é Natural, recomenda que, antes de buscar “o que fazer” com esse material em sites e redes sociais, que as crianças tenham tempo e espaço de olhar para eles.Ilustração de A Macaquinha, de Marta Altés
Um graveto, por exemplo, pode ser uma espada, uma varinha mágica, uma caneta, um microfone, uma vara de pesca… Se acrescentar um barbante à brincadeira, é possível construir até casas de fada, casas de boneca, pequenos animais… “A gente pode olhar para a nossa infância e pensar o que fazíamos com aqueles elementos. Comidinha? Jogo da velha? Coleções?”, recomenda ela. Pode não parecer, mas a natureza está em casa também. Tanto na água que sai da torneira e que anima o banho (por que não deixar bacias e potes de variados tamanhos sob o chuveiro, coletando água com a qual as crianças podem brincar depois, no próprio banheiro ou na varanda, no quintal?) quanto nas frutas e alimentos. Sabe o que é uma capoteca? É uma coleção de caroços e sementes.Imagine uma brincadeira-desafio em que as crianças tenham de comer uma fruta diferente por dia, guardar o caroço e organizar numa coleção? Essa coleção pode virar também pesquisa: como plantar cada semente? Onde colocar para que germine? Na sombra? No sol? Qual a frequência de rega de cada uma? Um pequeno pomar plantado, observado e cuidado pelas crianças, cabe até no apartamento. “Einstein já dizia que brincar é um grande experimento científico”, lembra Ana Carol.