Como aproveitar as férias das crianças sem sair de casa

12/07/2019
Está em casa com as crias sem saber o que fazer? Saiba que essa é uma cena comum. A gente adora ter os pequenos por perto, mas é desafiador oferecer a eles, dentro de casa, atividades interessantes, prazeirosas e que os mobilizem, especialmente se eles estão de férias, mas a gente, não.

Ilustração de Filhotes de Bolso, de Margaret Wild (texto) e Stephen Michael King (ilustrações)

A casa, à primeira vista, pode parecer pouco estimulante. No entanto, o Blog da Brinque conversou com três educadoras, artistas e pesquisadoras e traz novidades: tem muita coisa para fazer com as crianças em casa, especialmente considerando a incrível imaginação, o poder de concentração e os interesses quase infinitos dos pequenos, se no contexto adequado.

Espaço para as crianças pesquisarem e brincarem

O primeiro passo para férias divertidas e com crianças concentradas, brincando, é organizar o espaço de brincadeira e pesquisa. Preparar o espaço e o contexto é muito mais que simplesmente delimitar onde as crianças podem brincar. A ideia é, primeiro, pensar em locais e objetos seguros para que as crianças tenham autonomia. "É que é muito desagradável ter que falar 'não' o tempo todo para uma criança e/ou um bebê – 'não põe isso na boca!', 'este não pode pegar', 'este machuca!' – isso torna o brincar enfadonho, tanto para o adulto, quanto para quem brinca" “É muito chato para nós e para os pequenos ter de ficar falando ‘não’ o tempo todo”, diz a artista plástica, atelierista e professora de artes para crianças Helenira Paulino. Então, é preciso preparar um local e um contexto adequados para a exploração e a brincadeira. Não deixar o acaso tomar conta disso, mas planejaro que oferecer, onde e como. Pode até parecer complicado, mas não é.

Ilustração de Bom dia, Marcos, de Marie-Louise Gay

Basta levar em conta a segurança e os interesses dos pequenos. Pensando nos bebês, por exemplo, o primeiro cuidado é oferecer objetos grandes, que não possam ser engolidos e que possam ser levados à boca. Tampas plásticas, colheres grandes, recipientes variados costumam agradar. Bebês gostam muito de observar como as coisas funcionam, experimentar forma, cor, textura, tamanho, fazer comparações. “O que orienta a escolha dos objetos é tanto sua forma, cor, textura, peso (enfim as características que podem tornar uma coisa curiosa e cheia de possibilidades), quanto o fato dele não apresentar nenhum risco para a criança. Explico: se for necessário falar “não coloque isto na boca”, não pode entrar na brincadeira!”, recomenda Helenira. Em seguida, é preciso pensar também em uma forma estética para dispor esses materiais. Eles podem estar agrupados por tipo, em cestos ou caixas, e organizados por tamanho. Ou podem estar lado ao lado, no chão, sobre uma superfície uniforme, organizados por cor e tamanho… O importante é que fique claro aos pequenos, só de olhar, que eles podem ser manipulados e que eles são comparáveis. E que foram cuidadosamente colocados ali, que estão bonitos e há uma harmonia e uma lógica entre eles.

Água e recipientes: os bebês também brincam e pesquisam

“Acasa é cheia de coisas interessantes para serem pesquisadas, é preciso apenas selecioná-las. O armário da cozinha, que era um perigo, pode virar um cesto infinito de possibilidades. Tampas, potes de diferentes formatos e tamanhos (de plástico, de madeira, de inox), colheres de pau e de metal, tigelas e vasilhas de metal, funis, coadores de chá, peneiras...”, explica Helenira  A educadora explica que bebês gostam de pegar os objetos com suas mãos, gostam de observá-los, balança-los, jogá-los, colocá-los na boca... A brincadeira é essa! Se olhar com cuidado, pode perceber que há várias maneiras, por exemplo, como elas pegam as coisas: com as pontas do dedos, agarram, fecham as mãos, tentam ajustar o que já sabem de um objeto para entender um novo. Colocar um dentro do outro, empilhar, organizar, espalhar são outros modos de pesquisa e brincadeira dos bebês. Bebês também gostam muito de brincar com água. Sobre essa materialidade, Helenira sugere o seguinte: “Em casa, é possível organizar algum espaço que possa ser molhado com bacias baixas com água dentro. Objetos variados – como potes menores, bolas, colheres, funis – podem ser colocados ao lado das bacias. Convidem os pequenos para brincar e observem como eles se aproximam desse cenário: será que colocam a mão na água? Tentam entrar na bacia? Jogam objetos dentro dela? Percebem que algumas coisas boiam e outras afundam? Tentam encher e esvaziar potes e colheres com água? Tentam transportar a água nos potes de um local a outro?”

Corpo e natureza: brincando com não-brinquedos

Para os bebês e também para os maiores, a natureza pode ser uma ótima aliada na brincadeira.Um bom começo pode ser dar uma volta no bairro – ou, se sobrar tempo, correr até o parque ou a praça mais próximos – e deixar as crianças coletar “tesouros” pelo caminho. Flores e folhas que caíram no chão, pedrinhas, gravetos de diversos formatos e tamanhos. Um verdadeiro baú de tesouros que pode virar infinitas possibilidade de brincadeira em casa. A educadora Ana Carol Tomé, do Ser Criança é Natural, recomenda que, antes de buscar “o que fazer” com esse material em sites e redes sociais, que as crianças tenham tempo e espaço de olhar para eles.  

Ilustração de A Macaquinha, de Marta Altés

Um graveto, por exemplo, pode ser uma espada, uma varinha mágica, uma caneta, um microfone, uma vara de pesca… Se acrescentar um barbante à brincadeira, é possível construir até casas de fada, casas de boneca, pequenos animais… “A gente pode olhar para a nossa infância e pensar o que fazíamos com aqueles elementos. Comidinha? Jogo da velha? Coleções?”, recomenda ela. Pode não parecer, mas a natureza está em casa também. Tanto na água que sai da torneira e que anima o banho (por que não deixar bacias e potes de variados tamanhos sob o chuveiro, coletando água com a qual as crianças podem brincar depois, no próprio banheiro ou na varanda, no quintal?) quanto nas frutas e alimentos. Sabe o que é uma capoteca? É uma coleção de caroços e sementes.Imagine uma brincadeira-desafio em que as crianças tenham de comer uma fruta diferente por dia, guardar o caroço e organizar numa coleção? Essa coleção pode virar também pesquisa: como plantar cada semente? Onde colocar para que germine? Na sombra? No sol? Qual a frequência de rega de cada uma? Um pequeno pomar plantado, observado e cuidado pelas crianças, cabe até no apartamento. “Einstein já dizia que brincar é um grande experimento científico”, lembra Ana Carol.

Dançar é divertido

Além da natureza, o corpo também é morada lúdica e cheia de possibilidades. Já pensou que dança é muito – mas muito mesmo – mais que ballet ou jazz ou um tipo específico de movimento? Dança é a expressão de um corpo em movimento ou: dança é a arte do movimento, na quakusamos o corpo como forma de expressão”, conta a bailarina, educadora e atelierista Raissa Cintra. Raissa explica que nós somos corpo em movimento e que, nas crianças, o corpo é ainda mais presente. Elas são espontâneas em suas danças, tem um movimento e um ritmo que lhes é particular. Vão entendendo sua forma de dançar e brincar com os movimentos à medida em que vão experimentando novas formas de se mover e sentindo o que esses movimentos provocam nelas”, explica ela. E o que dá pra fazer com o corpo e a dança em casa? Muita coisa! Raissa sugere alguns pontos de partida para a criançada se divertir: Dispor lençóis, lenços, tecidos variados, tudo que inspire movimento e observar como as crianças se aproximam desses “convites”. Em geral, elas adoram ver um tecido “voar” e experimentam movimentos que levem a isso. Esses tecidos podem ser usados também para, amarrados na cintura, simular as saias longas, outros elementos que levam ao movimento – seja em salões de baile, seja nas cerimônias religiosas de grupos como os sufis, em que os religiosos bailem rodando numa espécie de oração. Rodar até sentir uma leve vertigem é outra diversão! As crianças adoram fazer isso. Quer usar música? Ótimo! Que tal propor uma brincadeira em que os pequenos devem dançar ao som escolhido encostando uma parte do corpo? Por exemplo, numa rodada, irmãos devem dançar com os cotovelos juntos. O que será que conseguem fazer?

Referências e arte para ampliar a brincadeira

Quanto mais brincarem, mais fácil será brincar numa próxima vez. As referências ampliam sempre nosso repertório de ideias. Além disso, a arte pode ajudar a ampliar esse repertório, especialmente as que são mais ativas, como os livros, a música, as artes plásticas… Ler com as crianças, deixar livros à mão, colocar sempre um boa música, levar a exposições e selecionar bem os desenhos são cuidados que podem ampliar a imaginação e sugerir novas brincadeiras e novas pesquisas.    
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