O nascimento de um irmão é uma boa notícia: a família vai ganhar mais um integrante e o filho mais velho terá um companheiro para a vida toda. Amor de irmão é daqueles afetos especiais, únicos, uma relação de cumplicidade que dificilmente desenvolveremos com outras pessoas.
Ilustração de A irmã de Gildo, de Silvana Rando
Mas quando os irmãos chegam, nem sempre é fácil lidar com essa que é uma grande mudança familiar. "É delicado para a família toda", diz a psicóloga Mariana Paz. Ao conversar com o
Blog da Brinque, ela contou que as crianças costumam sentir também, especialmente se o primogênito for filho único até então.
"Há uma necessidade de reconfiguração familiar. Descobrir um novo modo de a família funcionar", explica ela - o que tira um pouco a carga do filho mais velho: não é só ele que vai sentir, mas toda a família.
A psicóloga gravou esse vídeo sobre o tema, pontuando que é preciso observar que o que normalmente chamamos de "ciúmes", na verdade, é uma insegurança: o filho mais velho sente-se inseguro sobre o amor dos pais, sem saber se vai continuar o mesmo.
Além disso, explica Paz, os mais velhos também têm uma expectativa em relação ao irmão mais novo. Para eles, ter um irmão vai ser divertido, vai ser fonte de brincadeiras, uma companhia. Na prática, o entanto, não é bem assim, pois, logo que chega, o bebê ainda não pode oferecer ao irmão aquilo que ele gostaria. Os sentimentos são confusos e misturados.
Isso pode gerar comportamentos como: agressividade em relação aos pais, em relação ao irmão, na escola. Pode gerar também comportamentos regredidos e até mudanças no estado de ânimo das crianças, como conta a
psicóloga Daniella Freixo de Faria, aqui. Paz complementa: as crianças podem somatizar, sentindo mal estar, enjoos e outras sensações associadas às emoções. "É preciso observar".
Para lidar com esses fatores, não há uma receita, mas algumas dicas podem ajudar no percurso, que é único de cada família, de cada relação.
Ilustração de A irmã do Gildo, de Silvana Rando
1- Antes da chegada do irmão, envolva o mais velho nos preparativos
A primeira dica é contar ao mais velho da chegada do irmão já na gravidez, dando a notícia de forma clara, mas sem ficar o tempo todo falando sobre isso. Contar com entusiasmo, mas evitar que esse seja o único - ou principal - assunto da família.
Evite demonstrar preocupação com a futura relação entre o mais e velho e o mais novo. Trate o tema com leveza e afeto.
É bacana convidar a criança a participar ativamente dos preparativos para a chegada do irmão e, depois do nascimento, chamá-lo para estar por perto durante as atividades de cuidado do recém-chegado. Mas isso só na medida do que o filho mais velho quiser. Não insista, nem faça comentários ou julgamentos se o primogênito não se animar muito.
2- Acolha os sentimentos do primeiro filho
Recentemente, Thiago Queiroz, do canal Paizinho Vírgula, recebeu Maya, sua terceira filha.
Ele gravou um vídeo em seu canal, que trata de apego e educação positiva, para falar de como a família, que já tinha Dante e Gael, recebeu a nova integrante. Entre as dicas, ele começa com: acolha os sentimentos dos mais velhos, especialmente aqueles considerados "negativos", como raiva, por exemplo.
Ou seja, não julgue nem repreenda quando se o seu filho demonstrar irritação, raiva ou pouca vontade de estar perto do irmão. Você pode dizer coisas como: "Poxa, sei que está difícil para você nesse momento, porque a mamãe não tem tido tempo de levar você à casa do seu amigo com a frequência de antes. É chato mesmo adiar esses planos. Mas confie na mamãe que logo logo vamos conseguir retomar essa rotina".
3- Tente manter a rotina
Mariana Paz sugere, neste vídeo, que, na medida do possível, a família se organize para manter na rotina as atividades mais importantes e prazeirosas para o mais velho. Contar com uma rede de apoio também é bacana: avós, primos, tios e outros adultos com os quais a criança têm vínculo podem ajudar o primogênito a sentir-se amado e querido.
4- Abra espaço para o diálogo e a expressão; nunca diga que "nada vai mudar"
Mariana Paz diz que toda oportunidade à expressão e ao diálogo deve ser aproveitada. Estimule seu filho mais velho a falar como se sente e a demonstrar seus sentimentos. Observe como ele se comporta; durante a primeiríssima infância, os pequenos se expressam bastante através das ações.
Converse, mostre que outras pessoas vivem situações semelhantes à dele, e nunca minta. Não é preciso - nem positivo - dar longas explicações, mas as crianças percebem que tudo mudou e sentem-se ainda mais inseguras se os pais insistem em dizer que "nada mudou".
5- Recorra à arte
O Paizino Vírgula conta que livros, músicas e filmes ajudam nessa tarefa de manter o mais velho confortável com a chegada do irmão. Muitos desenhos mostram a chegada de um irmão na família ou tratam de situações em que há uma insegurança gerada com a chegada de um novo membro no grupo.
E o tema é tratado também na literatura infantil. O elefante Gildo, por exemplo, acaba de ganhar uma irmã, Laura, no novo livro de Silvana Rando,
A irmão de Gildo, lançamento da
Brinque-Book. Na obra, que Silvana dedica a seu irmão mais velho, o elefante experimenta sentimentos contraditórios quando Laura chega em casa.
Ele fica animado, mas também com "frio na barriga". E assim, ele vai contando que, junto com a irmã, tão pequena, chegaram muitas mudanças, visitas e situações que o deixaram assustado e confuso. A expectativa de que Laura seria companheira de aventuras logo foi substituída pela decepção temporária: como alguém tão pequena assim vai brincar comigo?
A ficção pode ser um ótimo ponto de partida para os pequenos se identificarem, verem que não estão sozinhos e que, aos poucos, o novo arranjo se organiza e o saldo será, sem dúvida, positivo e adorável - com todos os desafios que chegam com o aprendizado sobre dividir a atenção dos pais e a rotina da casa.
Clique aqui para dar boas vindas à irmã do Gildo.