Torvelinho de ideias, profusão de artes

02/08/2019

 

"Um espaço capaz de promover o contato livre e experimental com a literatura e as artes." É assim que a escritora e artista visual Laura Erber define seu mais novo projeto: o site Torvelim, que será lançado amanhã em um evento com peça de teatro de bonecos e show de Nina Becker e Alberto Continentino, às 14h, na Sala de Artes da Urca, no Rio. Criado em parceria com o designer e ilustrador Marcus Moraes, o canal voltado para crianças, jovens e adultos tem o objetivo de romper com critérios pedagógicos ou de autoajuda no tratamento da questão da infância. Nesse novo espaço cheio de experimentações, as crianças estarão mais do que convidadas a participar de sua produção, fazendo resenhas de livros, ajudando na escolha de perguntas para entrevistas ou simplesmente opinando sobre algum conteúdo em destaque.

 

Imagem: Divulgação

 

Segundo a idealizadora, não há regras estritas para essa espiral criativa: os assuntos serão variados e os planos que separam arte para criança e arte para adulto, certamente, fundidos. Ela exemplifica adiantando que uma menina de sete anos de idade escreverá sobre David Bowie, de quem é muito fã. "A literatura e as artes têm sido instrumentalizadas de inúmeras formas; quem perde com isso são os espectadores e leitores, de todas as idades, mas, principalmente, crianças e jovens, muitos ficam privados de construir uma relação efetivamente prazerosa e pessoal com a literatura e com a leitura", completa Laura. Torvelim vem, então, para colocar a experiência do leitor e do espectador no centro das atenções. 

Não há porque limitar tal experiência com negações a um espírito curioso. Como a própria criadora do site comenta, a leitura continua depois do ato de ler, "ela se prolonga em conversas, em diversas formas de troca, na própria memória do que foi lido e na escrita. Pretendemos incentivar crianças a escreverem sobre suas formas de ler". Desse modo, uma das seções do site trará produções textuais das crianças. Os mais jovens também poderão colaborar em outras situações, como nos bate-bolas dispostos na seção "conversas". Os dois filhos de Laura, por exemplo, a ajudaram a pensar nas perguntas feitas aos criadores do desenho O irmão do Jorel.

Sobre a relação das crianças com os desenhos animados, a escritora ainda coloca que essa linguagem explora muito bem a intersecção dos universos adulto e infantil. Além de O irmão do Jorel, pensa em outros exemplos como O mundo de Gumball e Hora de aventura. Explica que esses atravessamentos naturais são matéria importante para serem analisados no site. Ela e Marcus pretendem "pensar a infância mais do que como idade cronológica ou fisiologicamente definida e fechada, pensá-la como uma forma de sensibilidade que, com sorte, nos acompanha na vida adulta". 

 

Imagem: Divulgação

 

Neste mês, a escritora se muda para Copenhague, na Dinamarca, e espera que essa diferença geográfica, em relação à Marcus, contribua para enriquecer o conteúdo do site. Trabalharão em duas frentes, cada um em uma cidade. De lá, ela planeja escrever artigos "sobre os parques dinamarqueses pensados como espaços de expansão do brincar tanto para crianças quanto para adultos e jovens e sobre os ateliês artísticos em alguns museus". A troca cultural também é uma ambição para o futuro. A dupla tem o desejo de consolidar a relação entre o contexto brasileiro e o latino-americano. "Teremos de saída uma entrevista com a ilustradora e autora argentina Isol e uma resenha de um livro de Elsa Bornemann, censurado durante a ditadura militar argentina", antecipa Laura. 

A idealizadora destaca que o site não seguirá a agenda de lançamentos das editoras e contará com resenhas de livros publicados há muitos anos – e até daqueles esgotados no mercado. Nessa liberdade de explorar a arte, vale também lembrar como é desvendar um sebo, trazendo à tona o antigo hábito de caçar um livro entre tantos outros empoeirados, contentar-se com uma edição com algumas páginas soltas. "A imagem do torvelinho ativa a ideia de intervir bagunçando e de um rodopio endiabrado, são gestos com os quais nos identificamos e que cabem ao que desejamos nesse projeto."

 

 

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