Um robô no sertão: obra premiada trata de relações na era da tecnologia

15/08/2019

No livro, um dróide tecnológico e um menino do sertão brasileiro desenvolvem uma intensa relação de afeto, descobertas e enfrentamento do desconhecido em abordagem inovadora desses temas

 
  • Obra foi vencedora do prêmio João-Barro de texto literário
  • Tema contemporâneo, do cotidiano dos jovens leitores
  • Narrativa alterna o ponto de vista entre o menino e o robô, ampliando as possibilidades de leitura
  Em 11 de junho de 1997, a engenheira aeroespacial brasileira Jacqueline Lyra, de Pasadena, California, nos EUA, "despertou" o robô Martian Sojourner com uma música brasileiríssima, Coisinha do pai, de Jorge Aragão, Almir Guineto e Luiz Carlos. Era 23h, horário de Brasília, e Martian tinha de começar sua rotina de pesquisa em solo marciano. Ele era parte da missão Pathfinder, da NASA.

Capa da ilustradora Cris Alhadeff

Assim, desse fato inusitado -- e real --, começa Homem de Lata, novo livro da Escarlate, que já chega premiado: recebeu o prêmio João-de-Barro em 2016, na categoria Texto Literário. Na ficção criada por Edson Lopes, um robô, que partiu com destino à Marte, aterrissa com sua nave num local de solo pedregoso e quente. O pouso é mais uma queda que uma aterrissagem, e o robô logo sai à procura de descobrir em que parte de Marte está. Mas vai percebendo que o planeta vermelho não é bem como esperava: há água em estado líquido, plantas, formas de vida e... Sabiá é um menino que mora no sertão com seu pai, Aquariano, e sua mãe, Aurora. É lá, no meio de cactos e caatinga, torcendo pela chuva, mas pedindo que ela não venha muito forte, que Sabiá passa seus dias. Ele viu quando caiu, com força, uma estrela cadente. Até fez um pedido. Que foi atendido. Neste conto que fala das relações na época da tecnologia, Edson Lopes e sua prosa gostosa e bem construída, que vai alterando o ponto de vista narrativo ora para o robô, ora para Sabiá, levam o leitor a perceber dois extremos: a mais desenvolvida e cara produção tecnológica e o mais pobre e ainda rudimentar cenário. Mas extremos que se encontram ao invés de se afastarem. O que acontece quando um menino e um robô se tornam grandes amigos? O afeto e as relações conduzem essa narrativa, que parece nos mostrar que nem a tecnologia nem a dureza nos fazem menos humanos, mesmo se formos de lata. A referência ao clássico personagem de O Mágico de Oz está à altura do personagem: este robô e esse Sabiá têm, cada um a seu modo, corações do tamanho do espaço.    
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