Para reviver afeto, memória e infância

02/09/2019

 

“Uma das coisas que mais me deixam felizes na vida são os encontros, assim como meu encontro com Cecília e Bandeira. Possível através da obra, impossível através do tempo. Os dois não estão mais aqui, e estão. Esses encontros são um tema na minha vida, e eu traçaria meu mapa a partir desses encontros.” 

Na oficina Mar, mapa, memória, ministrada pela autora e ilustradora pernambucana Rosinha, dona de um traço cheio de brasilidade, os participantes mergulham na memória para construir uma peça – seja mapa, seja mar – que traga essa reflexão impulsionada pela literatura de Cecília Meireles e Manuel Bandeira. Pensando em um painel confeccionado a partir das emoções e sensações de alguém, também há poesia ao mostrar tantos encontros como no mapa da realizadora.

 

 

Este encontro promovido pela oficina, que será realizada n’A Casa Tombada, no dia 13, às 18h30, busca uma sensibilização da memória leitora, fazendo uma sessão de leitura dos poemas dos dois autores de modo reflexivo e entendendo os aspectos afetivos marcantes na poética de cada um deles. “É muito claro, na poesia de Cecília, uma intimidade com a morte, com o caronte”, explica a artista. Já a poética de Bandeira traz não só da própria infância, mas as das crianças que ele via brincar nos becos do Rio de Janeiro.

Essa aproximação também motivou a artista na escolha dos dois nomes abordados na oficina. “Eles são muito especiais exatamente por lidarem muito com a memória e com o afeto. E estão muito ligados à minha infância. De formas diferentes, mas muito ligados. Quis fazer esse arremate com a memória porque acredito que também estejam ligados à memória de muita gente”, explica.

 

 

Mar, mapa, memórias e relaciona com dois livros de Rosinha sobre esses importantes autores, O mar de Cecília Minha Pasárgada (Editora do Brasil), também rondando suas memórias e seus afetos: era leitora das obras infantis de Cecília, ganhou Ou Isto ou Aquilo do pai, que, além de ser fisicamente parecido com Manuel Bandeira, gostava muito de ler poesia. E nisso encontra sua principal motivação: “Foi principalmente tentando buscar em mim esse sentimento de afeto e memória de infância que tracei a oficina. Não pretendo na oficina aprofundar a biografia de cada um, mas abordar essa coisa afetiva do que me toca na obra deles. Eu não sou pesquisadora de Manuel Bandeira e de Cecília Meireles, e não é esse meu objetivo. Minha relação nessa pesquisa foi de puro afeto, de pura memória, e é isso que espero conseguir trazer para os participantes”.

Também farão parte da dinâmica relatos dos bastidores do processo criativo das duas obras, da pesquisa dos textos e das imagens, da tessitura do conceito e da arquitetura de cada um dos livros. Em seguida, os participantes, entre professores, bibliotecários, estudantes e leitores, serão estimulados à criação de seu mar ou mapa afetivo, com a elaboração de poemas e imagens. E para catalisar esses fazeres poético e gráfico é que a realizadora traz um entendimento completo da infância, da memória e dos afetos dela e dos dois autores. “Queria que eles percebessem como é que os autores fizeram para criar a obra deles, como eu fiz para criar a minha obra e como eles podem fazer para criar a própria obra, que pode não ser literária, mas qualquer tipo de criação que tenham na vida deles”.

No caso de Rosinha, ilustrar e escrever é esse mergulho interno, num entrar e sair de si mesma: “Essas histórias de afetos, vidas e infâncias, apesar das particularidades, são muito compartilhadas. Quando leio Manuel Bandeira, ele também fala da minha infância. O sentimento, as imagens, a relação com a cidade, com as brincadeiras. Os dois têm uma ligação muito forte com as brincadeiras, com a cultura. Isso passa por uma relação muito forte com todo indivíduo”. 

 

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Mar, mapa, memória: Oficina de poesia e imagem

 

Onde: A Casa Tombada (r. Ministro Gódoi, 109, Água Branca)

Quando: 13/9, das 18h30 às 22h

Quanto: R$ 95

Classificação etária: livre

 

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