O Bináh é um lugar de invenção em arte, educação, literatura e música, entre outras áreas do saber. Criado e dirigido pelo casal de artistas Stela Barbieri e Fernando Vilela, esse espaço localizado na zona oeste de São Paulo é palco de cursos e eventos como o Pororocas - Encontro das águas do conhecimento, verdadeira miscelânea da pesquisa e produção educacional e artística da região.
O Bináh Espaço de Arte nasceu como o ateliê de Stela e Fernando. Mas existia em conjunto a vontade de criar um espaço para encontrar e receber pessoas, ministrar aulas, e realizar cursos, workshops e eventos. A formação de ambos – que atravessa as artes plásticas, gestão cultural e educação – favoreceu um formato miscigenado. “Uma característica desse espaço é que ele é múltiplo. Ao mesmo tempo em que a gente recebe as pessoas, há cursos e encontros, também é um lugar de produção e de criação. É um ateliê vivo, está se transformando o tempo todo. Você tem aulas num lugar onde tem obras de arte prontas ou sendo feitas”, Fernando comenta. “Quando chegam escolas aqui, tem uma equipe trabalhando ali, tem uma pessoa no ateliê... Então existe uma troca nessa convivência muito grande devido à essa característica do espaço”, diz, comentando sobre a história da casa, que, antes de se tornar o ateliê, foi um dos templos da Seicho-no-ie, instituição religiosa de origem japonesa muito presente na capital paulista.
Para articular todos esses entrelaçamentos de ideias e pessoas, os dois diretores selecionam a programação do Bináh alinhando suas motivações e o que move o país, pensando nas “urgências do momento”, como diz Stela: “A gente vai selecionando pensando nas pessoas que a gente gostaria de ouvir e que sente que pode ser vigoroso para outras ouvirem. É muito pelo que nos abala e o que nos é urgente, urgente para o país. A questão da Amazônia é uma questão urgente, então como que a gente dá uma outra escuta para essa questão?”.
Pensando nisso, o Pororocas, evento de destaque na agenda do espaço, ocorrido no dia 12/9, trouxe na temática desta edição uma reflexão sobre as vozes, os ruídos, os sussurros e o silêncio nas suas múltiplas interpretações. Dentre os convidados, a historiadora Silvana Jeha falou sobre a história das tatuagens no Brasil, pensando a tatuagem como uma voz do corpo; o escritor Férrez, trouxe sua voz da periferia, uma voz de deslocamento de lugar; a autora, pedagoga e referência em educação social Bel Santos propôs uma conversa sobre a potência da voz da literatura na relação com as mulheres e o trânsito das pessoas na cidade; e a dupla de artistas Sonora, investigadores das vozes, sons e vivências da Amazônia, realizou uma apresentação musical. “Essas vozes se expressam não apenas na voz, mas também na escrita, no corpo, no imaginário”, diz Stela.
Para valorizar esse entrelaçamento de vozes, formatos e áreas do conhecimento, o Pororocas é um festival que busca pensar como pensam as crianças. “Elas não estão interessadas em qual área do conhecimento estão focando quando estou brincando ou perguntando alguma coisa, elas querem saber, elas têm perguntas”, Stela coloca. “Essas perguntas dialogam com várias áreas do conhecimento, e o que a gente quer aqui, tanto no festival Pororocas, que é para adultos de diversas áreas do conhecimento, ou no Circuito Bináh, um encontro para pessoas de todas as idades, que essa transdisciplinaridade, esse entrelaçamento das áreas do conhecimento esteja posto para que as pessoas experimentem olhar para os assuntos dessa maneira”, completa.
E mesmo sendo uma programação que contempla as reflexões e indagações dos grandes, a ideia é que os pequenos também sejam ainda mais estimulados a pensar desse modo múltiplo, “que as crianças aqui também possam viver isso: o som do lápis riscando o papel, a visualidade dos instrumentos em volta delas sendo tocados, que elas possam viver a ciência, sua estética e sua transformação, e que essas coisas estejam em problematização, em questão e que as perguntas e a curiosidade de todas as pessoas possam estar em relação, que as pessoas possam perguntar e investigar juntas”.
O músico e educador Ari Colares é um dos convidados do Circuito Bináh
O Circuito Bináh é outro destaque da programação da casa, acontece 14/9, “um dia polissensorial de encontros”, com apresentações e ateliês de diferentes linguagens e materialidades, além de comidinhas oferecidas no próprio espaço. A cada Circuito, convidados diferentes propõem uma apresentação – música, teatro, circo ou espetáculo experimental – em diálogo com as propostas de ateliê.
Para a próxima edição, o músico e educador Ari Colares fará uma oficina de percussão em paralelo a uma oficina de colagem de Stela e Fernando. As duas oficinas são impulsionadas pelo compartilhamento dos seus ritmos, e o público é convidado a circular entre elas. Depois, o Circuito segue com uma narração de histórias acompanhada por uma trilha sonora ao vivo. “Uma oficina com uma percussão onde o ritmo acontece tanto na música como também na colagem. Encontros que não são superficiais, mas investigativos. Composição, ritmo, sequência são valores que estão nas artes visuais e na música”, diz Fernando. "E que estão também na literatura, no cinema, em várias áreas do conhecimento. Tem esses feixes de conceitos e experiências que se comunicam com várias áreas, e é isso que nos interessa, essas redes de relações, conhecimentos, perguntas e problemas que vão entrelaçando nossa própria vida nesse momento, nesse país com todas suas questões", completa Stela.
No Circuito Bináh as crianças também estão sempre muito presentes. “A gente gosta muito de integrar as idades, as áreas do conhecimento, as regiões da cidade. Fazer esses entrelaçamentos e entrecruzamentos entre essas diversidades de universos.” Os dois diretores ainda destacam a programação infantil do Bináh: o Berilimbau, um ateliê aos sábados para crianças de todas as faixas etárias, o Escola vai ao Bináh, em que que as escolas podem usar o espaço com a preparação de um ateliê feito especialmente para a aula realizada, o Bináh vai à Escola, no qual Stela e Fernando levam palestras, encontros de leitura, e exposição dos trabalhos. “O Binah é um grupo de invenção, de encontro, de investigação, de aprender, se expressar, conhecer outras pessoas, é um lugar de vivacidade.”
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Circuito Bináh com Ari Colares – Música, oficina e gastronomia
Onde: Binah Espaço de Arte (r. Jamil Safady, 181 ? Vila Romana)
Quando: 14/9, das 14h30 às 18h
Quanto: R$ 60 (inteira), R$ 30 (meia), inscrições pelo e-mail contato@binahespacodearte.com.br
Classificação etária: livre