Por que a obra de André Neves, finalista do Prêmio Jabuti 2019, é tão especial?

20/11/2019
Em resumo Delicadeza, cuidado, infância são algumas das palavras que a obra de André Neves evoca. Trabalho premiado, sensível e que conversa com o imaginário de adultos e crianças Se você está sempre procurando obras de qualidade para seus pequenos, precisa conhecer -- ou conhecer ainda mais -- o ilustrador André Neves. André sabe como ninguém tocar as emoções, sensibilizar, contar uma história e compartilhar sentimentos com simplicidade, verdade e profundidade.

Ele cria mundos habitados com alma; seus livros vão muito além de entretenimento ou obras que falam desse ou daquele tema.

  São, ao mesmo tempo, uma galeria de arte portátil -- para encantar olhinhos brilhantes -- e uma conversa deliciosa e íntima, que fazem da leitura um momento de fruição artística e poética. Não à toa, ele é tão amado e premiado, dentro e fora do Brasil. No exterior, já venceu premiações como Premio Speciale (Itália) e XV Prêmio Internacional de Livro Ilustrado Infantil e Juvenil pela Conacultura (México). Por aqui, levou o Prêmio Jabuti -- um dos mais importantes -- nada menos que quatro vezes:
  • Sebastiana e Severina, editora DCL (Jabuti 2002);
  • Obax, editora Brinque-Book (Jabuti 2011);
  • Tom, editora Projeto (Jabuti 2013)
  • Nuno e as coisas incríveis, editora Jujuba (Jabuti 2017).
  Neste ano, dois de seus livros -- Manu e Mila, da Brinque-Book, e Donana e Titonho, da Paulinas -- integram a lista dos primeiros 10 finalistas do  Prêmio Jabuti na categoria  Ilustração. Embora eles não concorram mais à premiação final, que vai definir o vencedor partindo de uma segunda lista de finalistas, com cinco obras em cada categoria, os dos livros publicados por André em 2019 estão entre os 10 melhores do ano. Preparamos um especial aqui no Blog da Brinque para você conhecer um pouco mais sobre o premiadíssimo autor nas vozes e olhares de duas leitoras da obra dele: Ivana Pirajá, do @meumundonumlivro, mãe, apaixonada por literatura, que tem um canal nas redes sociais e é contadora de histórias. E Cristiane Rogério, jornalista especializada, colunista da Crescer, onde coordena a lista dos 30 Melhores Livros do Ano. Ela também coordena a pós-graduação O Livro para a Infância: processos de criação, circulação e mediação contemporâneos, da Casa Tombada. Perguntamos a ambas por que a obra dele é tão especial. E é isso que você vai conferir e descobrir a seguir:

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>>IVANA PIRAJÁ

Narrativas sensíveis, partes do cotidiano

 

"André Neves é um escritor e um ilustrador de sutilezas, que toca a nossa alma de todos os jeitos.

Seus livros nos encantam com narrativas sensíveis, que fazem parte do nosso cotidiano e que muitas vezes não estamos disponíveis para enxergar. Ele descortina nossos sentidos de uma forma muito especial, conectando textos e imagens lindíssimas, que falam de presença, simplicidade, sentimentos profundos e sobre o conhecimento de nós mesmos. Com um subjetivismo envolvente, as suas narrativas nos conduzem a olhar pra quem somos e para o que isso significa nas nossas relações.

Lá, me reconheço e encontro a criança que mora em mim, cheia de sonhos!

  No livro Manu e Mila, por exemplo, a busca pela alegria se revela na experiência do encontro de duas crianças. Elas enxergam o mundo com simplicidade e leveza, dizendo para a gente que a vida é desse jeito, basta que tenhamos olhos para enxergá-la e apreciá-la. Na obra Tom, André faz a gente viajar por dentro de um menino muito especial e revela, com extrema delicadeza e sensibilidade, a força e o significado da relação desse menino com o mundo que o cerca. Na história, é um deleite ver, ainda, a relação de dois irmãos se fortalecendo por meio do acolhimento e da compreensão das diferenças. Outro livro que nos emociona sempre é Obax, pois conseguimos viajar com ela, como se estivéssemos ao lado dela e de Nafisa na busca pela chuva de flores. Torcemos  por esse encontro, que acontece ao final da história de uma forma emocionante. Lembro-me de que contei essa história para crianças numa praça aqui em Salvador e me emocionei muito, porque Obax sempre me transporta para outro mundo. Lá, me reconheço e encontro a criança que mora em mim, cheia de sonhos! E naquele momento vi nos olhos de cada criança e de seus pais a vibração e torcida por Obax, a compaixão por essa menina tão sonhadora e especial. Por tudo isso, e por tantas emoções e sentimentos que os livros de André proporcionam é que eles fazem parte da nossa família!"

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>>CRISTIANE ROGÉRIO

Livros feitos com a delicadeza de quem pensa no leitor

"O André Neves é uma pessoa e um artista tão importante! Parece que ele está sempre buscando uma delicadeza. Por isso que os temas na mão dele ficam tão poéticos. Porque da história de um brinquedo, da história de um animal, ele pode fazer uma grande história, com muitas coisas para a gente pensar. Ou [a partir] de uma história difícil, de uma história mais profunda, de uma história que diz coisas que a gente acha que as crianças não precisam falar ou ouvir, ele também consegue fazer [uma narrativa] voltada para a infância, mas sempre nessa delicadeza. Quando eu falo delicadeza, não é exatamente o tipo de ilustração ou o traço ou a palavra trabalhada para não ser forte. É uma delicadeza mesmo de pensar no outro. Parece que ele escreve aquilo e vai imaginar como que o leitor de qualquer idade vai pegar a obra e vai falar: "nossa, isso aqui me tocou"! Vejo que, aos longo dos anos, ele sempre vai buscando isso e refinando isso.

É um livro para se ler devagar. Ele nos resgata esse tempo. O André traz a gente para essa parada

  Com o uso dos traços, das cores, pensando quanta cor ele coloca ou quanta cor ele tira, qual é a expressão dos personagens, a luz das ilustrações. Quer dizer, o que tem em cada ilustra que não é só colocar um elemento, mas [pensar em] como isso em conjunto vai dizer alguma coisa assim que você abre a página. Toda vez que pego um livro novo do André, vou fazendo isso, sempre com vagar, porque eu sei que tem muita coisa para me dizer em cada dupla de páginas. Então, vou até o fim, volto... é um livro para se ler devagar. Ele nos resgata esse tempo. O André traz a gente para essa parada. O bonito é porque, na maioria das vezes [a obra dele] vem pela criança. E ele vai pedir essa licença do tempo do leitor. Acho que isso é muito bonito. Como escolher um bom livro de literatura? Quando você abre e percebe que tem algo criativo ali no modo como se arranjou texto, palavra, ilustração, imagens, desenhos, ou colagens, projeto gráfico. Teve um pensamento ali. E com o André, [perceber isso] é imediato. Você pega um [livro] álbum e você sabe que ele dedicou um tempo [na feitura daquela obra]. E [fez isso] para contar uma emoção para a gente. Ele não está cumprindo uma tarefa. Ele está compartilhando com a gente uma emoção de um artista tão sensível que ele é. De um artista que convive tanto com criança. Ele gosta de estar perto da escola, porque gosta de estar perto das crianças".

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E você? Conte para a gente sobre os livros do André de que mais gosta? A caixa de comentários é toda sua!
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