Com uma programação extensa e bastante diversa, a Jornada Pedagógica Companhia na Educação vem, a cada dia, propondo reflexões fundamentais para professores, educadores, bibliotecários e toda a cadeia da educação. Com foco no estímulo à leitura e à formação de leitores críticos, conscientes do seu papel na sociedade, o segundo dia de debates contou com a participação de grandes nomes e, mais que isso, com temas relevantes e essenciais para a formação crítica do leitor. Entre eles, Lilia Schwarcz, Elly Bayó, Inês de Biase, Luciana dos Santos e Mell Brites.
O destaque do dia foi para a diversidade, tema presente tanto na fala da historiadora Lilia Schwarcz quanto na da Elly Bayó, que mostraram a importância de práticas antirracistas na literatura e, ainda, a mesa de práticas de leitura, que trouxe a visão de profissionais que estão em sala de aula, trocando conhecimentos pedagógicos e trazendo para o público grandes oportunidades para o fazer prático. Confira:
Multiculturialidade e práticas antirracistas: o papel do livro
“A educação é o principal gatilho para que a gente possa combater a desigualdade no Brasil.” Foi com essa fala que a historiadora e pós-doutora Lilia Schwarcz começou o debate que trouxe grandes reflexões sobre o quanto a educação e os livros contribuem para uma formação cidadã. Entre os muitos assuntos abordados por Lilia, chamou atenção um que está muito presente em suas obras, que é a urgência da pauta antirracista. “O Brasil é composto por uma maioria minorizada. E essa não é uma história de hoje. O nosso presente está cheio de passado”, relembrou Lilia.
A historiadora ainda trouxe várias imagens que mostram o quanto no país ainda existem marcadores sociais da diferença e, dentro disso, como as imagens são elementos-chave de leitura e linguagem, que também auxiliam na formação do leitor crítico. “O que a Base Curricular pode trazer pra gente é uma outra imaginação para o Brasil. O país ainda se imagina muito como branco, e não é à toa que nossa história é uma história eminentemente europeia, branca e masculina. Ora, se a gente pode criar imagens dos nossos heróis, por que não recriá-los negros? Esse é um dos nossos desafios, e a Companhia das Letras tem o compromisso com a diferença e quer construir cada vez mais um Brasil melhor”, disse ela.
Já na mesa sobre práticas, Elly Bayó, educadora das infâncias na perspectiva das “pretagogias”, relembrou a importância da diversidade no acervo das escolas. Segundo ela, muitas escolas de educação infantil somente reproduzem livros clássicos de contos de fadas e literaturas, que naturalizam as desigualdades e estão centradas em corpos e padrões brancos. “É preciso pensar na multiculturalidade do acervo e quais são as vozes ouvidas no território da leitura da escola, assim como perceber se esse território não está contando uma história única. É preciso colocar a criança na afroperspectiva, ligando-a com a sua ancestralidade e, assim, construir uma formação antirracista”, disse ela.
Lilia Schwarcz: "O Brasil é composto por uma maioria minorizada. E essa não é uma história de hoje. O nosso presente está cheio de passado”
Modelos de práticas de leitura para pensar
O segundo dia ainda foi marcado pelo compartilhamento de experiências reais de práticas de leitura que contribuem para a formação crítica do leitor. Na mesa que reuniu a pedagoga e especialista em leitura Inês de Biase, a pedagoga e orientadora pedagógica Luciana Oliveira dos Santos e Elly Bayó, foram debatidas práticas já aplicadas em projetos e que se mostram como alternativas para o processo de formação de leitores.
Com o tema “A biblioteca e a formação de pequenos leitores”, Inês contou um pouco sobre o projeto de leitura das bibliotecas da Escola Parque. E, para iniciar, a pedagoga lembra sobre a potência da criança em contraposição ao termo pequenos leitores, e reforça que é pensando nessa capacidade que é preciso construir o espaço da biblioteca. “Antes de pensarmos no espaço de leitura, precisamos refletir sobre qual a crença que temos na criança e na infância”, diz ela. Dentro dessa ideia, Inês falou sobre o porquê da leitura, lembrando que o ser humano lê para fantasiar, ser crítico, saber compreender, buscar a beleza, aprender a ser mais humano e, assim, mais compreensivo e menos preconceituoso, ressaltando a empatia que se deriva do processo de leitura.
No que diz respeito ao espaço da biblioteca, a reflexão girou em torno de como transformá-lo em um ambiente acolhedor e estimulante. “São muitos os fatores. É preciso oferecer um espaço com almofadas, tapetes, panos, levando em conta que pensamos sobre o mundo também com o corpo. Ainda, dentro da biblioteca, dispor os livros com as capas de frente, separados por temas, de forma que as crianças busquem com mais facilidade”, diz Inês. A bibliodiversidade também foi outro tema levantado pela pedagoga, que reforçou a importância de oferecer diversidade não só de temas, mas também de tipos de livros. “Livros ilustrados, livros-álbum, de capa dura, de borracha, tudo isso amplia as possibilidades das crianças na sua formação de leitor.”
Neste debate, as convidadas provocaram reflexões sobre qual é o espaço que dedicamos à leitura na escola e a relação dos professores com os livros
Já a pedagoga Luciana Oliveira dos Santos contou sobre o projeto ColibriLê, em que os professores, que são modelos de leitores para as crianças, criam comunidades que comentam, compartilham histórias e, assim, desenvolvem novos leitores. No projeto, é feita a exposição de algumas obras pré-selecionadas, na qual as crianças escolhem os livros e, depois, participam de rodas literárias simultâneas. Essas rodas são realizadas em diferentes espaços da escola e, logo após esse momento de leitura, há um intercâmbio entre alunos e professor. “Essa troca e construção de saberes faz com que as crianças sejam capazes de ter prazer na leitura, compartilhar o efeito que a leitura produz, assim como trocar opiniões, se envolver”, contou ela.
Ao final do debate, Elly Bayó ainda lembrou sobre a importância do espaço de leitura no ambiente escolar. “Uma escola que propõe um ‘cantinho da leitura’ será que está dando o valor merecido para a literatura?”, questionou. A educadora ainda falou sobre como as escolas infantis precisam estar atentas ao território da leitura, desde a ambientação dessa área até a diversidade do acervo e, para isso, também refletiu sobre o papel do professor nesse espaço e nessa prática. “Qual é a relação dos professores com a leitura e a literatura? Quantos professores chegam em casa e buscam na leitura um espaço de lazer? Isso é fundamental para pensarmos na construção dos leitores”, finalizou ela.
BNCC e a Leitura Literária – Educação Infantil
Ainda dentro da programação do dia 21, a psicóloga Ana Lúcia Bresciane falou sobre como é importante compreender a criança como um sujeito de direitos, completo e com suas especificidades. Também falou sobre a maneira com que ela interage com os livros, brinca e interpreta, e como esse processo contribui com seu desenvolvimento. Ana Lúcia trouxe exemplos de intervenções e atividades pedagógicas que propiciam a efetivação dos diretos de aprendizagem no que diz respeito à leitura, à literatura e à linguagem.
Confira no vídeo:
Um percurso pela literatura infanto-juvenil
A mestra em Literatura Brasileira Mell Brites trouxe a questão da ambiguidade que é própria da literatura infanto-juvenil, que abrange tanto as crianças quanto os adultos. Ainda, Mell falou sobre a origem dessa dupla audiência, que tem origem na literatura infantil aplicada ao ensino formal e refletiu sobre a dimensão pedagógica das obras.
Confira no vídeo:
Confira como foram os outros dias da Jornada:
+ Terceiro dia: Diferentes culturas e bibliodiversidade
+ Quarto dia: Os clássicos literários e a formação de leitores
+ Quinto dia: Práticas leitoras para o ensino médio
Leia mais:
+ Jornada Pedagógica: qual o papel da escola na formação do leitor?