Jornada: diferentes culturas e bibliodiversidade

23/07/2020

O termo bibliodiversidade cada vez mais está presente nas discussões que abarcam a leitura e a formação do leitor. E não poderia ser diferente na Jornada Pedagógica Companhia na Educação, que em três dias de programação vem trazendo grandes nomes para discutir temas relevantes no que diz respeito à literatura e à relação que escolas, educadores, professores, pedagogos e, sobretudo, crianças têm com os livros. Nascido na América Latina nos anos 1990, o termo bibliodiversidade tem como objetivo abarcar a multiculturalidade presente nas obras literárias pelo mundo e romper a barreira dos clássicos que representam padrões estéticos e éticos que já não representam a sociedade atual. 

Edson Krenak e Lúcia Hiratsuka participaram de mesa com a jornalista Gabriela Romeu

 

Entre a importância da discussão deste tema, está o respeito à diversidade étnica, cultural, racial, de gênero e de estilos literários, inclusive, que escute diferentes vozes e, assim, auxilie no processo de reconhecimento do leitor. Na mesa que mediou sobre bibliodiversidade, a jornalista Gabriela Romeu bem lembrou as palavras da professora e bibliotecária norte-americana Rudine Sims Bishop, que diz que “os livros sejam janelas que se abram para a paisagem de muito mundos, reais e imaginários, mas que sejam também espelhos, para que os leitores possam se ver representados”. Confira mais detalhes sobre a discussão:

 

(Confira o bate-papo a partir de 2:01:00)

 

Ancestralidades e histórias

O debate que trouxe a bibliodiversidade como base para discutir a diversidade na literatura contou com a participação de dois grandes nomes na área: Lúcia Hiratsuka e Edson Krenak. Ambos contaram sobre seus processos criativos e de que forma a ancestralidade foi o caminho trilhado para entender seus papéis no mundo e, principalmente, no mundo da literatura. 

Lúcia, que até os sete anos somente falava japonês, é autora de diversos livros para crianças e já foi ganhadora do prêmio Jabuti em 2019 com o livro Chão de peixes, da Pequena Zahar. Segundo a autora, seus livros são um reflexo de quem ela se tornou. “Quando a gente entra em contato com a nossa identidade, o nosso trabalho acaba ganhando outra identidade”, disse. Ainda, reconhecer-se num mundo tão diverso é um processo que, muitas vezes, envolve inúmeros questionamentos. “Vivia com minha família no interior de São Paulo, e somente aos 10 anos fui para a cidade e conheci o mundo. No entanto, somente quando fui para o Japão é que eu me percebi brasileira e que, finalmente, percebi que o que eu mais gostava no Brasil é essa diversidade”, conta a autora. E foi nesse encontro consigo mesma que Lúcia contou buscar histórias.  

Lúcia Hiratsuka é autora de diversos livros para crianças e já ganhou o prêmio Jabuti em 2019 com o livro "Chão de peixes", da Pequena Zahar.

 

Num segundo momento, Edson Krenak, descendente dos botocudos, escritor e ativista indígena, conta o quanto a literatura indígena foi a responsável pela sua identidade. Ele, que hoje estuda seu passado e a história do seu povo em Viena, na Áustria, relembra o quanto essa literatura é responsável por tirar o véu da invisibilidade dos povos indígenas e o quanto as histórias são responsáveis por conectar as pessoas com seus passados. “Três coisas definem a literatura indígena: o vínculo das pessoas com as histórias, o território, que define muito a identidade indígena e as histórias”, disse ele. Ainda, Edson falou sobre o quanto as histórias do seu povo são construídas de maneira coletiva, e que nunca é construída por um só autor. “A literatura indígena é uma cerimônia. É uma narrativa na qual não existe a observação, somente a participação e na qual os ancestrais sempre estão presentes”, reforçou. Para finalizar, Edson ainda lembrou a importância de reconhecer que o Brasil não é um país multicultural pela existência de povos indígenas, africanos, europeus, asiáticos, mas sim por, milenarmente, possuir diversas culturas, cada uma com sua linguagem, literatura e mundo.

 

BNCC e leitura literária – Ensino fundamental – anos iniciais

Ainda durante o terceiro dia de Jornada Pedagógica, a pedagoga e mestra em Educação Renata Frauendorf realizou uma contextualização da Base Nacional Curricular e trouxe as concepções de linguagem previstas na BNCC e também outros documentos que dialogam com essa concepção. Com isso, Renata falou sobre práticas de leitura previstas na Base e que acontecem na escola. Confira:

 

Práticas de leitura na escola – Ensino fundamental – anos iniciais 

Na mesa sobre Práticas de leitura na escola, as professoras Andreza Sales e Cristiane Rodrigues de Abreu e a arte-educadora Mércia Maldonado contaram projetos que realizam para formar leitores nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Andreza contou sobre o projeto Leitura Viva, que ela orienta como atividade extracurricular de contraturno desde 2015 na Rede Municipal de São Paulo. Cristiane falou sobre o projeto desenvolvido em Olinda (PE) chamado Prazer de Ler e Mércia falou sobre o projeto Giroletra. Saiba mais:

 

Confira a programação completa:

 

Leia mais:

+ Jornada Pedagógica: qual o papel da escola na formação do leitor?

+ Jornada: diversidade e práticas na formação de leitores

+ Jornada: os clássicos literários e a formação dos leitores

+ Jornada Pedagógica: práticas leitoras para o ensino médio

+ Para refletir sobre a prática da leitura

 

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