Volta às aulas: livros, ideias e reflexões sobre como acolher as crianças

03/02/2021
O que é voltar às aulas em 2021 para os pequenos e pequenas? Como dar sentido e significado a essa experiência tão singular e única, mas compartilhada, do ensino à distância, híbrido? Vamos começar 2021, nas escolas e ao que tudo indica, como terminamos 2020: ensino híbrido, distanciamento social, máscaras, protocolos. Que experiência escolar é essa em que não se pode abraçar os colegas? Com se vincular a crianças sem o contato ou o olho no olho diariamente?

Alegria, reencontro, recomeço. Tudo isso, mas um pouco diferente... Imagem: Poderia, de Joana Raspall (texto) e Ignasi Blanch (ilustrações)

São muitas questões complexas que passam por dois temas essenciais para esse momento: um é acolher os sentimentos (dos adultos e das crianças); outro, ter empatia. Já tratamos um pouco disso neste post aqui, abaixo: https://blog.brinquebook.com.br/sala-de-leitura/volta-as-aulas-presenciais-livros/

Pensando acolhimento e empatia

Para as crianças, a volta à escola pode significar euforia, alegria, reencontro. Mas também medo, estranhamento, dúvidas, readaptação a uma nova realidade e a uma nova forma de estar junto dos colegas, professores, equipe, espaço. "Na minha experiência, o que tenho visto é euforia, claro, mas também alguma confusão. Fico imaginando o que as famílias dizem: 'lave as mãos', 'cuidado', 'não tire sua máscara'... Imagine! São regras absolutamente diferentes das que eram dadas antes", analisa a educadora Celinha Nascimento. Portanto, perfeitamente esperada a confusão. Acolher significa autorizar esses sentimentos, por vezes contraditórios, e tranquilizar as crianças: está tudo bem se sentir assim. Não tem nada errado em sentir esse turbilhão, em estar mais eufórico ou mais quieto ou com dificuldade de se "encontrar" no novo ambiente. Para dar conta de oferecer esse acolhimento é que entra a empatia, pois é preciso que estejamos em dispostos a ouvir as crianças através do que elas nos mostram.

Acolhimento e empatia: é hora de dizer às crianças que tudo bem ser e sentir-se de diferentes modos. Imagem: O crocodilo que não gostava de água, de Gemma Merino

Muitos não conseguem dizem que estão sentindo medo, por exemplo. Que pode ser estranho estar na escola e não poder estar de fato à vontade -- com máscara, distante, com cuidados extras... A neuropsicóloga Danielle Rossini nos lembra que, a depender da idade das crianças, elas têm mais ou menos habilidade em se expressar verbalmente, em nomear o que sentem e se organizar emocionalmente. Sabemos que a pandemia tem causado sofrimento psíquico e emocional nos pequenos. Vale, neste momento de volta às aulas, estarmos atentos para escutar os sinais que os pequenos vão nos dando.

Escutando os sinais

As crianças que ainda estão aprendendo a se organizar, expressar e trabalhar o que sentem, por vezes precisam que nós, adultos, sejamos hábeis em mediar essas sensações, acolher, nomear e, com empatia, compreender a experiência do ponto de vista delas. "Quando falamos em 'escutar' crianças, estamos propondo que o adulto se conecte com todas as formas de expressão que elas têm, com suas falas não-verbais espontâneas. Escutar significa estar atento para estas linguagens simbólicas: a linguagem do corpo, dos gestos, do movimento; as expressões plásticas e musicais; as brincadeiras; e tantas outras 'micro' manifestações", nos conta a pesquisadora, educadora e doutora em Antropologia da Infância, Adriana Friedmann nesta conversa, que trouxemos abaixo. https://blog.brinquebook.com.br/papo-brinque-book/adriana-friedmann-para-ouvir-as-criancas-e-preciso-resgatar-nossa-sensibilidade/ E como fazer essa conexão íntima e sutil com os pequenoss Algumas dicas podem ajudar:

5 dicas práticas para acolher

Separamos aqui algumas ideias para você refletir sobre esse momento desafiador e modos de organizar a experiência:

1. Acolha a si mesmo (a)

É impossível acolher os outros se não fazemos o mesmo para nós. O que gosta de fazerr Quais atividades deixam você mais tranquila (o) e relaxada (o)) Aposte nessas atividades! 
Anote o que tem te incomodado, converse com amigos e familiares e permita-se sentir incômodo, preocupação, angústia, cansaço. É normal, esperado e até saudável sentir-se dessa forma num momento como o que estamos vivendo.

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2. Antecipe e "projete"

Para que você possa estar presente no presente e realmente conectada, flexível às demandas das crianças, é preciso, antes, ter planejado. Parece uma contradição dizer que, para ser flexível e permitir-se ouvir o novo trazido pelos pequenos, um plano mais rígido se faz necessário. Mas não é. Pense na ideia de um leito de rio, que dá contorno para a água fluir... Com  uma rotina e um ritmo organizados, sempre dando espaços entre as atividades, é possível estar tranquila e atenta se os alunos precisarem. Você conhece as crianças. Mesmo que sejam novas crianças. Você sabe o que elas podem querer, do que podem precisar, em que momentos os sentimentos mais fortes podem surgir, assustando ou estressando o grupo. O que fazer com eles nessas horass Vale lembrar que conflito não é ruim. Sem conflito não há relação ou aprendizagem.

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3. Ouça as crianças

Elas estarão mais sensíveis, possivelmente, ao menos nesse momento da nova adaptação, não é mesmoo Os conflitos podem ser maiores, com comportamentos mais desafiadores. Ouça o que está por trás disso: querem afeto, atenção, estão confusass Ouvir não quer dizer deixar que façam o que querem, mas valide os sentimentos. "As crianças têm de falar disso [como as experiências nesse novo modelo, o que anima e o que confunde, como estão se sentindo]. A escola sempre foi o lugar em que os pequenos contavam suas experiências nas rodas de conversa. Não vai ser diferente agora", avalia Celinha. Então vale abrir espaço para dialogar nas rodas, durante as aulas, a partir de livros, tarefas, desenhos...

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4. Crie um ambiente acolhedor

Que tal uma músicaa Uma brincadeira antes de começar as aulass Uma gargalhada gostosa depois de uma gracinha que alguma aluno tenha feitoo Converse com as crianças: como elas gostariam de decorar a salaa Que tal desenhos no murall

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5. Organize uma rotina híbrida com elas

A rotina é essencial para nos organizar. Como as aulas presenciais vão conversar com as virtuaiss Que partes do conteúdo vão transitar de uma pra outraa É essencial fazer esse planejamento e estabelecer uma rotina integrada com a participação das crianças. Na volta às aulas, explique como vão ser as aulas e peça sugestões para construir com a turma parte dessa rotina.

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Para ler com (e para) as crianças

Os livros podem ajudar na conexão com os pequenos e a trazer à tona temas mais sensíveis. Histórias são sempre pontos de encontro, pretextos de conversa, não é mesmoo Vamos trabalhar os sentimentos com as criançass Separamos algumas sugestões:

1) Eric faz tibum

Autora e ilustradora: Emily Mackenzie Tradutor: Gilda de Aquino Temas: Medo / Amizade / Superação / Cotidiano / Criatividade / Imaginação / Coragem / Cooperação Faixa Etária: A partir de 2 anos Eric vive preocupado. O que seriam aqueles barulhos que ele ouve à noitee E se uma aranha estiver escondida dentro de seu sapatoo Experimentar coisas novas também não é com ele. Por sorte, sua amiga Flora sempre inventa um jeito de ajudá-lo a lidar com seus medos.

>>Por que ler:

Esse livro nos mostra que, com muita imaginação e com a ajuda dos amigos, podemos enfrentar mais facilmente os desafios do dia a dia, como esses que as crianças estão vivendo.

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2) O crocodilo que não gostava de água

Autora e ilustradora: Gemma Merino Tradutor: Gilda de Aquino Temas: Respeito às diferenças / Relacionamento familiar / Autoconhecimento / Identidade / Animais / Humor Faixa Etária: A partir de 2 anos (leitura compartilhada) ou 6 anos (leitura independente) A autora catalã Gemma Merino combina texto e ilustrações criativas para contar a história de um pequeno crocodilo que, lutando contra as próprias dificuldades, termina descobrindo quem ele realmente é.

>> Por que ler:

O pequeno crocodilo nem sempre se sentem como esperam que ele se sinta. O tem de errado com elee Nada! :) Uma ótima oportunidade de conversar com as crianças sobre sentimentos e diferenças.

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3) Zeca Zangado

Autor e Ilustrador: Robert Starling Tradutora: Gilda de Aquino Temas: Convivência social / Dificuldade de expressão / Amizade / Cooperação / Relacionamento familiar / Autoconhecimento / Caixa Alta Faixa Etária: A partir de 2 anos Não é justo! Isto não é justo! Zeca é assim: não gosta nada dos planos que as pessoas têm para ele. Quando as coisas não saem como esperado, ele dá sempre um jeito de destruir tudo. Mas será que ele é mesmo "genioso", como gostam de dizer, ou é assim porque ninguém procura saber o que ele quer de verdadee

>>Por que ler:

Essa obra tematiza duas situações comuns e que tem tudo a ver com o que nossa experiência nesse momento: 1) a falta de escuta genuína dos adultos e 2) a raiva -- e a desorganização emocional -- que elas podem gerar na criança que se sente incompreendida ou assustada.

Mais na volta às aulas

A volta às aulas tem sido um tema recorrente no ambiente da educação, você deve estar acompanhando. A mídia especializa, os perfis, os canais de YouTube estão trazendo este tema. Separamos três indicações que podem enriquecer suas reflexões sobre esse momento: um documentário, uma série de posts especializados e uma conversa de especialistas. Bóraó

1) O começo da vida 2: Lá fora

Um outro capítulo do documentário O começo da vida, de 2016, essa obra, que estreou em 2020, nos mostra como natureza, corpo e infância andam juntos. Vale refletir sobre o poder curativo do movimento e do meio natural nas nossas emoções e nas das crianças. Você pode assistir à íntegra neste link, por R$ 14,90. Dê uma olhada no trailer aqui embaixo. https://youtu.be/9yNv6U02W1M

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2) Portal Lunetas

O portal focada em infância está fazendo uma série de reportagens sobre a volta às aulas e sobre a saúde emocional dos pequenos :) Vale olhar com calma por lá. Para cá, trouxemos dois desses posts: https://lunetas.com.br/as-lendas-da-amazonia-na-compreensao-de-mundo-das-criancas/ https://lunetas.com.br/vinculo-entre-escola-e-familia-na-pandemia/

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3) No chão da escola

O Instituto Alana realizou uma série de encontros on-line sobre este momento de volta às aulas, tematizando desde o vínculo escola-família até o acolhimento, passando por uma acurada reflexão sobre o corpo -- as crianças precisam de movimentos livres para estarem sãs. Vale a pena assistir a tudo no canal do Alana. E selecionamos para este post o encontro sobre justamente sobre corpo: https://www.youtube.com/watchav=_R9o9dBBH4c&list=PLwtaWcfcrGsZziFyAyNbWQgcECWtFQg31&index=2

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E vocêo Como tem lidado com esse momentoe Conte para a gente nos comentários.  
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