Como todas as crianças brasileiras, aquelas que vivem nas comunidades ribeirinhas da região da Serra do Amolar, perto de Corumbá, no Pantanal sul-matogrossense, também tiveram as aulas suspensas em março de 2020, quando a pandemia começou. Poucos meses depois, essas crianças passaram por outra experiência muito difícil: viram a região do Pantanal ser castigada por queimadas que carbonizaram quase 30% de um dos biomas mais biodiversos do planeta.

O Pantanal no desenho de João Lucas, de 12 anos, que também escreveu sobre o lugar onde vive

Para conhecer um pouco melhor a vida e as experiências dessas crianças, o Blog conversou por videochamada com alguns estudantes entre 10 e 14 anos, que estão no Fundamental 2 da Escola Bodoquena, da Fundação Bradesco. Para assistir às aulas on-line, esses meninos e meninas têm usado a estrutura de tecnologia e acesso à internet da Escola Jatobazinho, da Fundação Acaia (de Fundamental 1), que é mais perto de suas casas. Sempre às terças e quintas, o barco da Jatobazinho transporta os estudantes de casa para a escola e vice-versa, pelo rio Paraguai.

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De barco para a escola

Uma das meninas, Samara, de 14 anos, mora a uma hora e meia de barco da sede da escola. Danilo, de 12, a meia hora. No dia da nossa conversa, eles chegaram um pouco mais tarde do que o previsto porque o tempo havia mudado e ventava bastante, o que faz a viagem pelo rio ficar mais lenta. Nesse dia, eles fizeram prova de história.

Todas de máscara e um pouco tímidas pela estranheza do contato por vídeo, as crianças contaram que, nessa estação seca, as chuvas têm sido ainda mais escassas e o rio está mais baixo, o que afeta de maneira direta a vida das comunidades ribeirinhas.

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Lalau e Laurabeatriz lançam agora sua homenagem
poética aos animais ameaçados do Pantanal. Leia +.

Elas gostam de brincar de pega-pega, de jogar bola e de pescar, e têm cachorros, gatos e galinhas. Também andam a cavalo e, vira e mexe, encontram animais como cobras, capivaras e, às vezes, até onças. Falaram ainda sobre outros animais que aparecem no livro Brasileirinhos do Pantanal: poesia para os bichos de um paraíso, de Lalau e Laurabeatriz, lançamento de junho da Companhia das Letrinhas, como a tuvira (que é um peixe), o tatu e a arara. No vídeo abaixo, os autores falam sobre o livro:

 

As crianças também enviaram relatos e desenhos para o Blog, contando o que é ser pantaneiro, o que sentiram com a experiência das queimadas no ano passado, o que gostam de fazer, quais seus animais preferidos e outras coisas de criança. Venham!

*A transcrição dos relatos manteve a grafia das crianças, com algumas alterações para facilitar o entendimento.

 

“Como é ser pantaneiro

Morar na beira do rio é muito legal, você ve e admira muitas coisas, como os bichos que aqui vivem, as plantas e outras coisas. No ano passado com as queimadas muitas espécies de animais ficaram difícil de se ver, parte da vegetação ficou coberta por cinsas, muitos moradores ajudaram a combater o fogo teve até treinamentos para bombeiros de incêndios em algumas regiões, também veio caixas com frutas para ser deixadas no mato para os bichos e passarinhos. A pandemia também ajudou a deixar muitos moradores que vivem da isca e pesca sem dinheiro ou sustento, com o fechamento do turismo no Pantanal essas famílias ganharam o apoio da escola e de outros grupos colaboradores da região e até mesmo de fora.”

Samara, 14 anos

 

“Ser pantaneira me orgulha demais!!

Com o pantanal em chamas antes eu fiquei triste e com muito medo.

Morreu muitos animais, principalmente cobras que não puderam fugir.

Eu amo ser pantaneira!!

O que eu mais gosto de fazer é pescar, uma coisa que me distrai bastante é andar de cavalo.

Com essa pandemia eu não to conseguindo estudar direito, e quando estudo eu preciso ir de barco.

Minha matéria preferida é matemática.

Quando eu faço as contas, parece um jogo de encontrar a resposta e eu gosto muito.

Eu tenho 2 irmãos, eles são meu tudo! Bom, as vezes brigamos mas irmão é irmão. Meu animal preferido é a onça, eu já vi duas atravessando o rio.”

Danielly, 14 anos

 

“Ser pantaneiro é um estilo de vida, que passa de geração em geração.

Ser pantaneiro é amar o que faz, respeitar a natureza e nunca se esquecer das suas tradição.

Assim define os amigos do Pantanal, na pesca se envolve no silêncio dos rios e corixo, paciência e exatidão ao pescar.

Eu gosto muito de brincar e de pescar e também eu gosto muito de morar aqui.”

Ana Carolina, 10 anos

 

“Pantanal

Meu nome é Danilo, tenho 12 anos moro no Pantanal. Gosto de brincar de futebol, pega pega, eu tenho uma anhuma bem mancinha, e uma rica um passarinho, lá em casa tenho 4 irmão. No ano passado teve muita queimada, ficou ruim até de pegar isca, tuvira, cascudo, gingum. Moreu muitos animais como tatu, capivara, anhuma, caramujos e outros. O que eu mais gosto é pescar.”

Danilo, 12 anos

“O que é ser pantaneiro

Ser pantaneiro é morar no Pantanal criar animais galinha cachorro gato. Pescar também fazer roça, brincar de jogar bola, andar a cavalo e minha matéria preferida é ciências.”

Jorciney, 12 anos

 

“Ser pantaneiro é pescar viver no ambiente muito bonito. Eu mais gosto é comer peixe gosto de comer fruto gosto de andar montado no cavalo gosto de tirar leite. Quando aconteceu as queimadas eu não via aranquan, araras, a pomba e ficamos sem ar. Mas graças a deus já passou.”

David, 13 anos

 

“O que é ser pantaneiro, ser pantaneiro é ir no campo morar na fazenda ir pescar ir no campo com o cavalo. A queimada queimou várias partes do Pantanal e vários animais morreram e ficou muita fumaça e provocou muitas pessoas que ficaram com falta de ar e destruiu o Pantanal.”

João Lucas, 12 anos

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