Com pouco texto e imagens realistas e cheias de detalhes, a obra de Anthony Browne tem exemplos de alguns dos melhores livros ilustrados de todos os tempos e países, de acordo com as pesquisadoras Maria Nikolajeva e Carole Scott (Livro ilustrado: palavras e imagens, Cosac Naify, 2011).
Um dos mais prestigiados autores contemporâneos de livros infantis ilustrados, Browne tem mais de cinquenta títulos publicados desde a década de 1970, traduções para mais de 26 línguas e foi o primeiro artista britânico a receber o prêmio Hans Christian Andersen.
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O autor Anthony Browne ilustrado por ele mesmo para o livro Um gorila
Aqui no Brasil, a Pequena Zahar publica sua obra - já foram lançados Na floresta (2014), Vozes no parque (2014), Gorila (2015), O túnel (2015), Tudo muda (2016), Histórias de Willy (2017) e o mais recente Um gorila: para aprender a contar (2021).
Os autores Martin Salisbury e Morag Styles (Livro infantil ilustrado: a arte da narrativa visual, Rosari, 2013) afirmam que a “maioria das crianças, mesmo as mais jovens, considera o trabalho de Browne atraente e poderoso, além de engraçado e comovente”. Os pesquisadores ainda atribuem ao trabalho dele “o uso inovador de metáforas visuais na criação de histórias de ricos significados em diversos níveis de narrativas para serem descobertos, tanto por jovens como por adultos”.
Temática de mudanças, conflitos infantis e solidão
Escritor e ilustrador de suas histórias, Browne emociona os leitores por tratar de temas como a solidão, o conflito entre irmãos e as grandes mudanças da vida por meio da perspectiva lúdica e mágica da infância. Para compor essas narrativas, seus livros reúnem surpresas e elementos inesperados, um tanto oníricos e surrealistas, “escondidos” ou deslocados em meio a cenas cotidianas – o que diverte leitores de todas as idades.
Esse é um dos principais traços de suas obras: o leitor busca e descobre, em cada página, detalhes e referências diversas a artistas, contos de fadas, filmes. É impossível passar uma vez só por suas páginas, porque as ilustrações são cheias de camadas e caminhos, que queremos percorrer minuciosamente e que aprofundam a compreensão da narrativa e o deleite com ela.
E, claro, tem os primatas. Seus livros são povoados por gorilas, chimpanzés e orangotangos, ilustrados de maneira tão realista que é como se estivéssemos cara a cara com os próprios animais e seus olhares marcantes e expressivos.
Vamos conhcer um pouco mais sobre essas marcas fundamentais da obra de Anthony Browne?
Gorilas e primatas
Alguns desses elementos mais frequentes são os primatas, em geral, e os gorilas, em particular. Os animais são protagonistas de vários livros do autor por um motivo: “Eu sou fascinado por eles [os gorilas] e pelo contraste que representam – sua força imensa e sua gentileza. Eles são considerados criaturas muito ferozes, mas não são”.
Ao mesmo tempo, o autor já relacionou os gorilas à figura de seu pai: “Ele era um homem extraordinário – forte e confiante por fora, mas também tímido e sensível – um pouco como os gorilas que eu amo ilustrar agora”. Curiosamente, na época do lançamento de Gorila, ele foi mordido na perna pelo bicho enquanto filmava um programa de TV - dentro de sua jaula.
1) Solidão e imaginação infantil
Hannah e seu amigo gorila em Gorila
Gorila conta a história da menina Hannah, apaixonada por esses grandes animais. Ela sempre tenta se aproximar de seu pai, mas ele vive trabalhando. A solidão da menina aparece, por exemplo, na imagem em que ela aparece no cantinho da sala, iluminada por uma luminária e por sua imaginação: ao redor da menina, o papel de parede está no campo da luz e tem flores e borboletas; no restante do cômodo, escuro, o papel tem imagens aterrorizantes. Ela sonha em conhecer um gorila de verdade, mas ganha um boneco de aniversário. No entanto, ele ganha vida no sonho da menina, e a convida para ir ao zoológico, onde ela vê mais gorilas, e ao cinema. Leia +.
2) Família de primatas para contar
Já Um gorila: para aprender a contar, apresenta, em cada página dupla, um tipo diferente de primata, em quantidades que vão de um a dez. São dois chimpanzés, três orangotangos, quatro mandris... Rita da Costa Aguiar, que é pesquisadora da obra de Browne, disse aqui no Blog que o autor "os representa de forma muito precisa na expressão do olhar, na textura da pele, nos detalhes dos pelos e nas combinações de cores. Dá vontade de passar a mão nos pelos para ver se são macios e de entender o que eles estão querendo dizer com a maneira de olhar, se é que eles estão querendo nos dizer alguma coisa". Além das famílias de símios, Browne inclui a si próprio e muitos outros na família diversa e múltipla de primatas humanos. Leia +.
3) Um acontecimento, muitas perspectivas
Vozes no parque, um de seus livros mais encantadores, traz o olhar e a perspectiva de quatro personagens para um mesmo passeio pelo parque, no qual os quatro se cruzam. São uma mãe e seu filho pequeno, um pai e sua filha pequena, além dos dois cachorros dessas duas famílias, que vivem realidades e relações muito distintas e desiguais. E os quatro personagens são gorilas. A voz de cada um deles sobre o passeio revela suas personalidades e formas de encarar a vida, e é representada inclusive por quatro diferentes tipografias. Leia +.
4) Clássicos da literatura infantil
Em Histórias de Willy, o personagem principal é um chimpanzé que faz viagens incríveis e vive as aventuras de grandes clássicos da literatura, como Alice no país das maravilhas, Robinson Crusoé, Peter Pan e O mágico de Oz. O livro é uma homenagem ao poder das histórias e à entrega da imaginação infantil diante delas.
5) Surrealismo para explicar as mudanças cotidianas
Em Tudo muda, o menino Gregório começa a notar mudanças muito estranhas em sua casa num dia em que está sozinho. Entre muitas outras transformações fantásticas que acontecem com objetos de seu cotidiano, uma poltrona vira um gorila, assim como Gregório vê os olhos de um imenso gorila nas duas janelas de uma casa que ele espia por sobre o muro. O que será que está acontecendo ali? Leia +.
(Texto atualizado em 12/04/2022)
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