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Vamos recuperar a floresta?
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Paulo Freire nasceu em 19 de setembro de 1921, em Recife, Pernambuco. Viveu uma infância pobre em Jaboatão. Escreveu as primeiras letras na areia do quintal de casa e tornou-se um dos maiores intelectuais do século XX, patrono da educação brasileira, e neste mês comemoramos seu centenário.
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O educador Paulo Freire (imagem: João Pires|Estadão Conteúdo)
Para ele, o aluno assimila o objeto de estudo através de um diálogo constante com sua própria realidade. Ou seja, o aprendizado não é um acúmulo "bancário" de conhecimento, mas um percurso dialético entre o sujeito que aprende e o objeto que se deve aprender.
Dessa premissa, surgiram não apenas seu bem-sucedido método de alfabetização de adultos, mas também suas ideias mais potentes sobre criticidade e emancipação, a educação libertadora.
Conversamos com a pesquisadora da Cátedra Paulo Freire (PUC-SP) Angélica Ramacciotti, que estuda o educador desde 2008 e defendeu mestrado e doutorado sobre o pernambucano. Conheça, a seguir, os principais trechos dessa conversa:
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Angélica Ramacciotti: Paulo Freire é um clássico mundial. Freire é um dos três teóricos mais citados do mundo, segundo pesquisa da London School of Economics. Homenagens, prêmios, depoimentos, entrevistas e produções a partir do legado freireano crescem a cada dia. Em 2012, foi declarado Patrono da Educação Brasileira. A pedagogia freireana rompe com práticas acríticas, domesticadoras e supera a lógica autoritária da chamada “educação bancária”, considerando todes como sujeitos do processo de ensino-aprendizagem. Na pedagogia freireana, somos produtores do conhecimento, que é mediado pelo mundo. Pela realidade. Realidade esta que buscamos transformar por meio do diálogo, da problematização, caminhando num sentido crítico-emancipatório.
Angélica: O revolucionário método de alfabetização de adultos parte do vocabulário do grupo a ser alfabetizado para selecionar o que chamamos de “palavras geradoras”, ou seja, palavras que além de auxiliar no aprendizado da leitura e da escrita, dão início à discussão da realidade, explicitando a relação entre o processo educativo e o meio social do grupo. Portanto, ao contrário de ensinar a decorar letras e sílabas para juntá-las e formar frases desconexas da realidade de quem aprende, Paulo estimulou adultos analfabetos e oprimidos a partirem do seu cotidiano para darem sentido a ele com a compreensão crítica da palavra, pois “a leitura do mundo precede a leitura da palavra”. O que se desenvolveu, na verdade, foi uma teoria do conhecimento com os processos de investigação, tematização e problematização. Essa teoria contribuiu para a base de políticas públicas em diversos países e tornou Paulo Freire tão reconhecido no mundo.
Angélica: Essa pergunta é importante porque é um equívoco (de alguns) reduzir o pensamento de Paulo Freire a um método de alfabetização; a teoria de conhecimento de Paulo Freire pode ser trabalhada em todos os segmentos. Temos práticas exitosas inspiradas na pedagogia freireana na Educação Infantil, no Ensino Fundamental, no Ensino Médio e no Ensino Superior. Existem muitos trabalhos acadêmicos relatando essas práticas, com suas possibilidade e limites, sobretudo em um país como o nosso que tem uma agenda educacional mercantilista, sucateia a educação pública e dificulta o desenvolvimento da autonomia de professores e estudantes. Entretanto, em meio a tantos desafios, o legado que Freire nos deixa vem avançando em muitas áreas de conhecimento.
BL: O que significa, na ótica de Freire, "educação libertadora"?
Angélica: Vou começar respondendo o que não é. Não significa “ensinar” ideias libertadoras para estudantes. Nada disso. Em Freire, a educação libertadora está relacionada à concepção de ser humano como inconcluso, sujeito a condicionamentos em uma realidade que pode ser mudada. “O mundo não é. O mundo está sendo”, nos diz Freire. Somos, portanto, seres educáveis num mundo em constante transformação. E a educação aqui é concebida como um processo permanente de ação/reflexão/ação que desvela a realidade com o objetivo de transformá-la em direção à dignidade e à justiça social. Nesse sentido, a cultura libertadora é uma contraposição à cultura do silenciamento.
Angélica: Existem abordagens pedagógicas que dialogam com a concepção freireana, compreendendo as crianças como sujeitos no processo de ensino-aprendizagem, respeitando os seus saberes e as suas características individuais, valorizando a importância das múltiplas linguagens, do brincar, e contribuindo para o desenvolvimento da autonomia, trabalhando de forma acolhedora e amorosa, sem abdicar da autoridade docente que não pode ser confundida com autoritarismo. Entretanto, existem abordagens mais “livres” que não dialogam com a concepção freireana na medida em que não apresentam uma intencionalidade clara nos seus projetos e não caminham no sentido de uma educação transformadora. Em Freire, não temos espaço para o mito da neutralidade porque a educação sempre é um ato político.
Angélica: Recentemente, eu fiz a revisão de linguagem do livro “Paulo Freire: a prática da liberdade para além da alfabetização”, de Venício Lima. O autor é um dos pioneiros no estudo da obra de Freire, enfatizando as relações com a cultura e a comunicação. A versão digital está disponível (gratuitamente) em: https://fpabramo.org.br/publicacoes/estante/ Temos uma diversidade riquíssima de produções do Paulo Freire e, também, sobre ele. Só para se ter uma ideia, existem 1.852 trabalhos entre teses e dissertações no portal da CAPES, com o descritor "Paulo Freire" apenas no período entre 1991-2012, segundo levantamento realizado pela Cátedra Paulo Freire da PUC-SP. O Instituto Paulo Freire disponibiliza uma série de livros, filmes e documentários por meio do endereço: www.acervo.paulofreire.org Além disso, temos o documentário Paulo Freire 100 anos, produzido pela TV Cultura:
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