Mo Willems, o criador do Elefante e da Porquinha, celebra a fantasia e a infância

02/03/2022

Mo Willems é um escritor, ilustrador, diretor e roteirista que entende muito bem a forma como as crianças enxergam o mundo e sentem o que sentem. Na coleção O Elefante e a Porquinha, por exemplo, que a Companhia das Letrinhas está relançando e pela qual ele é mais conhecido aqui no Brasil, acompanhamos uma dupla improvável de amigos em situações que podem parecer absurdas e irrelevantes para os adultos, mas que são urgentes, vitais e dramáticas para uma criança – além de hilárias para todas as idades.

 

O que fazer, por exemplo, quando uma cobra pede para brincar de jogar bola com você e seu amigo? Ou quando você é um elefante e não consegue acompanhar passos de dança tradicionais? Ou ainda quando a sua melhor amiga resolve que vai voar? Mo Willems representa nos livros esses momentos cruciais para a formação da identidade e para o fortalecimento de uma amizade, tudo com muito humor.

Não é tarefa fácil, ainda que os livros tenham pouco texto e ilustrações simples. Afinal, os assuntos são tratados com a importância que as crianças merecem e os personagens não estão ali apenas se divertindo e vivendo aventuras, mas enfrentando verdadeiros dilemas -ainda que também aparentemente singelos-, que podem alterar a maneira como se relacionam uns com os outros e a forma como enxergam a si mesmos.

Em formato que lembra os quadrinhos e com fundo branco, as histórias se desenrolam por meio do diálogo entre os personagens, em balões. A tipografia ajuda a compor a intensidade do que é dito, com fontes em cores diferentes, que aumentam e diminuem de acordo com o “tom” usado pelo emissor. Somado a isso, as ilustrações de Mo Willems criam um efeito de humor que é irresistível, em geral criado pelas expressões, gestos e movimentos dos personagens, além das páginas sem texto, que ditam o timing da graça.

Assim, não apenas o conteúdo parece simples, como também sua forma. Mas a simplicidade que o autor alcança com muito trabalho acaba por evidenciar as questões filosóficas que a infância propõe: como brincar com alguém que é tão diferente? Como dizer a verdade sem acabar com os sonhos de quem você ama? Como funciona um livro? O que fazer quando alguém está triste?

Ou seja, Willems não poupa os pequenos leitores da complexidade nem do lado B da vida. Então, os amigos ficam tristes mesmo, porcos realmente não vão voar, cobras podem se machucar jogando bola e o elefante Geraldo não sabe dançar como a Porquinha – mas isso não impede que ele lance seu próprio estilo de dança!

Todas essas características formais e temáticas fazem dos livros do Elefante e da Porquinha grandes aliados das crianças em processo de alfabetização, pois elas conseguem captar as nuances da história por meio das ilustrações e se divertem muito, além de conseguir ler o texto com autonomia. Um perfil do autor na revista The New Yorker conta que os livros de Mo Willems também ajudam crianças com dislexia a ler: pelo pouco texto da fala dos personagens sempre acompanhado de gestos, movimentos e expressões que completam a narrativa e permitem a leitura de maneira integral.

 

Um clássico contemporâneo

Nos Estados Unidos, seu país natal, Mo Willems é um autor best-seller e, apesar da carreira editorial relativamente curta, ele já foi premiado três vezes com a famosa Medalha Caldecott. A primeira delas veio logo com seu primeiro livro, Don’t Let the Pigeon Drive the Bus! (Não deixem o Pombo dirigir o ônibus!, em tradução livre, não publicado no Brsil), lançado em 2003. A coleção do Elefante e da Porquinha começou a ser publicada em 2007 nos EUA, com Hoje eu vou voar!, e já formou uma geração de leitores que veneram os personagens e os livros do autor.

Formado em Artes pela NYU (New York University), Willems já foi comediante stand-up e, entre 1993 e 2002, integrou a equipe de roteiristas da famosa série Vila Sésamo nos Estados Unidos, pela qual foi premiado com o Emmy Awards por seis vezes. Também criou séries de animação para o Cartoon Network e a Nickelodeon. De acordo com o autor, todas essas experiências o ajudaram a saber o que faz ou não as pessoas rirem, habilidade que passou a ser executada em sua carreira de autor de livros ilustrados.

“Mo” é o apelido de Maurice, que desenha e cria histórias desde os 3 ou 4 anos de idade. Como Dav Pilkey, teve professores que menosprezaram suas criações, o que não o desencorajou. Aos 5 anos, fã de Snoopy e Charlie Brown, escreveu uma carta para o cartunista Charles M. Schulz perguntando se poderia ficar com seu trabalho depois que ele morresse. Atualmente, ele é comparado a nomes clássicos da literatura infantil, como Dr. Seuss e Maurice Sendak.

O autor já contou que se identifica mais com o Elefante Geraldo, um pouco mais alarmado e receoso, do que com a Porquinha, que sempre busca mostrar ao amigo que as coisas talvez não sejam assim tão ruins.

E você, já conhece o Elefante e a Porquinha? Com quem será que você se identifica mais?

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