
Viva a floresta viva!
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Certo dia, sem aviso nem alarde, enormes e majestosas baleias resolvem sair do mar e ir para a cidade. Do dia pra noite, elas passam a circular na feira, nos clubes e até nos palcos. Com seus corpos agigantados, não é fácil achar lugar nas piscinas apertadas, encontrar o que comer nas pequenas barraquinhas de peixe, ou caber nos trens apertados do metrô. Mas elas não desistem, e até inventam um espetáculo: “O lago das baleias” (no lugar de “O lago dos cisnes”).
Este é o enredo (hilariante, se não fosse também dramático) do mais recente livro do escritor e ilustrador australiano Nick Bland, A marcha das baleias, que aporta no Brasil pela Brinque-Book.
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Um alerta da natureza, bem-humorado e um tanto inusitado
Com tradução de Lígia Azevedo, trata-se de uma obra que encanta pela simplicidade com que aborda a questão (seríssima) da preservação da fauna marinha. Além disso, o livro se destaca pelo protagonismo infantil: na narrativa, Frida é uma menina que quer entender por que, afinal, as baleias saíram de casa para tomar conta do mundo dos humanos. A marcha das baleias é uma distopia para crianças que narra com bom humor a trágica situação da crise ambiental.
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“O trem agora tinha música ambiente, embora estivesse um tanto apertado. As bailarinas ficaram mais fortes, mas o balé era um pouco menos delicado”, brinca o texto do livro. Ao inverter o ponto de vista do “invasor”, a história convida o leitor a refletir sobre quem invade quem. Afinal, as baleias só deixaram suas casas porque os mares estavam tomados pelo lixo e pela poluição que o homem deixou. Mas quando elas é que resolvem se apoderar do espaço do ser humano, aí sim as pessoas podem perceber a gravidade do problema.
O humor com disposição para o diálogo sobre temas sensíveis é uma marca do estilo de Nick Bland. No Brasil, há 11 livros do autor publicados pela Brinque-Book, entre eles A fabulosa máquina de amigos e O livro errado, ambos integrantes da Lista de Melhores Livros Infantis da Crescer. Além da irreverência, todos eles têm em comum a presença de animais como protagonistas, e também o fato de que despertam a consciência de mundo em leitores de todas as idades, sejam crianças, sejam adultos. Os sete títulos da série dos ursos, que começou em 2014 com O urso pulguento e teve em 2022 o lançamento de O Superurso, são exemplos disso - os demais títulos são O urso rabugento, O urso esfomeado, O urso corajoso, O urso sonolento e O urso barulhento.
Essa facilidade para gerar pronta identificação com as crianças, segundo o próprio autor, vem de algo que todos podem preservar: a intimidade com a infância. Em 2014, Nick Bland contou em uma entrevista ao Blog da Brinque-Book por que escolheu se tornar escritor de literatura infantil. “A principal razão pela qual eu escrevo para crianças é que eu era uma criança quando comecei”, brincou o escritor.
O australiano Nicholas Bland nasceu em uma fazenda, em 1973, e sempre cultivou uma relação de afeto com a natureza e os bichos. Seu lugar de inspiração favorito é em frente ao mar. "Eu relaxo e espero as ideias surgirem", diz.
Conversamos novamente com o autor para conhecer os bastidores do livro novo, A marcha das baleias; e também para saber as novidades de sua carreira, o que mudou de 2014 para cá, o que ele anda lendo e quais são os projetos futuros.
Nick Bland - A maior mudança é o reconhecimento de que os livros ilustrados do passado recente eram, em sua maioria, cheios de rostos brancos e ideias monoteístas. A diversidade estava faltando há muito tempo, e eu mesmo era culpado de não ter essa visão no início da minha carreira.
O público leitor de livros ilustrados cresceu enormemente nos últimos dez anos. Talvez parte disso se deva ao fato de que agora todas as crianças podem se ver em seus livros favoritos (Nick Bland, autor)
Nick Bland - A mudança climática é o maior desafio que a raça humana tem enfrentado, mas a biodiversidade em geral tem sido um ponto cego há muito tempo. Eu vivo na natureza, nos trópicos do extremo norte da Austrália, e estou cercado por um número impressionante de espécies de aves, répteis e plantas.
É da maior importância lembrarmos nossos filhos que a natureza está aí e que está sofrendo por nossas mãos (Nick Bland, autor)
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Em A marcha das baleias, o homem fica incomodado quando os maiores mamímeros do mundo ocupam a cidade. Porém, quem será que invadiu quem primeiro?
Nick Bland - Vou tomar isso como um elogio. Eu não li esse título específico de Shaun Tan, mas posso dizer que adoro seus livros ilustrados. O livro dele e de John Marsden, The Rabbits, me inseriu nos livros ilustrados. Considero uma obra de arte perfeita. Mas se eu tiver que rotular uma inspiração para tudo o que faço, tenho que dizer que foram Os Muppets e a Vila Sésamo. Não consigo pensar em uma maneira melhor de lidar com assuntos pesados ??do que com humor.
Clique aqui para conhecer The Rabbits, livro citado acima por Nick Bland
Nick Bland - Absolutamente. Todas as percepções adultas do mundo são praticamente as mesmas de uma criança, mas com todos os preconceitos e estresses que aprendemos à medida que crescemos, empilhados em cima. Eu só gostaria que fosse mais possível evitar atribuir um gênero aos personagens.
Eu adoro pegar uma situação política e reduzi-la a ser interpretada por animais sem raça e nem religião atrapalhando (Nick Bland, autor)
Nick Bland - Sim, sim e sim!!
Nesta distopia ambiental de Nick Bland, o leitor é levado a pensar nas ações da humanidade com relação à proteção de mares e rios
Nick Bland - Para ser sincero, não sou um grande consumidor de livros infantis. Não tenho filhos, e vivo muito ocupado com o trabalho. Eu amo um ótimo design em todo o espectro das artes, mas gostar de uma coisa que um artista faz quase nunca me leva a gostar de tudo o que ele faz. Ainda assim, adoro ir à Feira do Livro Infantil em Bolonha de vez em quando para ver como é o trabalho dos profissionais.
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Neste livro premiado, a galinha faz amizade pelo celular, mas vai ter uma surpresa com as mentiras que se pode inventar por trás das telas
Nick Bland - Temo finais incongruentes na literatura infantil. Eu sempre me esforço por uma conclusão lógica. Às vezes isso é confuso, mas às vezes é mais realista. Eu realmente prefiro finais com resoluções de conflito. Uma transição no pensamento entre a página 1 e a página 32. E eu acredito em um final feliz para a sociedade. Somos animais sociais e a coisa que temos, nosso sucesso final, é que nos importamos uns com os outros. Nós precisamos uns dos outros.
Esta fase egoísta parece um pouco com uma adolescência para a humanidade. Não podemos ainda ver o tempo em que as espinhas vão embora, mas elas vão. (Nick Bland, autor)
Nick Bland - Para a faixa etária que eu escrevo, meu trabalho principal – e o trabalho de um bom livro ilustrado – é facilitar a interação entre um adulto e uma criança. Oferecer um espaço e um tema para eles se envolverem. Seja no significado mais profundo ou apenas na diversão da história. É muito fácil criar uma boa memória com um livro quando há também os braços, a voz e o calor de um pai, de um avô, de um professor. As pessoas me dizem que amam meus livros, mas eu sei que o que eles amam são os dez minutos que eles passam lendo junto.
O livro vive sua melhor vida naquele momento em que um adulto e uma criança o estão compartilhando. (Nick Bland, autor)
Nick Bland - Algo ambientado no espaço. Os fundos são mais fáceis de pintar.
(Texto de Renata Penzani)
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A emergência climática é real. Não se trata do mundo que vamos deixar para nossos filhos, mas do mundo em que eles já vivem. Como salvá-lo? Como criar uma geração mais consciente?