Por Silvana Salerno
Existem muitas florestas no mundo, algumas bem grandes, como a Amazônia, mas nenhuma igual a ela. Sabem por quê?
Uma das maiores florestas do planeta é a floresta de um tipo de pinheiro chamado conífera. Todas as árvores são iguais, da mesma espécie. É assim a floresta de taiga na Rússia, Alasca, Groenlândia, Canadá etc.
Qual é a diferença delas com a Amazônia? A nossa floresta amazônica é a maior em biodiversidade do mundo.
O que isso significa?
Quer dizer que é a maior floresta com árvores, plantas e animais de espécies diferentes, e não de uma espécie única. Na Amazônia temos castanheiras (que dão a castanha-do-pará, que no Pará é chamada apenas de castanha), seringueiras (a árvore da borracha), palmeiras, açaizeiros (quem gosta de açaí aí?)...
... e a sumaúma, uma das maiores árvores do planeta, que pode chegar a 65 metros de altura! Imagine só, é do tamanho de um prédio de 22 andares! Já pensou? As raízes dela se espalham por 300 metros em redor.
A sumaúma não é só alta, não; ela é muito inteligente também. Na época da chuva, guarda água no seu enorme tronco; quando chega a seca, ela solta a água na terra, numa descarga tão forte que se ouve a dezenas de metros. Dá pra imaginar isso? Ela é generosa, porque reserva água para si própria e para um monte de árvores ao lado dela.
E de onde vem o que eu chamo de “remédios da floresta”?
Adivinhou! Vem das árvores que têm propriedades medicinais.
A floresta é a farmácia dos amazônicos que vivem distante das cidades, na margem dos rios, nas reservas indígenas ou nos seringais.
Quando os portugueses chegaram ao Brasil, os povos nativos já haviam classificado e nomeado os animais e as árvores, e conheciam as propriedades medicinais das plantas. Vejam só:
O óleo extraído da copaíba e da andiroba é usado para dores musculares, inflamações e tosse. A carabapaúba combate a febre, e da árvore amapá se extrai um látex medicinal, conhecido como “leite do amapá”, que fortalece os pulmões.
E da marajá, o que se utiliza? Dessa árvore, seus longos espinhos são usados como flecha. E é bom para gripe. Já o chá de folhas de aroeira é para reumatismo. Como essas, existe mais uma centena de árvores-farmácia na Amazônia.
Vocês viram esses nomes? Carabapaúba, amapá, ipê, copaíba, andiroba, jabuticaba, capim, caju, abacaxi, tapioca, amendoim, pipoca, peteca... todos de origem indígena. E ainda arara, papagaio, capivara, jacaré, jiboia, sabiá, paca, piranha, pirarucu, saúva, urubu, suçuarana e mais um montão
Dá para viver da floresta sem desmatá-la?
Dá, é a resposta!
Os ribeirinhos, que vivem em povoados à beira dos rios, coletam e vendem açaí, castanha-do-pará, cacau, látex, óleo de copaíba, palhas e cipós, mas não cortam as árvores. Com os galhos que caem no chão e os tocos de madeira fazem objetos e brinquedos; as sementes se transformam em brincos e colares. Os indígenas criam abelhas sem ferrão para produzir mel.
Com as hastes que sustentam as folhas de buriti são feitos brinquedos, sem destruir a palmeira. A fibra do buriti é muito leve, por isso as canoinhas e jangadinhas flutuam na água. Depois de descascar as hastes de buriti, eles criam cestas, peneiras e varetas de pipa. Com o miolo das hastes, que é mais firme, são esculpidos bonecos, carrinhos, aviões, casinhas, rádios, televisõezinhas e bichos (jacarés, passarinhos, cobras, onças).
Isso é o que se chama “uso sustentável”: usar sem destruir. Assim, daí a um ano, a árvore vai dar novos frutos que serão colhidos para as pessoas consumirem e venderem.
Drones e GPS para proteger a floresta
Os incêndios na mata e o corte de árvores – que são vendidas para o exterior, onde são usadas para fazer móveis – aumentaram muito.
Em junho de 2022 foram desmatados 1.120 km². Isso significa que uma área quase do tamanho da cidade de São Paulo (1.521 km²) foi desmatada em 30 dias!
Tem outra coisa séria, também! O garimpo ilegal, que usa mercúrio para coletar o ouro dos rios, envenena a água que a população e os animais bebem, porque nos povoados à beira-rio não há água encanada; a água para beber, cozinhar, tomar banho e lavar roupa é a do rio. Várias pessoas estão doentes e muitas já morreram.
Os bichos se cuidam!
Na floresta amazônica, muitas vezes os animais comem plantas tóxicas. O remédio contra essas toxinas é a argila – o barro –, e eles sabem disso. Nos locais da floresta em que existe barro, reúnem-se veados, cutias, capivaras, macacos e aves de todos os tipos, dos passarinhos às araras e aos tucanos. Mesmo os animais que vivem no alto das árvores descem ao chão quando precisam se “desintoxicar”, comem um pouco de argila e se esfregam nela. Pois é, os bichos não precisam de médico!
E nós somos abençoados! Recebemos esse presente, que é a Amazônia – e temos a obrigação de preservá-la e de restaurá-la, também, semeando e plantando, como fazem os povos indígenas.
As pessoas que defendem a floresta criaram o termo “florestania” – a “cidadania da floresta”, e os povos nativos, sempre atentos, estão usando drones, GPS e aplicativos para localizar incêndios e desmatamentos. E eu escrevi o livro Qual é o seu Norte? – Almanaque da Amazônia, para compartilhar as histórias, a riqueza natural, o conhecimento dos povos nativos e muita coisa mais que existe na nossa Amazônia.
Viva a floresta! Viva o Chico Mendes, o Bruno Pereira e centenas de pessoas que combateram a destruição da floresta e foram assassinadas por isso. Queremos nossa floresta viva, com as árvores de pé!
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Silvana Salerno é uma paulistana que adora a sua cidade. Estudou Jornalismo e Letras na USP e especializou-se em Literatura e Artes. Cursou História da Arte em Florença e Mitologia na Grécia. É autora de mais de 25 livros publicados, sendo vários deles premiados. Silvana também realiza oficinas sobre o livro e cursos de escrita criativa.