
Para reviver afeto, memória e infância
Na oficina ministrada pela autora e ilustradora pernambucana Rosinha, os participantes mergulham na poesia de Cecília Meireles e Manuel Bandeira
“Meu quintal é maior que o mundo”, já dizia Manoel de Barros.
Sim, um quintal pode ser muito mais do que um espaço para ver o céu ou cultivar uma horta. Para muitos dos que tiveram a sorte de crescer em uma casa com área ao ar livre, o quintal ficou marcado como um espaço mágico, de exploração, descobertas, brincadeiras e lembranças de um tempo que não volta mais. Não é à toa que muitos livros trazem o quintal como cenário de narrativas afetivas, que resgatam memórias sobre avós, que foram palco de tantas aventuras fantásticas e terreno de cultivar afetos.
A cuíca de painho que ressoava no quintal é uma das memórias resgatadas em Os dengos na moringa de voinha (Brinque-Book, 2023)
Selecionamos livros que têm o quintal como cenário - ou quase como personagem - para alimentar a fantasia e despertar a nostalgia:
Nesta narrativa cheia de afeto, em que as ilustrações nos conduzem por uma atmosfera de sonho e saudade, somos tocados pelos diversos elementos que marcaram a infância das irmãs: a máquina de costura antiga, o filtro de barro… Mas aqui, o quintal é, sobretudo, o chão que sustenta o vínculo e as memórias que unem as duas meninas.
Uma avó e um neto que alimentam uma relação especial - em que as palavras são até dispensáveis. É nos gestos que a avó e o pequeno se entendem e se conectam, tendo o quintal como única testemunha daquilo que só os dois sabem. Uma história carregada de emoção, inspirada nas lembranças do autor com sua avó polonesa, que mal falava inglês, língua nativa de Scott, e morava no galinheiro transformado em casa.
Um menino entediado em um domingo qualquer, desses com almoço demorado na casa dos avós, encontra no quintal o espaço perfeito para criar suas próprias aventuras. Enquanto os adultos estão imersos nas conversas entre um prato e outro, o garoto Martim, com a companhia do cão Fubá, navega no mar revolto, encontra um navio pirata, atravessa desertos, combate dragões… Uma história que convida a encontrar o extraordinário mesmo nos dias mais comuns.
A moringa da voinha, um simples jarro feito de barro, é o fio que puxa todas as lembranças desveladas nesta narrativa sensível. Da cuíca de painho que ressoava no quintal ao cheirinho irresistível da comida feita em casa. Os elementos resgatados nessa jornada por tantas lembranças honram o cotidiano de uma família e celebram os rituais que fazem parte de sua ancestralidade.
Impossível pensar em quintal sem que o nome de Manoel de Barros venha à mente. Neste livro, o primeiro do poeta, são resgatadas brincadeiras e aventuras dele menino, nos transportando para uma infância livre e cheia de beleza e diversão. Das rimas inventivas que falam da menina que brinca no quintal ao menino que tentar levar água na peneira, contemplamos o estado mais puro de ser criança.
Neste quintal tem de tudo. Céu de todas as cores e brilhos. Animais de todos os tipos - de leão a caramujo. Paisagens das mais distintas… onde faz frio ou muuuuuito calor. Mas… espera aí! Parece que alguém andou mexendo nesse quintal. Um livro para nos lembrar que o nosso quintal vai muito além da nossa própria casa, abordando a sustentabilidade de uma forma acessível para os pequenos.
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Na oficina ministrada pela autora e ilustradora pernambucana Rosinha, os participantes mergulham na poesia de Cecília Meireles e Manuel Bandeira
O autor e ilustrador conta como a história também tem certa projeção do que imagina para a infância do filho. Ele também fala do início de sua relação com o livro ilustrado, do trabalho como professor e da importância do ócio
Confira trechos de obras do poeta das infâncias, que deixou um legado de quatro livros infantis e outros 14 para crianças de 0 a 100 anos, publicados pelos selos da Companhia das Letras