Neste segundo volume da trilogia de Javier Marías, Jaime Deza separou-se de Luisa e trocou Madri por Londres, onde trabalha num grupo ligado aos serviços secretos ingleses, que tem por função analisar algumas pessoas para intuir como reagiriam diante de certas situações, com base numa observação: qual seria o rosto delas amanhã.
Neste segundo volume da trilogia de Javier Marías, Jaime Deza separou-se de Luisa e trocou Madri por Londres, onde trabalha num grupo ligado aos serviços secretos ingleses, que tem por função analisar algumas pessoas para intuir como reagiriam diante de certas situações, com base numa observação: qual seria o rosto delas amanhã.
Contar ou calar? Esse dilema, já presente na primeira parte desta trilogia, retorna em Dança e sonho, cuja narrativa está centrada na violência e no medo, que nos agridem cotidianamente. Como observa o pai do narrador, Jaime Deza, ao contar a este os horrores da guerra civil que testemunhou, ouvir o relato talvez seja pior do que presenciar o fato: a imagem do que vimos é mais fácil de apagar, mas a memória "não nos possibilita muita alteração do ouvido, do relatado". Por isso, seu pai calou por tanto tempo essas histórias: para preservar os filhos, a esposa, uma amiga, do seu horror.
Jaime também testemunhou uma brutal cena de violência, que constitui a mais tensa de todas as narrativas que compõem o romance, embora temperada, como sempre, com a ironia característica da prosa de Marías. E sente-se cúmplice desta por ter ficado paralisado de medo e espanto ante a espada ameaçadora erguida por seu chefe sobre um personagem grotesco, numa noite de dança. Em sua consciência, fica martelando pelo resto daquela noite: até que ponto se pode levar a violência? Pode-se justificá-la?