O conto sintético e contundente de Antonio Carlos Viana transforma o leitor em espectador. Com a objetividade de uma câmera, a narrativa não recua diante de nada.
O conto sintético e contundente de Antonio Carlos Viana transforma o leitor em espectador. Com a objetividade de uma câmera, a narrativa não recua diante de nada.
Antonio Carlos Viana é um mestre da técnica de atirar o leitor dentro da narrativa, como se o envolvimento com a leitura fosse um acontecimento na vida de cada um. De repente, somos postos diante de um jovem que acabou de matar sua mãe. Ou de um homem alquebrado cujo trabalho é limpar as cabines individuais de um cinema pornô. Ou de uma adolescente pobre que só consegue tratar dos dentes em troca de favores sexuais a um dentista abjeto. Esses e outros abusos da vida humana são os temas privilegiados pelo autor em Cine privê. Com o uso frequente da narrativa em primeira pessoa, Viana adota o ponto de vista de personagens que normalmente estão condenados à invisibilidade.
Neste volume de contos, Viana se aprofunda ainda mais no estilo tenso e cortante de seus livros anteriores. Um de seus princípios mais rigorosos é jamais submeter seus personagens a julgamentos. A ficção ilumina a vida, mesmo sem poder consertá-la: "Nem sempre a lucidez é remédio", reconhece o narrador. No fundo, os temas reais de Viana são as perdas e as lutas da vida de cada um - sobretudo a perda da dignidade pessoal ou a luta para preservá-la, mesmo nas condições mais sombrias.