Retrato do Brasil (1928) é o celebrado e polêmico ensaio do principal organizador e financiador da Semana da Arte Moderna. Inaugurando um gênero que daria vasta prole entre a intelectualidade brasileira dos anos 1930 e 40 o ensaio de interpretação do Brasil , Prado fustigava os otimistas e apontava, com notável capacidade de evocação do passado, a origem histórica dos entraves que tolhiam o desenvolvimento da nação.
Retrato do Brasil (1928) é o celebrado e polêmico ensaio do principal organizador e financiador da Semana da Arte Moderna. Inaugurando um gênero que daria vasta prole entre a intelectualidade brasileira dos anos 1930 e 40 o ensaio de interpretação do Brasil , Prado fustigava os otimistas e apontava, com notável capacidade de evocação do passado, a origem histórica dos entraves que tolhiam o desenvolvimento da nação.
O modernismo brasileiro muito deve à atuação francamente anticonformista de Paulo Prado. Herdeiro de uma das famílias mais ilustres de São Paulo, ainda moço completou sua formação intelectual em Paris. Bonito, elegante, rico, esportista e culto, o jovem Prado impressionou Eça de Queirós: "Menino, tu és uma perfeição humana!", exclamou o escritor português.
Nos anos 1920, para espantar o tédio da São Paulo provinciana, o então dirigente de um dos maiores grupos privados do país reunia em torno de uma mesa farta artistas que se projetavam, como Villa-Lobos, Di Cavalcanti e Brecheret, grupo esse que se destacaria na Semana de 1922, organizada graças ao estímulo desse discreto mecenas.
Bibliófilo apaixonado pelo período colonial, o já cinquentão Paulo Prado iniciou seus estudos do passado brasileiro sob a orientação do grande historiador Capistrano de Abreu, com quem recolheu documentos raros, e publicou e republicou relatos dos primeiros cronistas. Depois de lançar a coletânea de ensaios Paulística (1925) - reeditado pela Companhia das Letras em 2004 -, Prado arriscou uma empresa de maior envergadura: um ensaio interpretativo que fustigava o entusiasmo dos ufanistas e expunha as mazelas nacionais, acumuladas ao longo de quatrocentos anos de exploração, conformismo e desmandos. Assim surgia em 1928 o Retrato do Brasil. Numa época e num lugar em que os autores custeavam a edição de seus livros, que raramente tinham esgotadas suas modestas primeiras tiragens, Paulo Prado surpreendeu-se com o enorme sucesso de seu ensaio, que teve três impressões consecutivas.
Esquecido por mais de vinte anos, o livro foi reeditado em 1997, sob a coordenação de Carlos Augusto Calil. Também às vésperas do século XXI, o pequeno ensaio provou guardar seu potencial de motivar polêmicas, tendo gerado diversos artigos na imprensa. A presente edição - baseada na de 1997, que teve o texto minuciosamente revisto pelo organizador - foi complementada com resenhas que o livro recebeu nas últimas décadas. Foi também ampliada a coleção de cartas trocadas entre Paulo Prado e seus principais interlocutores, e incluída a seção "Outros retratos do Brasil", que reúne textos dispersos do autor de Paulística. O apelo veemente à modernização do Brasil e a denúncia dos males da política ainda hão de reverberar como questões candentes (e irresolutas) ao leitor de hoje.