Encerrando a trilogia sobre o México, Juan Pablo Villalobos cria um ambiente farsesco em torno de velhos aposentados e tece uma crítica mordaz à vida em sociedade.
Encerrando a trilogia sobre o México, Juan Pablo Villalobos cria um ambiente farsesco em torno de velhos aposentados e tece uma crítica mordaz à vida em sociedade.
A rotina de Teo não está nada fácil. Aos 78 anos, acaba de se mudar para um prédio decadente cheio de anciãos. É recebido com pompas à altura de seu papel de escritor, embora nunca tenha escrito um único livro. Passa os dias entre as fofocas nos corredores, nutrindo desejos eróticos pela síndica e calculando quantas cervejas pode beber diariamente às custas de um pecúlio que deve durar até a sua morte. Em vidas em que nada acontece além de varizes à mostra, refluxos e baratas por todo lado, o grande evento do prédio é uma tertúlia literária, cujos participantes se impuseram o desafio de ler os sete tomos de Em busca do tempo perdido, intercalando Proust com aulas de modelagem com miolo de pão e ginástica aeróbica - tudo organizado pelos moradores, "convencidos de que a aposentadoria era um segundo jardim de infância". Herdeiro do temperamento artístico do pai, um pintor fracassado, Teo tenta se adequar aos perigos do cotidiano, como matar baratas no elevador com cuidado para evitar balanços bruscos, citar trechos da Teoria estética de Adorno para fugir de conversas embaraçosas e espionar o segredo de um restaurante chinês que, apesar de sujo, consegue manter as baratas do lado de fora. E sempre, sempre tentando convencer os novos amigos de que não é - e nunca foi - um escritor. Não. Pra dizer a verdade, este livro não é nada isso. Te vendo um cachorro trata de uma mãe e de um vendedor de tacos obcecados por cães. Ela para aplacar a solidão; ele para lucrar um pouco mais com o seu negócio. É também a história de um garoto que herdou, não se sabe se por destino ou talento, a taqueria do tio e, com ela, a técnica de preparar tacos à base de filés caninos... Mas é possível que o cerne desse romance seja mesmo ironizar os desejos sexuais, a velhice, a vida adulta, a juventude, a literatura, os religiosos, os críticos, os leitores e o México. De concreto, sabemos apenas que o herói do romance é de uma integridade singular, e isso fica bastante claro quando tentam lhe atribuir mais uma vez um passado mentiroso, desmerecedor de sua história: "Pode-se saber do que estou sendo acusado? De ser escritor? Pois eu me declaro inocente!". "O recurso da farsa de Villalobos não deixa pedra sobre pedra." -- El País "Seu terceiro e brutal romance confirma o autor com uma voz única da nova literatura mexicana." - Matías Néspolo, El Mundo