Engenheiro que se tornou historiador, Taunay (1876-1958) pesquisou a literatura dos séculos XVII e XVIII e reuniu num só livro os animais fantásticos que assustaram os primeiros brasileiros.
Engenheiro que se tornou historiador, Taunay (1876-1958) pesquisou a literatura dos séculos XVII e XVIII e reuniu num só livro os animais fantásticos que assustaram os primeiros brasileiros.
Um peixe que tem pedras no lugar dos miolos, um peixe-monstro que não tem intestinos, um molusco que menstrua como as mulheres, um gambá cujo fedor deixa um homem ou um cavalo desacordado durante três ou quatro horas, os porcos monteses que têm o umbigo nas costas e que cometem suicídio coletivo, um lagarto que se alimenta de vento, um lagarto que envenena as frutas a um simples toque, um filhote de onça que rasga o útero materno ao nascer, uma onça marinha que é metade jaguar e metade peixe, os javalis que respiram por um buraco no dorso: as feras são muitas e assustadoras.Afonso d'Escragnolle-Taunay (1876-1958) apresenta em Monstros e monstrengos do Brasil uma compilação paciente e detalhista da fauna fantástica brasileira. Sua fonte é a literatura que se escreveu sobre o Brasil desde o descobrimento, incluindo clássicos como os Diálogos das grandezas do Brasil, documento anônimo do século XVII, e livrinhos como a Narrativa impressionadora das extraordinárias aventuras e sofrimentos de seis desertores da artilharia da guarnição de Santa Helena no ano de 1799, escrito por um certo John Brown.O trabalho de Taunay tem um mérito em especial: transformar o "imaginário sobre o Brasil em instrumento superior de conhecimento", como escreve Mary Del Priore, organizadora deste volume.Distantes da corrente que na mesma época inaugurava na França a história das mentalidades e da cultura, seus escritos trazem uma ironia divertida em relação ao objeto e um empenho em separar o joio do trigo, em desmontar as "invencionices", em triar a verdade. Ao mesmo tempo, entretanto, há neles uma simpatia pelos relatos dos antigos, uma predisposição para tratá-los como documento. Isso basta para que ocupem um lugar pioneiro e permanente na historiografia brasileira.