Black Music é o segundo romance do jornalista, escritor e cronista carioca Arthur Dapieve, colunista do jornal O Globo. O autor constrói uma narrativa dentro da favela sem, no entanto, resvalar na mais do que batida literatura da miséria. Em vez disso, nos oferece outra visão. Perturbadora, sim, mas também delicada e bem-humorada. Um ônibus escolar está descendo uma rua sinuosa de um bairro carioca quando é interceptado por um carro em que estão três Bin Ladens. Um deles salta do veículo, entra no ônibus segurando uma Uzi e pergunta, com uma voz rouca: - Maicon Filipe? Depois dessa cena, a vida de três pessoas nunca mais será a mesma. Um deles é Michael Philips, garoto de 13 anos que sabe tudo de jazz e basquete, mas quase nada de sexo. Por trás de seu sequestro está He-Man, traficante de 17 anos que sonha em se tornar o maior rapper do Brasil. Ele coleciona namoradas no morro e uma delas se chama Jô, de 16 anos, que aprendeu a maior parte do que sabe conversando com uma irmã ex-prostituta e ouvindo os funks de Tati Quebra-Barraco. Em comum, os três protagonistas de Black Music, segundo romance do jornalista, escritor e cronista Arthur Dapieve, só têm mesmo a certeza do que querem na vida. E uma rotina logo se estabelece entre eles. Enquanto o pai do americano não paga o resgate, He-Man fica encarregado de aterrorizar Michael (ou, como ele diz, Maicon). Cabe a Jô limpar e alimentar o sequestrado. Aos poucos, no entanto, começa a surgir um vínculo entre os três. Uma ligação marcada por sensações conflitantes, até proibidas. Sonhos são revelados e, por alguns breves momentos, compartilhados. A raiva e o medo dos que estão em campos opostos dão lugar a sentimentos menos sombrios, como amizade, compaixão e, quem sabe?, amor. "Apesar do cenário, do enredo e das imagens bastante violentas, este não é um mais um livro sobre violência, sobre a miséria nas favelas. Minha intenção aqui foi justamente mostrar como a violência pode interromper, cortar futuros e sonhos. Ao mesmo tempo, para revelar o absurdo de tudo isso, inverti papéis e criei uma fábula, na qual o rico é negro e o bandido é louro", explica Dapieve.