Retratos imorais é um livro inquietante; sua primeira impressão é a do choque. Ronaldo Correia de Brito se distancia de suas obras anteriores, amplifica as tensões íntimas de Galileia para criar uma coleção de contos cheia de fúria, de dor, que vibra com uma força criadora pouco vista na literatura brasileira. Divididos em três seções, como a exposição de retratos numa galeria, os contos nos mostram figuras de homens e mulheres despedaçados, assombrados pela memória e pelo impacto do presente. Mãe e filho numa relação obsessiva, um garoto que sonha o grande mundo, um cirurgião que no momento crítico se sente paralisado. No conto que dá título ao livro, um homem lancinado no leito hospitalar, arrependido da vida violenta que levou até então, nos atira no abismo. "Meu nome é Claudiney Silva. Num álbum de fotografia que hoje folheio horrorizado, apareço abraçando uma menina. É minha filha." Suas imagens, suas frases, seus personagens desconcertam, mas nos levam a um domínio mais profundo da literatura, que atinge a essência de cada um de nós.