O doutor Otávio Benildo Rocha Venturoso sempre levou uma vida rígida e reta. Primeiro, a infância dura e pai autoritário; depois, aluno aplicado na faculdade de medicina em São Paulo e a certeza de se tornar um doutor de destaque em Sergipe, sua terra natal. Mas, na casa dos 50 anos, sua carreira não só estacionou, como parece andar para trás. Depois de uma empreitada catastrófica ao tentar abrir uma clínica com sócios pouco recomendáveis, voltou a assumir um pequeno consultório em uma região decadente de Aracaju, onde tem cada vez menos pacientes. Em sua vida pessoal, dr. Rochinha - como é mais conhecido - passa também por uma espécie de crise. Solteiro convicto, apaixona-se por uma prima, Analice, que parece ser tudo, menos confiável. Ele sabe que, ao se aproximar dela, se aproxima também de uma parte da família que prefere vê-lo pelas costas. Seu desejo, no entanto, depois de tanto tempo reprimido, tornou-se incontrolável, e o leva a cada dia mais perto de uma armadilha. Enquanto espera a data do casamento, o dr. Rocha remói o passado e o presente. E, imobilizado pelas dúvidas, aguarda seu incontornável destino. Em Caderno de ruminações, como em seu romance anterior, Sob o peso das sombras, Dantas desloca o cenário do sertão para a cidade, do passado histórico para o presente, em uma Aracaju decadente, loteada por políticos, à mercê de poucos poderosos, que definem o sucesso ou o fracasso de seus habitantes. Ao narrar os infortúnios de um médico corroído por dúvidas e remorsos, Dantas continua a explorar as possibilidades da linguagem, mas de forma distinta do que fez em seus primeiros livros - Coivara da memória e Os desvalidos, elogiados por nomes como José Paulo Paes, Alfredo Bosi e Raduan Nassar. Mesclando de maneira original a linguagem coloquial à formal, ele intercala passagens irônicas ao drama de um personagem que remói sua condição estagnada e, como uma figura trágica, é incapaz de escapar de seu destino.