Em um romance elogiado pela crítica e marcante na produção contemporânea brasileira, Francisco J. C. Dantas retoma em Os desvalidos a tradição consagrada por Graciliano Ramos e Guimarães Rosa, ao mesmo tempo em que atualiza a cultura popular nordestina, relendo tanto a sua literatura - a narrativa oral do cordel e dos exemplários, o gênero dramático da jornada - quanto os seus temas, como a migração, a desvalia e o cangaço. Os desvalidos dá voz aos pobres-diabos, aos rejeitados, que sobrevivem na periferia entre o nascente capitalismo da década de 1930 e o ancestral mundo latifundiário. Anti-heróis que abrem seu caminho com as próprias mãos: Coriolano, Tio Filipe, Maria Melona, Zerramo e o lendário Lampião se ancoram no único lema capaz de lhes dar orgulho e dignidade: o de ser patrões de si mesmos. Lançado originalmente em 1993, Os desvalidos é considerado um retorno de qualidade à linguagem regionalista do sertão nordestino. Com a capacidade de Dantas em trabalhar as temáticas de sofrimento e rusticidade com a linguagem apurada que se assemelha a de clássicos como Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, a obra demonstra a vida sertaneja sob o cangaço, a miséria e o esquecimento, através de personagens notáveis.