Muitos caminhos literários para trilhar

08/08/2018

 

Com tantas opções de leitura, que tal um guia para não se perder? Pois foi nesta semana que a Câmara Brasileira do Libro (CBL) lançou, em parceria com a Comunidade Educativa CEDAC, o Itinerários de leitura, na Bienal Internacional do Livro de São Paulo. Voltado a mediadores e leitores, o material traça rotas de leitura a partir da temática da descolonização.

 

 

Apesar do foco na literatura, o Itinerários de leitura dialoga com outras linguagens artísticas, como o cinema, a música, o teatro e as artes visuais. Elas ampliam a experiência estética do leitor e o ajudam a fazer conexões entre as obras. "Foram selecionados livros com qualidade literária, que possibilitassem a imersão nesse universo e que pudessem trazer uma outra visão de mundo", explica Sandra Medrano, formadora de professores em língua portuguesa no CEDAC.

Mediadores de todos os tipos, como familiares, professores e bibliotecários, podem seguir o itinerário do jeito que desejarem. No mapa, as obras sugeridas são divididas em gêneros discursivos (romance, livro álbum, história em quadrinhos, conto/novela e ficção científica) e em territórios (brasileiros, latinos, indígenas, africanos, outros territórios reais e imaginários), que podem guiar ou não os leitores.

"Foi nesse cruzamento entre os gêneros e os territórios que definimos os livros, seja porque a narrativa se desenvolve nesse território, seja porque o autor ou a autora é originário desse lugar", conta. Assim, se um leitor decidir seguir o caminho de territórios brasileiros, por exemplo, terá contato com as seguintes obras: O cortiço, de Aluísio Azevedo (romance), Da ponte para cá, dos Racionais MC (música), Um dia, um rio, de Léo Cunha e André Neves (livro álbum), Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna (teatro), Dois irmãos, de Fábio Moon e Gabriel Bá (história em quadrinhos),True rouge, de Tunga (artes visuais), As caravanas, de Chico Buarque (música) e O sol na cabeça, de Geovani Martins (conto/novela).

 

 

O lançamento do Itinerários de leitura, distribuído em versão impressa pela Associação Brasileira de Difusão do Livro (ABDL) para o Brasil inteiro, também contou ainda com uma palestra inspiradora de Bel Santos Mayer, coordenadora do Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário (Ibeac) e gestora da Rede LiteraSampa, que buscou respostas para a pergunta: quem são os responsáveis pela formação de leitores?

Na Bienal do Livro, com milhares de livros espalhados por muitos estandes, ela falou da importância de formar leitores sustentáveis, aqueles que seguem lendo por toda a vida. “As pessoas vão abandonando a leitura ao longo do tempo. E com tanta obra significativa para ler, assim como mostra este evento, não dá para entender por que se abandona a leitura.”

Citou o artigo 227 da Constituição de 1988: "É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão".

Para Mayer, a leitura pode e deve ser uma porta de entrada para que esses direitos da criança e do adolescente sejam assegurados. Não deve ser artigo de luxo, algo que se pode conseguir após conquistados os direitos básicos da educação e da dignidade, mas uma ferramenta para alcançar a justiça social.

Lembrou, então, que a tarefa de formar leitores é endereçada a um plural de pessoas, que incluem o Estado, a família e toda a sociedade. A formação leitora, como ela defende, é um processo constante que envolve toda uma comunidade leitora, um ambiente de acesso a livros de qualidade, momentos de leitura coletiva e contato com autores reais, vivos. Para se criar leitores, é fundamental desenvolver a ideia de pertencimento a uma comunidade leitora.

Tudo isso é um ato político. "Formar leitores é também político, uma política de transformação das realidades. Se não estou no mundo simplesmente para me adaptar a ele, mas para transformá-lo, se não é possível mudá-lo sem um certo sonho ou projeto de mundo, devo usar toda a possibilidade que tenha para não apenas falar da minha utopia, mas participar de práticas. Se acreditamos que a leitura é transformadora, que ela é necessária, como levamos a leitura para todas as outras políticas que existem?" Mais do que formar leitores, ela convocou: “Precisamos transformar leitores”.

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