Por Júlia Moritz Schwarcz
Quando começa o mês de dezembro, a Alice monta e enfeita a árvore e a Zizi liga a playlist temática encabeçada pelo Frank Sinatra e sai assando ginger bread, panetone e – sinal dos tempos atuais - cookie vegano; logo a Ary [Aryane Cararo, editora do Blog da Letrinhas] me pede mais um texto de final de ano para o Blog (olha uma tradição nascendo!) e então baixa o Natal em mim. Bate aquela onda de nostalgia que faz a gente começar a pensar no ano, no que marcou e no que faltou, em mais um ano de muito trabalho, mais um ano vivido em casa. Longe dos colegas e de frente para o Teams, olhando para a minha própria cara, com aquele pano colorido no fundo, mas, mesmo assim, um ano de muita troca com gente querida, dedicada aos livros e autores, só gente que adora o que faz e cuida uma da outra. Não conheço muito do mundo além-Companhia, mas não consigo imaginar que existam pessoas mais bacanas do que as que trabalham com livros.
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Ilustração: Bicho Coletivo
Afinal, não tem objeto mais humano do que esse, que reúne um punhado de ideias e pensamentos que saíram da cabeça de uma pessoa e vão habitar a de outras. Livro, o objeto mais antigo sobrevivendo em sua forma original, porque é o objeto que mais representa o ser humano. Algo vivo, como o nosso pensamento, sempre aberto ao novo e aprendendo com o diálogo. Algo que amplia o nosso universo, que é fonte de prazer, nos apresenta coisas que nem imaginávamos existir, e nos faz sentir exatamente o mesmo que alguém outro sentiu.
Lendo um livro este ano descobri que o superpoder do Homo Sapiens é exatamente o de contar e ouvir histórias. Histórias que nos fazem projetar um futuro imaginado e nos ajudam a acreditar em um projeto em comum com outras pessoas, e assim nos permitem colaborar em grandes grupos. Sim, histórias movem a humanidade e fazem muita imaginação virar realidade.
Em mais um ano de poucos abraços e muita tela, os livros foram necessários para nos ajudar a voltar o olhar para dentro, para questões mais ou menos existenciais, que fazem a vida ter sentido. Foram os grandes companheiros na hora de suprir a necessidade de se entender para conseguir conviver melhor consigo mesmo (afinal, você é seu melhor amigo, sabia?). Ainda bem que uma história é suficiente para a vida fazer sentido. Ainda bem que existem os livros para nos fazer viver mais e mais histórias. Como minha mãe disse outro dia, um livro é como um sinaleiro brilhante nesses tempos tão difíceis que vamos vencer e ultrapassar. Que venha um novo ano cheio de histórias boas.
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Júlia Moritz Schwarcz é publisher dos selos infantojuvenis da Companhia das Letras