Por Gabriela Tonelli,
editora da Companhia das Letrinhas

Nasci nos anos 90, assim como a Companhia das Letrinhas (que é apenas um ano mais velha do que eu), e cresci em uma casa em que o principal móvel na sala era uma estante de livros repleta de exemplares que pertenciam ao meu bisavô, ao meu avô, ao meu pai… e, com o tempo, a mim também. Afinal, como diz o ditado: “Filho de peixe, peixinho é”.

Passar a infância rodeada de histórias fez com que eu reconhecesse desde cedo alguns detalhes dos livros, por exemplo, o selo da editora. E, com isso, logo desenvolvi algumas preferências. Como os livros de uma determinada editora dos quais logo virei fã. Talvez tenha sido algo de família mesmo. Deve ter sido um caminho natural para o meu pai, leitor da Companhia das Letras, me apresentar aos livros da Letrinhas. Daí vem aquele outro ditado: “Tal pai, tal filha”.

O patinho realmente feio (e outras histórias malucas), de Jon Scieszka e Lane Smith, foi o primeiro livro que li sozinha, do frontispício ao colofão, sem ajuda de nenhum adulto. Ganhei de presente do meu tio no meu aniversário de sete anos e desde então nunca mais me esqueci das histórias. Me senti importante ao ler aquele livro inteirinho sozinha. Podia ler quando e quantas vezes eu quisesse. Até hoje eu canto o trecho “Corre, corre, corre! Corre e não me pega, seu passo é muito lento, eu sou o Homenzinho do Queijo Fedorento” quando estou com pressa. Como dizem por aí: “Quem canta seus males espanta”.

Conforme fui crescendo, a Letrinhas não deixou de fazer parte da minha vida de leitora. Era o estande que eu visitava toda Bienal do Livro (junto com Cia das Letras e a própria Companhia das Letras) desde a minha primeira ida à feira em 2004. Era a prateleira da livraria que eu checava constantemente no shopping perto de casa. E era o futuro que comecei a desejar para mim.

Na época do vestibular, a ideia de trabalhar com livros me atraía cada vez mais. Especificamente com livros infantis e infantojuvenis. Por isso decidi estudar editoração. E, na primeira semana de aula na universidade, quando uma professora perguntou para a turma por que tínhamos escolhido aquele curso, eu respondi: “Meu sonho é trabalhar com livros infantis. Se possível, na Companhia das Letrinhas”. Anos depois, “Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”. Alguns sonhos de criança (e de gente mais crescida) se realizam, sim.

Os cinco livros que a Gabriela criança recomendaria (e que a Gabriela adulta continua recomendando)

1. O patinho realmente feio (e outras histórias malucas), de Jon Scieszka e Lane Smith

2. Lá vem história e Lá vem história outra vez, de Heloisa Prieto e ilustrações de Daniel Kondo

Minha primeira autora favorita que soube reconhecer pelo nome foi a Heloisa Prieto. Quando a encontrei no elevador da editora pela primeira vez, fiquei tão emocionada que nem consegui cumprimentá-la! Anos mais tarde tive a felicidade de poder contar para ela como foi importante para minha formação leitora.

3. Vice-versa ao contrário, de vários autores com ilustrações de Spacca

Vi esse livro em uma lista de recomendações da revista Barbie. Desde então procurava em toda livraria. Até que achei (e me apaixonei).

4. Uma cor, duas cores, todas elas, de Lalau e Laurabeatriz

Li para a aula de artes da escola e me apaixonei. Foi o livro que mais gostei de ler na escola e lembro com carinho da escultura inspirada no poema “Dourado” que fiz com uma das minhas amigas mais próximas da época.

5. Tem um cabelo na minha terra!, de Garry Larson

Não lembro porque eu e meu pai tivemos que ir ao shopping nessa ocasião, mas lembro da alegria ao entrar na livraria Nobel e poder escolher um livro para levar para casa, mesmo não sendo uma ocasião especial como aniversário ou Natal. O final me faz gargalhar até hoje.