Antologia de contos de um dos mestres da ficção científica. Os universos imaginários criados pelo autor são uma forma de questionar o contemporâneo, projetando desenlaces para problemas atuais - superpopulação, desigualdades sociais, manipulação genética - ou atemporais - a busca de Deus, das origens, o sentido da existência.
Antologia de contos de um dos mestres da ficção científica. Os universos imaginários criados pelo autor são uma forma de questionar o contemporâneo, projetando desenlaces para problemas atuais - superpopulação, desigualdades sociais, manipulação genética - ou atemporais - a busca de Deus, das origens, o sentido da existência.
No conto que abre esta antologia, um casal adota um andróide de cinco anos; David quer conquistar o amor da mulher que o adotou e, para isso, tenta descobrir aquilo que o tornará humano. Segundo Brian Aldiss, "por trás dessas charadas metafísicas há uma história simples: a de um menino que nunca foi capaz de agradar à mãe".Por mais de vinte anos, Stanley Kubrick tentou adaptar essa "história simples" para o cinema. Aldiss e Kubrick queriam fazer o filme de ficção científica definitivo. Steven Spielberg retomou o projeto e, batizando-o como A. I. - Inteligência Artificial, programou a odisséia de David, o menino biônico, para o ano apropriado: 2001. No prefácio, o autor conta como foi a experiência de trabalhar com Stanley Kubrick."Acho que a ficção científica deve provocar uma sensação de desconforto. É preciso acontecer algo que transforme o mundo de maneira radical, e não obrigatoriamente para o bem da humanidade", declarou Brian Aldiss a uma revista francesa. Nesta antologia, o autor atinge seu objetivo com perfeição. Cria universos imaginários para melhor questionar o contemporâneo, projetando desenlaces para problemas atuais - superpopulação, carência de alimentos, desigualdades sociais, manipulação genética, globalização - ou atemporais - a busca de Deus, das origens, o sentido da existência, o lugar do homem no universo, o livre-arbítrio, o tempo.O autor também faz uso de velhas lendas da mitologia, de clássicos da literatura e da história recente para a criação dos contos. Assim, as mulheres aladas de "Apogeu de novo" são mistos de esfinge e sereia; "Nada na vida jamais é o bastante" tem um tom de tragédia shakespeariana; "A velha mitologia" conta a história antes de Adão e Eva; a fábula esotérica "Steppenferd" poderia ser uma metáfora da invasão chinesa do Tibete; o mito de Orfeu e Eurídice alinhava "Sociedade tenebrosa"; quando David se pergunta, em "A. I.", se é real, lembramo-nos de Blade runner e Pinóquio; em "III", a indiferença do funcionário que relata o meticuloso massacre de outros mundos ecoa a convicção dos funcionários nazistas: "Apenas cumprimos ordens". Cada conto é uma amostra de concisão e criatividade.Com uma delicadeza de sentimentos surpreendente para o gênero (a ficção científica costuma ser uma literatura de idéias, não de sentimentos), o autor elabora visões que continuam assombrando nossas pálpebras muito tempo depois de terminada a leitura.